Com relaxamento de medidas preventivas, pandemia pode voltar a ganhar a corpo em Pernambuco
Embora ainda não apresentem subida sustentada, números de infectados e ocupação de leitos estão aumentando
Na semana que países europeus tomam novas medidas de fechamento por conta de uma forte alta dos casos do novo coronavírus, Pernambuco começa a dar sinais que a pandemia pode voltar a ganhar a corpo. Um dos indicativos é a ocupação de leitos destinados a pacientes com Covid-19 no Estado. Em 18 de outubro, a taxa de ocupação de enfermarias era de 38%. Ontem, chegou a 48%. Já nas UTIs, havia doentes em 65% dos leitos, na quarta (21), e em 75%, ontem. Profissionais de saúde também afirmam que vem crescendo o número de atendimento a pessoas com sintomas da doença.
Embora ainda não apresentem uma subida sustentada, os números estão aumentando. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (SES), análises epidemiológicas das últimas semanas revelam um suave aumento de 1,1% nas suspeitas de casos leves nos últimos 15 dias. Segundo o pesquisador e professor do Departamento de Estatística e Informática da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Jones Albuquerque, Pernambuco está entrando no nível de alto risco de infecção.
“As estatísticas nos dizem que o mundo está em ebulição e nós vamos começar a entrar também. Ainda não é possível afirmar quando exatamente, mas a estimativa é que entre duas e três semanas a gente sofra esse efeito galopante como está acontecendo na Europa”, alerta o pesquisador, que também é vice-coordenador do Instituto para Redução de Riscos e Desastres de Pernambuco (IRRD) da UFPE. Jones chama atenção para a taxa de contágio do coronavírus que atualmente está em 1,12 em Pernambuco. Isso revela que mais pessoas estão infectadas e o número de doentes subindo. O ideal seria que estivesse abaixo de 1.
O infectologista e chefe da Triagem de Doenças Infecciosas do Hospital Oswaldo Cruz (Huoc), Filipe Prohaska, afirma que tem notado aumento de pacientes com sintomas de Covid-19, mas não de casos graves. “No começo havia a orientação que só deveriam procurar uma unidade de saúde quando tivesse sintomas mais intensos. Isto tem sido a diferença quando comparamos com a situação de abril e maio”, comenta. Para o médico o fenômeno é reflexo da retomada das atividades econômicas e sociais. “Com essa reabertura é esperada a alta de casos. Era o que todos falavam no começo do ano de se tornar uma doença endêmica”, fala.
Conforme o Painel Índice de Isolamento Social do Ministério Público de Pernambuco, anteontem a taxa no Estado era de 35,6%. O município de Terezinha, no Sertão, possuía o melhor índice, com 59,1%. No Recife, a taxa está em 36,1%. Ou seja, todos distantes do que autoridades de saúde consideram como ideal, que seria em torno de 70%. “Não diria que devemos começar a fechar tudo novamente neste momento, mas devemos cogitar esta possiblidade. Se tudo correr como aconteceu antes, daqui a duas ou três semanas Pernambuco sofrerá as consequências”, afirma Jones Albuquerque.
Distanciamento social e uso de máscaras ainda são as melhores armas contra a Covid-19, segundo o infectologista Filipe Prohaska. “Os protocolos são objetivos e claros sobre como se deve proceder com relação aos cuidados em cada local. Mas não adianta ter uma organização governamental e não ter os dois lados obedecendo, tanto estado quanto população”, fala.
Por meio da assessoria de imprensa, a SES afirmou que mantém as informações divulgadas pelo secretário estadual de Saúde André Longo. Ele afirmou que o aumento de quadros respiratórios leves na última semana pode ser impacto, inclusive, da falta de cuidados da população durante o feriado do dia 12 de outubro. “Durante o processo de convivência com a doença, flutuações podem acontecer, mas, até agora, essas oscilações estão dentro de um patamar esperado, sem configurar tendência clara de aumento, ou de recrudescimento, ou de uma segunda onda da Covid-19”, falou Longo em vídeo enviado à imprensa.