França

Polícia detalha atentado em Nice e prende suspeito de ser cúmplice do terrorista

O atentado em Nice foi o terceiro em menos de dois meses

Policiais bloqueando a entrada da Basílica Notre-Dame de l'Assomption, em Nice - Valery Hache/AFP

A polícia francesa prendeu um suspeito de ser cúmplice do agressor que matou a facadas três pessoas, incluindo a brasileira Simone Barreto da Silva, 44, dentro de uma igreja em Nice, na quinta (29), e deu mais detalhes sobre o trajeto do agressor, um tunisiano de 21 anos identificado como Brahim A.
 
Às 6h47, Brahim foi filmado entrando na estação da cidade, na costa sul da França, segundo Jean-François Ricard, procurador nacional antiterrorismo. "Ele vira o paletó, troca os sapatos e sai." Carregava uma sacola onde levava uma cópia do Corão (livro sagrado muçulmano), dois telefones e três facas com lâminas de 17 cm.
 
O tunisiano foi até a basílica de Notre Dame, onde entrou dois minutos antes das 8h30, relata Ricard. Esse era o horário em que o sacristão Vincent Loquès, 55, outra vítima do ataque, costumava abrir a igreja. Nos 25 minutos seguintes, Bahrim atacou suas três vítimas, segundo o procurador.
 
Uma idosa, cujo nome ainda não é conhecido, foi quase decapitada ao ser degolada. Loquès também foi degolado, e morreu dentro da igreja. A brasileira Simone, esfaqueada no pescoço, conseguiu escapar da basílica e pedir socorro. Ela se refugiou em um estabelecimento próximo, onde acabou morrendo antes de ser socorrida.
 
Às 8h57, uma equipe de quatro guardas municipais, avisada por um botão de alerta que fica na calçada perto da igreja, chegou ao local e entrou por um corredor escuro. O agressor avançou em direção a eles de forma ameaçadora, gritando "Allahu akbar" (Deus é maior, em árabe). Segundo Ricard, os policiais não conseguiram pará-lo com uma pistola elétrica e por isso atiraram.
 
Brahim foi baleado na perna, no peito e no ombro, e levado para o hospital, onde foi operado. Até a noite da quinta, estava "gravemente ferido e sua vida ainda corre risco", segundo Ricard. Na manhã desta sexta, segundo a imprensa francesa, ele foi operado por uma segunda vez e não estava em condições de ser interrogado. Foram recolhidos 14 projéteis no local do confronto, na basílica.
 
O procurador nacional antiterrorismo afirmou que a investigação vai retraçar também a viagem do terrorista, que entrou na França em 9 de outubro, depois de passar pela ilha de Lampedusa (Itália). Ricard afirmou que ele tinha "um documento em papel da Cruz Vermelha italiana" e que "seu nome não está no arquivo nacional de impressões digitais e não era acompanhado pelos serviços de inteligência".
 
O suposto cúmplice, detido para investigação na noite de quinta, tem 47 anos e é suspeito de ter entrado em contato com Brahim na véspera do atentado terrorista e ter lhe fornecido um dos telefones encontrados com o terrorista.
 
O Ministério das Relações Exteriores enviou alertas para estrangeiros que moram no exterior. "A ameaça está em toda parte", declarou o ministro Jean-Yves Le Drian após reunião do conselho de defesa convocado pelo governo para esta manhã.
 
O atentado em Nice foi o terceiro em menos de dois meses. No final de setembro, dois jornalistas foram esfaqueados em Paris e, há duas semanas, o professor Samuel Paty foi decapitado, em dois casos ligados a charges satíricas retratando Maomé.
 
Gérald Darmanin, ministro do Interior, disse que a França enfrenta uma ameaça de terrorismo de nível alto, e que virou "alvo preferencial" por causa de sua "defesa ferrenha da liberdade de expressão e do secularismo".

 


Darmanin também disse que as autoridades de segurança locais de todo o país foram alertadas no domingo passado, depois que um grupo ligado à Al Qaeda divulgou um comunicado pedindo que as pessoas atacassem alvos franceses, incluindo igrejas e embaixadas.
 
Desde a última semana, o presidente francês, Emmanuel Macron, tem sido alvo de protestos em vários países de maioria muçulmana, por ter declarado que continuará defendendo a liberdade de expressão, mesmo que ela possa ofender grupos religiosos, como no caso das caricaturas de Maomé.
 
Dias antes da morte do professor Samuel Paty, Macron havia anunciado um programa para combater o que chama de "separatismo islâmico": a radicalização de uma parcela de muçulmanos dentro da França;