Yoshi Matsumoto: história de técnica e generosidade na gastronomia
Chef Masayoshi Matsumoto ensinou a fazer gastronomia além do padrão
Seu Yoshi - Foto: Paulo Almeida/Folha de Pernambuco
O pernambucano aprendeu a comer sushi com o chef Yoshi Matsumoto. Um legado e tanto de quem deixou familiares, clientes e alunos de Gastronomia órfãos de seu conhecimento, na última semana de outubro. Aos 74 anos, o incansável seu Yoshi somava quase meio século de dedicação à cozinha nipônica, com 25 anos voltados para o trabalho no seu restaurante em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife. Verdadeiro templo oriental quando o assunto é hospitalidade e técnica gastronômica.
Sempre atencioso e receptivo com cada cliente, ele era o chef japonês - nascido em Nagasaki - mais pernambucano de todos. A diferença cultural nunca formara barreira. Tanto que fazia questão de apresentar o estilo elegante e ritualístico de suas receitas, que, aliás, tornaram-se ícones. Como o prato da Boa Lembrança de 2011, batizado de Ni Wa Tori, inspirado nas construções asiáticas, que misturava legumes sobre base de arroz ao lado de uma alegórica coxa de frango. Outro item famoso é a colina de atum, servida com macarrão frito, e que por tempos voltava repaginada no cardápio.
Como professor, Mestre Yoshi também ajudou na formação de cozinheiros pernambucanos e de outros estados. Através da sua Academia Gourmet, localizada no próprio restaurante, ele repassava ensinamentos como a cutelaria - arte de afiar facas -, além da correta produção de sushi, sashimi, assados e cozidos. Isso sem falar na abordagem histórica e cultural em torno da cozinha nipônica.
Nos últimos anos, teve a ajuda importante do sobrinho e sushiman André Saburó, diretor do grupo Quina do Futuro, a quem seu Yoshi não só ensinou as técnicas gastronômicas mais importantes, como repassou os ensinamentos de um segundo pai, no que se refere à disciplina na cozinha e respeito a cada ingrediente posto na bancada. Extensão de um trabalho hereditário, que simboliza bem o perfil da cozinha japonesa no Brasil, ressignificado por gerações pela família Matsumoto. Legado que nunca morre.
“Falar de seu Yoshi é falar de um menino de muita experiência. A gente olhava para ele e via muita experiência, sabedoria em tudo. No jeito de chegar, de sair, falar e ensinar. E, ao mesmo tempo, aquele sorriso leve de menino, que marcava”,
Rivandro França, chef
“Desde 2000, que aprendi muito através de um discípulo dele que me ensinava falando com tanto orgulho. Desejei conhecer e aprender com ele. A vida me deu essa oportunidade e nos tornamos amigos, tive conselhos e ensinamentos que me revelaram o mestre que ele é. Técnico, preciso, dedicado, alegre, muitas vezes duro sem deixar de demonstrar quão amoroso era”, Claudemir Barros, chef
“Foi uma das minhas primeiras experiências e contato com a cozinha japonesa. Não fazia ideia do que era, como comer, e o que pedir! Simplesmente fiquei encantado, desde a recepção calorosa de seu Yoshi ao requinte de arte aplicado em cada prato! Não existe ninguém igual a Yoshi no Recife”, Diego Cysneiros, chef-proprietário do Yutake
“Lembro do dia em que conheci o mestre Yoshi Matsumoto. Ao chegar em seu restaurante, ele recebeu o grupo em que eu estava com uma grande festa, o sorriso largo e a alegria de quem ama o que faz. Achei, por um momento, que éramos privilegiados naquela noite. Mas logo mais pude perceber que aquela recepção era dada a todos que entravam pela porta. Era a forma de ele agradecer por ter sido escolhido, por poder compartilhar o amor pela cozinha e pelo ato de servir”, Luciana Barbo, jornalista de gastronomia
“Sr. Yoshi era uma pessoa diferenciada, que me cativou desde a primeira vez que o conheci por sua paixão pelo que fazia. Sempre sorridente e cheio de histórias, era uma alegria poder estar ao seu lado. Obrigada por tantos ensinamentos, Sr. Yoshi! O senhor fez a diferença e será para sempre lembrado”, Mariana Dias, chef
“Yoshi venceu, com sua cozinha paciente e resiliente, algumas das principais adversidades históricas do século 20. Imigrante fugido das várias consequências da guerra, chegou ao Brasil e, outra vez, fugiu: trocou o trabalho nas lavouras de arroz do Sul pela aposta de uma vida nova no Nordeste. Lembro quando me disse que chegou a fazer sushi de coração de boi - mostrando como uma grande culinária terá sempre a capacidade de se adaptar para seguir sendo a mesma”,
Bruno Albertim, jornalista
“Uma grande perda para a gastronomia do Recife. Seu Yoshi sempre foi um mestre da culinária nipônica, com sua generosidade e alegria juvenil. Um talento que uniu técnica, criatividade e sensibilidade para criar obras como a “Corina” (colina de atum), um prato lúdico onde as nuvens de macarrão frito surgiam atrás do relevo formado por fatias do pescado. Pura poesia”, Marcelo Katsuki, jornalista
Mestre, gentil e sem filtros. Querido, amado por todos. Exemplo de correção e ética, Competência e talento. Seu nome ficará gravado na minha vida pessoal e profissional”, Duca Lapenda, chef
“Muitas vezes é difícil encontrar as palavras certas em um momento como este. Que o nosso grande mestre Yoshi vá em paz. Guardaremos na memória a sua alegria de viver e a satisfação em ensinar para todos ao seu redor”, Cláudia Luna, chef do Bar do Luna
“Seu Yoshi, como era respeitosamente chamado, era acima de tudo um ser humano fantástico, de uma generosidade ímpar! Era um profissional exemplar, sempre pontual e responsável! Ele tinha uma alegria contagiante e um humor inabalável”, Rodrigo Rossetti, professor do IFPE
“O mestre Yoshi sempre foi para mim um exemplo a ser seguido. Quanta dedicação e cuidado ao que se faz. De uma simplicidade, um carinho, uma gentileza com todos. Um verdadeiro mestre. Nossa família está em luto”, Alcindo Queiroz, chef
“Mestre Yoshi é inspirador. O mundo poderia estar em chamas e ele continuava de sorriso aberto e com tranquilidade. Me recebia e recebia minha família com alegria e abraço apertado, logo mandava fazer a melhor colina de atum do planeta”,
Sofia Mota, chef
“Um dos homens mais sábios que já conheci, de uma humildade imensa. Tive a sorte de aprender e conhecer um pouco sobre sua cultura e seu amor pela cozinha japonesa (sua arte sempre com muita técnica e respeito a tradição)”, Marcela Souto, chef do Nez Bistrô
“Uma das pessoas mais generosas que conheci na gastronomia. Calmo, gentil, educado, grande profissional. Dono de muita técnica e com humildade única”, Ricardo Castilho, diretor editorial da Revista Prazeres da Mesa