Começa contagem dos votos após eleições pacíficas na Bolívia
Há um ano, o país enfrentou violentos confrontos nas ruas após o primeiro turno das eleições, em 20 de outubro de 2019
Os centros eleitorais fecharam neste domingo (17) na Bolívia e começou a contagem de votos, em um dia pacífico para eleger um novo presidente quase um ano após a renúncia do socialista Evo Morales em meio a uma convulsão social.
Após nove horas de votação, as urnas começaram a fechar às 17h00, hora local (21h00 GMT), embora aquelas com eleitores na fila continuassem abertas.
A divulgação dos resultados deve ser lenta depois que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) suspendeu seu sistema de contagem rápida, para garantir a fidelidade dos dados.
A presidente interina da Bolívia, Jeanine Añez, pediu à população "paciência" e que evitem atos violentos diante da demora na entrega dos resultados.
"Paciência, todos devemos ter paciência para esperar os resultados sem gerar nenhum tipo de evento violento", disse Añez em uma mensagem na televisão após o fechamento das seções eleitorais. "Garanto que teremos resultados confiáveis", acrescentou.
O governo interino informou que as eleições ocorreram em clima de tranquilidade, exceto por pequenos incidentes, em um dia em que se temiam tumultos como os ocorridos após a votação cancelada de outubro de 2019.
"Tivemos um dia tranquilo em todo o país até agora", disse o vice-ministro de Segurança Cidadã, Wilson Santamaria, em nota, enquanto ainda há filas extensas de eleitores em algumas seções eleitorais logo após o fechamento das urnas, às 17H00.
Medidas para evitar a disseminação do novo coronavírus, como manter distância entre os eleitores, retardaram o processo de votação, geraram longas filas e uma espera de mais de duas horas para entrar em algumas seções eleitorais.
Quase um ano após a renúncia do ex-presidente socialista Evo Morales em meio a agitação social, cerca de 7,3 milhões de bolivianos voltaram às urnas para eleger presidente, vice-presidente, 130 deputados e 36 senadores.
As eleições foram realizadas no âmbito de uma operação de segurança com o envio de militares e policiais.
Quase um ano após a renúncia do presidente socialista Evo Morales, essa é a primeira vez em duas décadas, que ex-presidente não está na disputa eleitoral, depois de deixar o cargo em 10 de novembro do último ano em meio a uma crise desencadeada por denúncias de fraude em uma eleição em que disputava o quarto mandato, além de perder o apoio dos militares.
Morales pediu que o resultado das eleições deste domingo "seja respeitado por todos".
"É muito importante que todas e todos os bolivianos, além dos partidos políticos, recebam com tranquilidade cada um dos votos, tanto nas cidades como nas áreas rurais, e que o resultado das eleições seja respeitado por todos", ressaltou o ex-presidente socialista em declaração lida diante da imprensa em Buenos Aires.
"A prioridade exclusivamente é a recuperação da democracia. Não caiamos em nenhum tipo de provocação", acrescentou.
Há um ano, o país enfrentou violentos confrontos nas ruas após o primeiro turno das eleições, em 20 de outubro de 2019.
Neste país - que possui 41% de população indígena - desde o amanhecer as pessoas faziam fila, sentadas e cumprindo o distanciamento física, como é o exemplo do município de Huarina, situado às margens do Lago Titikaka, a 70 km de La Paz.
Os candidatos favoritos são o economista Luis Arce, do Movimento ao Socialismo de Morales (MAS), e o ex-presidente centrista Carlos Mesa (2003-2005), da Comunidade Ciudadana, segundo colocado nas eleições de 2019.
Responsável pelo "milagre" econômico de Morales (2006-2019), é muito provável que Arce vá ao segundo turno com Mesa em 29 de novembro.
Por causa da pandemia, a campanha foi realizada principalmente nas redes sociais, embora tenham ocorrido alguns confrontos isolados nas ruas entre militantes pró e anti-Evo.
"É o fim de um ciclo do governo de Evo Morales e da crise política. Espera-se começar um processo de fortalecimento das instituições", observou o cientista político Carlos Cordero, da Universidade Católica Boliviana, em comentário à AFP.
Arce garantiu neste domingo que seu partido, o Movimento pelo Socialismo (MAS), chegará ao poder na Bolívia por meios democráticos e não pelas armas, após criticar a suspensão da divulgação dos resultados preliminares pela Justiça Eleitoral.
"Não tomamos o poder com armas, tomamos o poder por essa via democrática", afirmou Arce, após votar em um colégio eleitoral na área central de La Paz.
O país andino vive a maior crise econômica em quase 40 anos, com previsão de retração de 6,2% do PIB em 2020.
As eleições também terminarão as atividades do governo de transição da presidente interina de direita, Jeanine Áñez, que deixou a corrida eleitoral após ser criticada por sua gestão da pandemia, com mais de 8.400 mortos e 130.000 casos.