Novo presidente do Crea-PE se coloca à disposição para debate que proponha cidades melhores
Em entrevista à Folha, Adriano Lucena também fala sobre desafios à frente da gestão
Na esteira das preparações para as eleições municipais, que trazem à tona a discussão sobre o futuro das cidades, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco (Crea-PE) se reuniu, no dia 1º de outubro, para escolher a diretoria que representará a instituição pelos próximos três anos. O escolhido para encabeçar a gestão, com 773 votos, foi o engenheiro civil Adriano Lucena. Com 49 anos de idade e 21 de profissão, o novo presidente da entidade se formou em 1999 pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e tem no currículo especializações em Projetos de Infraestrutura e Negócios. Em entrevista à Folha de Pernambuco, ele fala sobre desafios, diálogo com as prefeituras e o papel do órgão na fiscalização de obras públicas.
Eleição
Nós somos um conselho tecnológico, mas que submete o profissional ao voto presencial em cédula de papel e reduzindo a quantidade de urnas. Em 2017, houve eleição e nós tínhamos urnas em diversos pontos da cidade. Em 2020, em plena pandemia, houve redução da quantidade de urnas na cidade do Recife e um único local de votação, dificultando a ida do profissional para que pudesse manifestar o que é de mais sagrado para o cidadão em um processo eleitoral: o voto. Nós somos contra esse modelo de votação. Devemos ter dentro do sistema uma eleição pela internet, em que você vote pelo smartphone, com todas as seguranças possíveis, como há em outros conselhos. E tivemos pouca participação. Eram 17 mil profissionais aptos a votar e nós tivemos 1.700 votos (no total). A gente quer jogar ao lado esse passado e construir um futuro em que o voto eletrônico seja um elemento extremamente importante na gestão.
Desafios
Quando você tem um conselho em que 10% dos profissionais participam da eleição, temos aí 94% a 95% que não estão ao lado presidente eleito, do ponto de vista matemático. Então, o que temos que fazer para trazer essas pessoas? Mostrar a cada profissional que é importante que ele participe da gestão e tenha um conselho forte. E nós precisamos de um debate interno, melhorando a gestão e a prestação do serviço, e também um debate de cidadania. É dizer: “Você, engenheiro, é importante”. O Recife cresceu de forma desordenada, e o Crea não se posicionou. A omissão de um conselho de 86 anos tem um preço para a sociedade. Nós queremos habitações em espaços que estejam dentro do Plano Diretor, construídas com zelo, qualidade, mão-de-obra qualificada, saneamento, água. A engenharia é aquela função ou profissão que transforma a vida das pessoas e promove bem-estar. É a engenharia que nos propicia falar a distância e que cuida da mobilidade, do trânsito, das rodovias, da água, da energia, da arborização, das edificações, da acessibilidade.
Importância social
A importância do Crea é ser um órgão que mostra que é preciso ter um profissional habilitado para desempenhar aquela função. A sociedade, por não entender essa importância, contrata um pedreiro ou um mestre-de-obras para construir sua residência, quando, na verdade, devia contratar um profissional (da engenharia). Isso vai gerar um custo adicional à sociedade? Vai, mas também vai gerar qualidade. Vamos ter obras e projetos melhores, com materiais humano e tecnológico utilizados de forma apropriada. O Crea existe para fazer a defesa da sociedade. E isso só é possível se você tiver profissionais capacitados para aquela tarefa.
Prefeituras
Queremos ter um diálogo com o poder público e participar ativamente. Sobre o habitacional onde era o Aeroclube, qual o método construtivo? Concepção do projeto? Qual o público que vai participar? Nós não vamos executar ou projetar a obra, mas participar da discussão. O Crea quer participar da discussão dos quiosques da avenida Boa Viagem. É mais uma entidade a fiscalizar, a propor e a opinar para que nós, cidadãos, possamos ter uma cidade melhor. Participar desses projetos que são importantes para o Estado também. Por exemplo, a iluminação pública de Petrolina ou um parque linear em Caruaru. Nós queremos conhecer. Planos de arborização, drenagem. Por que, quando chove no Recife ou no Sertão, as cidades ficam inundadas? A gente precisa discutir a revitalização dos rios. O gestor deve buscar o investimento, utilizando o profissional habilitado, com um projeto de baixo custo, boa durabilidade e responsabilidade.
Marco do saneamento
O Crea vai acompanhar isso “colado”. Durante a nossa campanha agora, trouxemos vários especialistas para falar sobre o novo marco. O que nós queremos é que tenha eficiência no gasto público e no serviço prestado. E a engenharia tem uma oportunidade enorme de trabalho com saneamento, seja com recursos privados ou públicos. Existem modelos privados que funcionam, existem modelos públicos que funcionam. Existem modelos privados que não funcionam e existem modelos públicos que não funcionam. A questão não é se é público ou privado. Nós precisamos ter um debate em que a engenharia, a questão técnica, seja preponderante. E o saneamento tem uma amplitude maior para toda a sociedade, porque evita o gasto no hospital.