Em comícios finais, Trump e Biden reafirmam posições opostas na crise da Covid
Os dois candidatos dão tanta atenção a alguns estados porque os resultados neles são considerados indefinidos e, portanto, podem ser modificados na reta final
Na véspera da eleição nos EUA, os candidatos a presidente seguiram com a estratégia de fazer muitos eventos em estados considerados decisivos. O democrata Joe Biden se concentrou em Pensilvânia e Ohio, e o rival Donald Trump seguiu com agenda cheia, com cinco comícios em quatro estados diferentes.
Anthony Fauci, um dos principais infectologistas dos EUA e diretor do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas, alvo de críticas do presidente, tornou-se o assunto do dia nos comícios. "Elejam-me, e eu vou contratar o doutor Fauci, e nós vamos demitir Donald Trump", disse Biden nesta segunda-feira (2).
Durante um evento nos arredores de Miami, na Flórida, na noite de domingo (1º), apoiadores de Trump fizeram coro para pedir a demissão de Fauci. Em seguida, o presidente respondeu: "Não contem a ninguém, mas me deixe esperar até um pouco depois da eleição".
No entanto, Trump não tem poderes para demitir Fauci, porque ele é funcionário público de carreira. O diretor só pode ser removido do cargo após um processo interno que o considere culpado de cometer falhas graves. Regras federais impedem que a dispensa ocorra apenas por razões políticas.
O ataque a Fauci veio após o infectologista reafirmar que a situação da pandemia segue preocupante no país, ao contrário do que defende Trump. O republicano diz que a crise está perto de acabar, enquanto os EUA registram recordes de novos casos. Na sexta (30), foram 99.784 diagnósticos de Covid-19.
"Ainda vamos sofrer muito. Não é uma boa situação", disse Fauci ao jornal The Washington Post na sexta-feira (30). "Todas as estrelas estão alinhadas no lugar errado às vésperas das temporadas de outono e inverno [no hemisfério norte], com pessoas se reunindo dentro de casa. Seria impossível estar em uma posição pior", afirmou o especialista, ao comentar como o país lida atualmente com a pandemia.
Em Cleveland, no estado de Ohio, Biden voltou a acusar Trump de gerir mal a crise sanitária e a culpá-lo pelas mais de 230 mil mortes no país devido à doença. Chamou o presidente de "fraco" e "vergonhoso" e prometeu unir o país. "Amanhã temos a oportunidade de por fim a uma Presidência que dividiu a nação."
Nas horas finais de campanha, o ex-presidente Barack Obama, de quem Biden foi vice, foi a campo ajudar o candidato democrata. Ele esteve na cidade de Atlanta, na Geórgia, para um discurso durante a tarde, e seguiria depois para Miami, na Flórida. Ambos são estados onde a disputa está acirrada.
Em Atlanta, Obama atacou os senadores republicanos David Perdue e Kelly Loeffier por terem minimizado a pandemia. "Eles são como Batman e Robin maus. São a dupla dinâmica de fazer coisas erradas. Eu não sei o que eles pensam, mas a Geórgia não está nas mentes deles", disse o ex-presidente, em um esforço para ajudar os democratas a conquistar mais cadeiras no Senado e reconquistar a maioria na Casa.
Biden também recebeu apoio de artistas da música pop, como as cantoras Lady Gaga, que se apresentará em um comício na noite desta segunda (2), em Pittsburgh, e Beyoncé, que postou um vídeo nas redes sociais com uma máscara de apoio à chapa democrata.
A mensagem de Beyoncé foi compartilhada pelas cantoras Ariana Grande e Demi Lovato. Somadas, as três possuem mais de 450 milhões de seguidores no Instagram.
Trump programou cinco comícios para o último dia antes do prazo final para a votação, todos em estados decisivos: Carolina do Norte, Pensilvânia, Wisconsin, e Michigan. Em Fayetteville, na Carolina do Norte, no primeiro evento do dia, disse que um governo de Biden seria apocalíptico.
"Um voto para Biden é um voto para dar o controle do governo aos globalistas, comunistas, socialistas, ricos liberais hipócritas que querem silenciar, censurar, cancelar e punir você", disse.
Como fez em 2016, Trump escolheu fazer o último evento de campanha em Grand Rapids, no estado de Michigan, em comício ao lado do vice-presidente Mike Pence. Antes, o republicano iria a Kenosha, cidade do estado de Wisconsin que viu uma onda de atos antirracismo após policiais atirarem pelas costas em Jacob Blake, um homem negro, durante uma abordagem policial em agosto.
Blake sobreviveu, mas ficou paralisado da cintura para baixo.
Durante os protestos pelo fim da violência policial, que se espalharam pelos EUA no meio deste ano, após o assassinato de George Floyd, Trump adotou um discurso de defesa da lei e da ordem e fez ataques aos manifestantes, classificando depredação de fachadas e estátuas de terrorismo doméstico.
O presidente cumpriu uma agenda frenética nos últimos dias. Foram quatro comícios no sábado e cinco no domingo, em diversos estados diferentes. Para ganhar tempo, os eventos ocorrem nos arredores de aeroportos. Neles, multidões ficam aglomeradas, e muitos apoiadores aparecem sem máscaras, o que aumenta o risco de contágio pela Covid-19.
Biden, por sua vez, optou por percorrer menos estados. Ficou concentrado em Michigan, Pensilvânia e Ohio e fez eventos no sistema drive-in, para que os espectadores o ouvissem de dentro de seus carros.
Os dois candidatos apostam nesses estados porque os resultados neles são considerados indefinidos e, portanto, podem ser cruciais para conquistar a maioria dos delegados do Colégio Eleitoral.
Trump venceu na Pensilvânia em 2016 por apenas 44 mil votos, ou 1% do total. A média das pesquisas atuais apontam Biden 4,8 pontos percentuais à frente naquele estado. Em Michigan, a vantagem democrata é de 8 pontos. Os dados são do site FiveThirtyEight, que agrega várias pesquisas.
Embora as pesquisas nacionais mostrem Biden com vantagem de cerca de oito pontos percentuais no voto popular, o sistema indireto do Colégio Eleitoral pode dar a vitória a Trump. Com exceção de Maine e Nebraska, o vencedor em um estado leva todos os representantes correspondentes à região, mesmo que a vitória tenha sido por margem mínima. Em 2016, Trump conquistou 306 dos 538 votos no Colégio Eleitoral, ainda que tenha recebido 2,8 milhões de votos a menos do que a rival, Hillary Clinton.