Economia

Taxa de desemprego chega a 17% entre mulheres e 16% entre negros

Taxa de desemprego subiu de 13,6% em agosto para 14,0% em setembro

Carteira de Trabalho física - Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Mulheres, negros, jovens e nordestinos estão entre os mais atingidos pelo recorde de desemprego registrado em setembro, segundo dados da Pnad Covid, pesquisa criada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para mensurar os efeitos da pandemia sobre o mercado de trabalho e a saúde dos brasileiros. 
 
Para especialistas, a aceleração do desemprego está ligada à redução e iminente fim do auxílio emergencial e à volta das pessoas à busca por emprego, com o relaxamento da quarentena. Ao atingir mais duramente os grupos já historicamente mais vulneráveis, o desemprego provocado pela pandemia deve agravar a desigualdade no país, avaliam os analistas.
 
A taxa de desemprego subiu de 13,6% em agosto para 14,0% em setembro, a maior da série histórica da Pnad Covid, com 13,5 milhões de desocupados. O IBGE só considera como desempregados pessoas que estão efetivamente em busca por trabalho, por isso o avanço da taxa foi amenizado no início da pandemia devido às medidas de isolamento e ao auxílio emergencial.
 
Entre as mulheres, a taxa de desocupação chegou a 16,9% em setembro, maior que a dos homens (11,8%). Há uma aceleração no desemprego feminino. Em agosto, a taxa de desocupação entre as mulheres era de 16,2% e a dos homens, de 11,7%.
 
Em maio, primeiro mês de realização da pesquisa, os percentuais eram de 12,2% e 9,6%. Assim, desde o início do levantamento, o desemprego entre mulheres cresceu 4,7 pontos percentuais, comparado a avanço de 2,2 pontos da desocupação entre os homens.
 
"A taxa de desemprego das mulheres é historicamente maior, mas o contexto de pandemia intensificou essa desigualdade entre homens e mulheres", observa Thiago Xavier, economista da Tendências Consultoria.
 
O analista observa que a população ocupada feminina diminuiu em 1,7 milhão entre maio e setembro, de 36,1 milhões para 34,4 milhões. Enquanto a população ocupada masculina ficou praticamente estável, passando de 48,3 milhões e 48,6 milhões no mesmo intervalo.
 
Segundo Xavier, essa queda da ocupação entre as mulheres está ligada aos tipos de trabalhos mais atingidas pela crise. "O setor de alojamento, alimentação e serviços domésticos estão entre os mais duramente afetados e eles empregam muitas mulheres, ao mesmo tempo, cargos de diretoria e gerência são menos afetados e elas são minoria", exemplifica Xavier. Outro fator, segundo o especialista, é o cuidado com os filhos, que pode estar afastando mulheres do trabalho devido às escolas e creches ainda fechadas.
 
Por cor ou raça, a taxa de desemprego chegou a 16,1% entre pretos e pardos em setembro, aumento de 0,7 ponto percentual em relação a agosto, acima dos brancos, com taxa de 11,5%, estável em relação ao mês anterior. Em maio, a taxa de desemprego era de 12% entre pretos e pardos e de 9,2% entre brancos.
 
Por grupos de idade, os mais jovens apresentam taxas de desocupação maiores. A taxa é de 23,6% para pessoas de 14 a 29 anos de idade; de 10,8% para a faixa entre 30 e 49 anos; 8,9% entre 50 e 59 anos; e de 7,4% para pessoas com mais de 60 anos.
 
Por nível de instrução, a taxa de desemprego chegou a 6,6% para pessoas com ensino superior completo em setembro, abaixo dos 6,8% registrados em agosto. Em comparação, a taxa era de 14,6% para pessoas sem instrução ou com fundamental incompleto, de 18,6% para pessoas com fundamental completo, e de 15,8% para quem tinha ensino médio.
 
"Essa crise tem um potencial de aumentar a desigualdade muito grande", observa Xavier. "Quem faz home office, quem é diretor e gerente, quem é profissional de ciência e intelectual -os grupos menos atingidos- são grupos em sua maioria ocupados mais por pessoas brancas, por homens, por pessoas de maior instrução."
 
A desigualdade no desemprego está também nas regiões. No Nordeste, a taxa chegou a 16,9% em setembro, vinda de 15,7% em agosto e de 11,2% em maio.
 
Em seguida, estão Norte, com taxa de desemprego de 14,8% em setembro, Sudeste (14,2%), Centro-Oeste (12,1%) e Sul (9,8%).
 
"A redução do auxílio emergencial já sugere impacto pior sobre o desemprego no Nordeste e Norte", observa Rodolpho Tobler, pesquisador do Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).
 
"Essa são as regiões que mais receberam auxílio. Além das pessoas estarem voltando a circular, também há uma pressão maior dos orçamentos familiares, quando as pessoas começam a ficar preocupadas com a redução e o fim do auxílio emergencial no final do ano e voltam a procurar emprego", afirma.
 
"A atividade econômica não tem se recuperado tão rápido a ponto de absorver todas essas pessoas. Então há uma pressão na taxa de desemprego e a expectativa é que ela continue nos próximos meses."
 
Segundo a Pnad Covid, o percentual de domicílios recebendo auxílio em setembro era de 59,8% no Norte e 58,8% no Nordeste, comparado a 43,6% na média nacional e 41,8% no Centro-Oeste, 36,9% no Sudeste e 30,5% no Sul. O valor médio recebido recuou de R$ 908 em agosto para R$ 894 em setembro.
 


Para o pesquisador da FGV, o perfil do aumento do desemprego também está ligado à última crise e sua recuperação baseada no trabalho informal.
 
"Nosso mercado de trabalho, ao contrário dos outros países do mundo, vinha em um momento crítico ainda. Tivemos uma intensa recessão entre 2014 e 2016 e o mercado de trabalho vinha numa recuperação ainda frágil, muito puxada pela informalidade", afirma.
 
"Esses são justamente os trabalhadores que mais sofreram na pandemia, porque, com a impossibilidade de circulação, elas não tinham a possibilidade de trabalhar. O auxílio emergencial contribuiu para amenizar esse efeito, mas uma recuperação mais forte da economia, com aumento do emprego formal, foi adiada pela pandemia."
 
A Pnad Covid tem metodologia distinta da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, que mede a taxa oficial de desemprego do país e por isso os dados não são comparáveis. Mas a pesquisa tem sido acompanhada de perto pelo especialistas por ser divulgada com maior frequência do que a Pnad Contínua.
 
Em sua divulgação mais recente, a Pnad Contínua apontou para uma taxa de desemprego de 13,8% no trimestre encerrado em julho, com 13,1 milhões de desocupados.