Contratação de temporários para o Natal deve ser a menor desde 2015
Em 2020, a expectativa do mercado é de um recuo de 5% do PIB, devido à pandemia
A oferta de vagas temporárias pelo varejo para atender às vendas de Natal neste ano deve ser a menor desde 2015, auge da crise econômica anterior.
Segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), 70,7 mil trabalhadores temporários deverão ser contratados neste ano, uma queda de 19,7% em relação aos 88 mil contratados em 2019.
Apenas em 2015, quando o país registrou uma queda de 3,5% do PIB (Produto Interno Bruto), a abertura de vagas foi menor, com a contratação de 67,4 mil temporários naquele ano. Em 2020, a expectativa do mercado é de um recuo de 5% do PIB, devido à pandemia, segundo o boletim Focus do Banco Central mais recente.
O ministro Paulo Guedes (Economia), por sua vez, disse nesta semana que espera espera uma queda de 4% do PIB esse ano, enquanto o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, falou em recuo de 4,5%.
A CNC estima ainda um crescimento de 2,2% das vendas de Natal em 2020, comparado a incremento de 2,7% no ano passado. O Natal é a principal data comemorativa do varejo e deve movimentar R$ 37,5 bilhões este ano.
"A intensificação de ações de vendas online pelos comerciantes tem ajudado na recuperação gradual do varejo nos últimos meses e também será um dos impulsionadores das vendas para o Natal", observa José Roberto Tadros, presidente da CNC, em comunicado. "Porém, apesar de o comércio eletrônico ter crescido bastante, as vendas em shopping centers vêm registrando retrações, e isso impacta diretamente o número de temporários contratados, em especial os vendedores."
Ramo que mais emprega temporários no fim de ano, as lojas de vestuário e calçados devem oferecer 30,7 mil vagas em 2020, menos da metade dos 59,2 mil postos criados no ano passado. "Este ramo do varejo vem apresentando mais dificuldades de recuperar o nível de vendas anterior ao início do surto de Covid-19", observa Fabio Bentes, economista da CNC, também em comunicado.
Somados ao ramo de vestuário, as lojas de artigos de uso pessoal e doméstico (13,7 mil) e os hiper e supermercados (13,4 mil) deverão responder por cerca de 82% das vagas oferecidas pelo varejo no Natal.
Conforme a CNC, todas as unidades da federação devem apresentar menos oportunidades de empregos temporários este ano. São Paulo (17,9 mil), Minas Gerais (8,3 mil), Rio de Janeiro (6,9 mil) e Rio Grande do Sul (6 mil) concentram mais da metade (55%) da oferta de vagas.
Por tipos de vagas, deve haver uma redução de 25% na contratação de vendedores (para 34,7 mil), recuo de 13% para operadores de caixa (12,1 mil), e baixas de 18%, 11% e 4% para atendentes de loja (8,3 mil), repositores de mercadoria (7 mil) e embaladores (3 mil).
Também sob efeito da pandemia, a taxa de efetivação dos temporários após o Natal deve ser a menor dos últimos quatro anos, de 16,3%, comparado a 29,1% em 2019 e acima apenas dos 15,2% registrados em 2016.
Segundo Bentes, a queda é explicada pela incerteza quanto à capacidade da economia e do consumo de sustentarem o ritmo de recuperação nos próximos meses. "É um cenário distinto daquele observado até 2014, quando, em média, 30% dos trabalhadores contratados costumavam ser efetivados", observa o economista.
O salário médio de admissão deve ser de R$ 1.319, aumento nominal de 4,6% em relação a 2019.