Eleições

Candidato de direita desiste na Bolívia e fortalece frente contra nome de Evo

O candidato de direita usou suas redes sociais, neste domingo (11), para anunciar que resolveu retirar sua candidatura

Quiroga anunciou a desistência nas suas redes sociais - Reprodução Facebook

O ex-presidente da Bolívia Jorge "Tuto" Quiroga (2001-2002) anunciou que desistiu de tentar voltar ao cargo na eleição do próximo domingo (18). O candidato de direita usou suas redes sociais, neste domingo (11), para anunciar que resolveu retirar sua candidatura e que não irá mais disputar o pleito.

"Não tenho possibilidade de chegar à Presidência, por isso declino de minha candidatura. Tenho na alma uma profunda dor e uma enorme angústia. Tenho diferenças com outros candidatos, mas espero que atuem para derrotar o MAS", afirmou ele, se referindo ao Movimento ao Socialismo, o partido do ex-presidente Evo Morales.

"Por menor que seja o risco de o MAS voltar ao governo, neste próximo 18 de outubro devo fazer tudo o que esteja ao meu alcance para evitar isso", completou ele. A justificativa de Quiroga é muito parecida à da presidente interina do país, Jeanine Áñez, que também desistiu de sua candidatura em 18 de setembro "para não fragmentar o voto da direita e evitar uma nova vitória do MAS".

Quiroga é um conhecido crítico de Evo, e passou a maior parte da gestão do ex-presidente (2006-2019) apontando para as denúncias de corrupção contra o governo. No ano passado, quando Evo obteve a permissão do tribunal constitucional para disputar um quarto mandato -o que é proibido pela Constituição, que só permite uma reeleição- Quiroga disse à Folha de S.Paulo que não se candidataria porque, "se o fizesse, estaria respaldando uma fraude, uma eleição ilegítima".

Após a renúncia de Evo, em novembro do ano passado, Quiroga apoiou a controversa decisão que levou Áñez, então segunda vice-presidente do Senado, ao comando do país. O ex-presidente, porém, deixou de apoiá-la em poucos meses, quando ela decidiu que participaria do pleito.

Curiosamente, nem Áñez nem Quiroga anunciaram apoio ao também ex-presidente Carlos Mesa ao retirarem suas candidaturas.
Mesa aparece atualmente em segundo lugar nas pesquisas e é considerado o principal nome capaz de vencer o candidato do MAS, o ex-ministro da Economia Luis Arce.

Seu perfil, porém, é bem diferente dos dois rivais que desistiram. Enquanto Quiroga e Áñez se posicionam como representantes da direita, Mesa é um político de centro-esquerda, que inclusive chegou a colaborar com o MAS em diversas ocasiões.

Ele foi, por exemplo, escolhido por Evo para ser o porta-voz da demanda da Bolívia por uma saída pelo mar -o país trava há anos uma disputa sobre o assunto com o Chile.

As pesquisas mais recentes mostram a uma semana da votação o cenário está em aberto. A opção mais provável é que ocorra um segundo turno entre Mesa e Arce, mas os levantamentos não descartam a possibilidade do candidato do MAS vencer em primeiro turno –o que pode ter motivado as desistências.

Além disso, as pesquisas na Bolívia não costumam ser confiáveis, principalmente pela dificuldade dos institutos de realizar enquetes nas regiões andina e amazônica. Assim, a maioria dos levantamentos costumam ser baseados nas cidades ou em sondagens feitas por telefone.
Entre as mais recentes, realizadas nas últimas semanas, portanto antes da desistência de Quiroga, está a do instituto Jubileo, que tem a maior amostragem (16 mil pessoas). Nesta, a diferença entre Arce (42,9%), em primeiro lugar, e Mesa (34,2%), em segundo, é de 8,7 pontos. Quem cresceu depois da saída de Áñez foi o também direitista Luis Fernando Camacho, que aparece com 17,8%.

Na Bolívia, para vencer no primeiro turno um candidato deve ter mais de 50% dos ou 40% e uma diferença de 10 pontos percentuais em relação ao segundo colocado. Caso contrário, há segundo turno.

Já a pesquisa do Ipsos (com 2.000 entrevistas), traz Arce com 42,2% contra 34,6% para Mesa. A diferença cairia para 7,6%. Nesta, Camacho aparece com 17,1%.

Já a pesquisa da Mercados y Muestras, realizada a pedido do jornal Página Siete, traz uma vitória apertada de Mesa (37,4%) sobre Arce (37,2%), com Camacho obtendo 19,2%.

Enquanto isso, o Celag (com 1.700 entrevistas) mostra Arce ganhando no primeiro turno, com 44,4% contra 34% de Mesa. Aqui, Camacho tem 15,2%. Todos os levantamentos apontam que Mesa venceria Arce em um hipotético segundo turno.

Apesar da pandemia do coronavírus não estar contida no país, que tem 138.463 contaminados e 8.292 mortes, Camacho tem realizado atos públicos com aglomerações -ele inclusive realizou um comício neste domingo no departamento de Pando.

Já Arce tem misturado alguns atos públicos e com outros eventos virtuais, enquanto Mesa tem feito campanha principalmente por meio das redes sociais.

No último domingo (4), houve um debate presidencial com todos os candidatos, menos Arce. A estratégia do candidato de esquerda é a de não se expor enquanto ainda está na liderança.

Porém, ao final da semana, Arce marcou uma diferença com relação a Evo. Em uma entrevista em Buenos Aires na última quinta-feira (8), o ex-presidente afirmou que os "meios de comunicação foram cúmplices do golpe de Estado", em uma referência aos protestos e ameaças que o levaram a renunciar à Presidência.

Assim, Evo disse que era "necessário fazer algo com a imprensa, precisamos de mais veículos que sejam do Estado e mais convencidos de sua missão social". As declarações repercutiram de modo negativo na Bolívia.

Em um ato em La Paz na sexta-feira (9), Arce se diferenciou do padrinho político, dizendo que "não compartilha com as opiniões do companheiro Evo sobre a imprensa", e que esta "cumpre um papel importante na democracia e na recuperação da pátria".

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