Investimentos

Como investir entre o risco de 2ª onda do coronavírus e a vacina

Conservadorismo é apontado por especialistas como melhor posição a tomar

Seguir o planejamento é importante para os investimentos - Marcello Casal Jr./Agência Brasil

O risco de uma segunda onda de Covid-19 no País assombra muitos investidores. Por outro lado, apesar da insegurança de que um novo lockdown seja necessário para frear a proliferação da doença, a possibilidade de liberação de uma vacina traz uma segurança para que a tranquilidade volte para o mercado financeiro. Especialistas recomendam que nesse momento de incerteza no País, a melhor posição a se tomar é manter a carteira diversificada e não tomar decisões que fujam da estratégia adotada.

O mês de setembro não foi positivo nas bolsas mundiais. O receio de uma nova onda assombrou o mercado e derrubou os principais índices acionários. Em Nova York, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq acumularam perdas de 2,28%, 3,92% e 5,16%, respectivamente.  Já na Europa, o DAX alemão e o FTSE 100 inglês e o PCAC francês recuaram, em ordem, 1,43%, 1,63% e 2,91%.

O mercado brasileiro também entrou na esteira negativa. Fechou o período em queda de 4,80%, e o Ibovespa retomou a faixa abaixo dos 100 mil pontos. Mas em momentos como esse, muitos se perguntam se o melhor a fazer é comprar ou vender as ações. Mas economistas indicam que o momento é de cautela, e não de  tomar decisões precipitadas.

Segundo o sócio da Finacap Investimentos, Alexandre Brito, historicamente o aconselhável é que as pessoas que investem tenham uma carteira diversificada de investimentos, para sempre ter alternativas de onde recorrer em momentos de crise econômica.

“O que a gente vê historicamente, que o principal é ter uma carteira bem diversificada, nem muito concentrada em renda variável, mas nem concentrada em conservador, para poder se proteger em momentos assim. O mais complicado é tentar prever algumas coisas, se posicionar de uma forma e acontecer outra coisa. O que orientamos é seguir a locação estratégica da carteira e periodicamente fazer o balanceamento dela, voltar para estratégia. É ter isso bem desenhado”, disse.

Além de manter a carteira diversificada em todos os momentos, Alexandre Brito aponta que é bom não se desesperar nem tomar decisões que sejam precipitadas, para não ter um prejuízo. “Isso é a pior coisa, quando tem um momento de estresse o mercado fica nervoso e o melhor é não fazer nada, não comprar, não vender, esperar o momento acalmar. É ter uma estratégia que seja condizente com o seu perfil, não ter um risco tão concentrado, disciplina de seguir estrategicamente. Isso funciona muito melhor do que fazer operação muito exótica”, declarou.

Já de acordo com o sócio da Múltiplos Investimentos, João Victor Scognamiglio, caso uma segunda onda de Covid-19 aconteça, o momento pode não ser tão ruim para o mercado, já que o mundo financeiro já sabe lidar com o cenário da pandemia.

“Estaríamos mais preparados, isso faz com que o mercado esteja protegido. O ponto principal é o investimento de certa forma. Quando a gente fala disso, as pessoas pensam em boa hora de comprar ações, vender. Não existe a melhor hora de comprar, investimento é algo ao longo da vida. Do ponto de vista do mercado, se ficar refém de investir ou não por conta de uma segunda onda ou da vacina, é como se estivesse esperando uma crise imobiliária para comprar imóvel, isso não é aconselhável”, afirmou.

João destaca que é importante manter o investimento diversificado, priorizando diversos ativos que ofereçam ganhos variados. “A melhor forma de investir é ter seu patrimônio diversificado em classe de ativos diferentes. Ter uma parte no tesouro direto, parte em ações, fundos imobiliários moedas estrangeiras, moedas descentralizadas. Por mais que um ativo ou outro esteja assim, vai ter mais previsibilidade. A melhor coisa é se proteger, proteger o patrimônio, que é mais importante que buscar aumentar o patrimônio, e ganhar em um longo prazo”, aconselhou.

O sócio da Múltiplos Investimentos conta ainda que se uma nova onda surgir, determinados setores podem ser uma boa opção de investimento. “Tem setores que serão menos afetados na pandemia, como o de saúde, elétrico, varejo. Já existem outros que podem ser afetados de forma negativa, como o turismo. Mas isso não muda muito, se tratando de ações. O ponto principal é diversificar e não tomar atitude drástica, não se precipitar”, contou.

Na avaliação do economista e professor do Cedepe Business School, Tiago Monteiro, apesar da instabilidade, o momento pode servir pra que oportunidades sejam aproveitadas, ainda que o cenário instável do Brasil não seja favorável para um cenário tranquilo. “Nos últimos três dias vimos a Bovespa cair muito, e tudo isso porque temos alguns fatores. Além de uma segunda onda, a fuga de investidores do Brasil foi muito grande. A dívida pública alta, contas públicas, não vimos avanço das reformas estruturantes, gargalos políticos, essa instabilidade também compromete para a instabilidade do mercado”, analisou.

O economista também afirma a importância de uma carteira diversa de investimentos, e que, se houver alguma chance de arriscar um investimento, que só seja feito se trouxer segurança nos outros. “A cautela é a tônica do mercado, investimentos seguros, mesmo que seja negativo, mas você tem a segurança do dinheiro lá. Quando se corre atrás de uma rentabilidade maior, tem uma incerteza. Existem oportunidades em todos os cenários, é ter um olhar mais clinico e cirúrgico. Pode errar em dez, mas acertar em um e recuperar tudo. A grande questão é saber que a oscilação de mercado é normal”, finalizou Tiago.

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