Fim da briga

General Ramos nega crise, e Salles pede desculpas em meio a disputa no governo

O ministro da Secretaria de Governo passeou de moto com o presidente Jair Bolsonaro, na manhã deste domingo (25)

Agência Brasil Ministro Luiz Eduardo Ramos - Antonio Cruz/Agência Brasil

Diante da escalada da crise gerada pela disputa entre os grupos ideológico e militar que compõem o governo Jair Bolsonaro (sem partido), o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, passeou de moto com o presidente, na manhã deste domingo (25), e negou querer brigar. Pouco depois, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi às redes sociais pedir desculpas.

"Rapaz, não tem briga nenhuma", afirmou à Folha de S.Paulo quando se dirigia à moto para deixar o posto de gasolina em que foi com Bolsonaro em Sobradinho, no Distrito Federal. "Tem uma definição: briga é quando [tem] duas pessoas", disse o ministro.

Indagado sobre como vai o clima no governo diante de mais uma crise entre ministros, Ramos limitou-se a falar de sua relação com Bolsonaro. "Minha relação com o presidente está excepcional como sempre."

Pouco depois da divulgação das manifestações de Ramos, Salles disse ter procurado o ministro para se desculpar. "Conversei com ministro Luiz Eduardo Ramos, apresentei minhas desculpas pelo excesso e colocamos um ponto final nisso. Estamos juntos no governo, pelo presidente Bolsonaro e pelo Brasil. Bom domingo a todos", disse Salles em uma publicação na internet.

Após a bandeira branca estendida por Salles, Ramos também foi às redes sociais. "Uma boa conversa apazigua as diferenças. Intrigas não resolvem nada, muito menos quando envolvem questões relacionadas ao País. Eu e o @rsallesmma prosseguimos juntos em nome do nosso presidente @jairbolsonaro e em prol do Brasil", escreveu o ministro da Secretaria de Governo.

O estopim para a crise entre Salles e Ramos foi uma nota no jornal O Globo, na quinta (22), que afirmava que o ministro estava esticando a corda com a ala militar do governo em decorrência do episódio envolvendo a falta de recursos no Ibama -Salles disse que, sem dinheiro, brigadistas interromperiam atividades de combate a incêndios e queimadas.

As críticas de Salles a Ramos são amparadas pelos filhos de Jair Bolsonaro e fazem parte de estratégia do núcleo ideológico para convencer o presidente a trocar o responsável pela articulação política do governo, como mostrou a Folha na sexta-feira (23).

A pressão ocorre nos bastidores desde agosto, mas agora veio a público com a manifestação de Salles nas redes sociais. Republicando imagem com o título da nota do jornal O Globo, ele citou nominalmente Ramos e pediu ao militar para parar com uma postura de "maria fofoca".

"@MinLuizRamos não estiquei a corda com ninguém. Tenho enorme respeito e apreço pela instituição militar. Atuo da forma que entendo correto. Chega dessa postura de #mariafofoca", escreveu.

A decisão de Salles de tornar público o embate, segundo assessores palacianos, busca acelerar o desgaste de Ramos para que seja possível convencer Bolsonaro a incluir o general na minirreforma ministerial programada para fevereiro.

A ideia é repetir a fritura realizada no ano passado com o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, que também comandava a Secretaria de Governo e foi criticado pelo núcleo ideológico por sua postura moderada. Bolsonaro foi influenciado a substituí-lo no posto.

O grupo que defende a substituição de Ramos conta com o respaldo do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Para reforçar o apoio a Salles, o filho 03 do presidente postou mensagem desejando força ao ministro. "O Brasil está contigo e apoiando seu trabalho", escreveu.

A troca de Ramos também tem respaldo do secretário da Pesca, Jorge Seif, e do escritor Olavo de Carvalho, considerado o guru da família presidencial.

Até o momento, Bolsonaro não deu sinais de que pretende sacar Ramos do cargo. O general conta com a confiança do presidente. Na sexta, Bolsonaro fez acenos aos dois ministros. Chegou com Ramos em seu carro à Base Aérea de Brasília para a cerimônia de apresentação do Gripen, caça da FAB (Força Aérea Brasileira), que fez seu voo inaugural. Salles estava na plateia, junto com outros auxiliares presidenciais.

Em determinado momento, os dois ministros ficaram próximos a Bolsonaro, que deu um abraço em Salles. Ramos apenas observou.
O vice-presidente Hamilton Mourão foi questionado por repórteres na sexta sobre as divergências entre os ministros. "Isso não passa por mim, os ministros são do presidente e eu não me meto nessa guerra", afirmou.

Caso Bolsonaro seja convencido a fazer uma mudança até fevereiro, assessores presidenciais apontam que o nome favorito para desempenhar a função é o do ministro das Comunicações, Fábio Faria.

Em conversas com aliados, porém, Faria tem dito que não pretende assumir o posto e que apoia a manutenção de Ramos. Nos bastidores, Faria já desempenha informalmente o papel de articulador, fazendo a ponte entre Executivo e Legislativo.

A disputa entre militares e ideológicos era frequente no início da atual gestão, mas passou por um arrefecimento neste ano, após o presidente ter fortalecido a cúpula fardada, entregando a ela todos os cargos ministeriais do Palácio do Planalto.

No sábado (24), os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e o centrão saíram em defesa do ministro da Secretaria de Governo.

"O ministro Ricardo Salles, não satisfeito em destruir o meio ambiente do Brasil, agora resolveu destruir o próprio governo", escreveu Maia em uma rede social.

Pouco depois, o presidente do Senado também entrou na discussão. "Sem entrar no mérito da questão, faço duas ressalvas. 1. Como chefe do Legislativo, registro a importância do ministro Luiz Eduardo Ramos na relação institucional com o Congresso. 2.Não é saudável que um ministro ofenda publicamente outro ministro. Isto só apequena o governo e faz mal ao Brasil", escreveu Alcolumbre.

O ministro do Meio Ambiente evitou o confronto neste sábado ao ser questionado pelo jornal O Estado de São Paulo sobre as declarações dos dois líderes do Congresso. Salles afirmou que, para ele, "este assunto está encerrado".

Bolsonaro não comentou o caso. Ao ser abordado pela Folha na manhã deste domingo, o presidente disse apenas "imprensa não" e um agente do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) puxou o repórter pela alça da mochila, afastando-o do chefe do Executivo.