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Protestos se multiplicam nos EUA enquanto corrida presidencial segue indefinida

Em Portland, no Oregon, ao menos 11 pessoas foram presas nesta quarta-feira (4)

Protesto na Pensilvânia - Kena Betancur / AFP

O cenário polarizado que se mostra na disputa entre Donald Trump e Joe Biden vai além das cores no mapa eleitoral à medida em que a apuração caminha, a passos lentos, para o fim.

Em várias cidades americanas, milhares de pessoas foram às ruas com pautas que incluem a interrupção da contagem de votos (no caso de apoiadores dos republicanos) ou sua continuidade (entre os democratas).

Em Portland, no Oregon, ao menos 11 pessoas foram presas nesta quarta-feira (4) e a polícia apreendeu fogos de artifício, martelos e um fuzil. A cidade tem sido palco de protestos diários há mais de cinco meses, desde o assassinato de George Floyd, homem negro asfixiado por um policial branco, em maio.

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Desta vez, porém, no lugar dos atos contra o racismo sistêmico e a violência policial, os manifestantes marcharam contra as tentativas de interferência de Trump na apuração eleitoral. O slogan "black lives matter" (vidas negras importam) foi temporariamente substituído por "count every vote" (conte todos os votos).

A autodeclaração -ilegítima e prematura- de Trump como vencedor, seguida por reiterados ataques à lisura dos votos enviados pelo correio e ao processo de contagem, também motivou as centenas de pessoas que foram às ruas a carregarem cartazes com dizeres como "a votação acabou, mas a luta continua".

"É um momento muito perigoso", disse ao New York Times uma manifestante de 59 anos que se juntou aos atos em Portland estimulada pelo medo de que o líder republicano tente continuar no poder mesmo se perder a eleição.

No Twitter, a governadora do Oregon, a democrata Kate Brown, disse que a população do estado tem direito à livre expressão enquanto aguarda o resultado do pleito. "Mas violência política, intimidação e destruição de propriedade não serão toleradas", escreveu Brown, que convocou a Guarda Nacional para ajudar a conter os atos após episódios de depredação de lojas.

Em Nova York, do outro lado do país, a polícia prendeu cerca de 60 pessoas durante protestos que começaram de forma pacífica no distrito de Manhattan, mas escalaram para conflitos com os agentes quando os manifestantes tentaram bloquear o trânsito e algumas entradas das estações de metrô.

Alguns participantes dos atos atearam fogo em lixeiras e jogaram ovos e lixo contra os policiais, equipados com capacetes, escudos e uma espécie de armadura. A repressão dos agentes, entretanto, parece ter sido mais branda do que os episódios de violência dos últimos meses, embora haja relatos de prisões feitas sem justificativa.

"Apreciamos e valorizamos a importância da liberdade de expressão. Nossa maior prioridade é e sempre será a segurança", disse o Departamento de Polícia de Nova York nas redes sociais, acrescendo que as pessoas presas tentaram "corromper um protesto pacífico".

Em Minneapolis, cidade onde Floyd foi assassinado em maio, centenas de pessoas também se organizaram em protestos. A bandeira principal era a garantia da apuração eleitoral sem interferências partidárias, mas mais de 30 grupos se juntaram aos atos com pautas que variavam da luta contra a desigualdade racial a ações contra mudanças climáticas.

A multidão marchou para uma rodovia interestadual, e a polícia teve que impedir o tráfego para isolar a região. Depois, os agentes cercaram os manifestantes e começaram a detê-los, sob acusações de invasão de propriedade e ajuntamento ilegal.

Cerca de 650 pessoas foram fichadas pela polícia e liberadas em seguida, de acordo com a Patrulha Estadual de Minnesota. "Respeitamos o direito de todos de se expressarem sob a Primeira Emenda [trecho da Constituição americana que prevê a liberdade de expressão], mas a rodovia não é um lugar para isso", disse a corporação, em um comunicado.

De acordo com a imprensa local, não houve conflitos entre policiais e manifestantes e ninguém ficou ferido. Enquanto esperavam para serem fichados pela polícia, alguns dos participantes tocaram músicas e dançaram, em um evidente contraste à violência que marcou protestos semelhantes nos últimos meses.

Outras manifestações, em sua maioria pequenas e pacíficas, ocorreram em cidades como Denver, Atlanta e Oakland. A maior parte dos atos foi organizada por apoiadores de Biden que, dois dias após a eleição, ainda é o favorito na corrida presidencial.

Mas grupos que defendem a reeleição de Trump também se manifestaram. Um protesto de apoiadores do republicano ameaçou parar a contagem dos votos em Phoenix, capital do Arizona. Os manifestantes, alguns deles armados com fuzis e revólveres, carregavam cartazes afirmando, sem provas, que as eleições estão fraudadas e gritando lemas de Trump, como "Faça a América grande novamente".

Ato semelhante ocorreu em Detroit, a maior cidade do Michigan. Um grupo se posicionou do lado de fora de um centro de apuração de votos exigindo que os funcionários interrompessem o processo. "Stop the count [parem a contagem]", gritavam os manifestantes, ecoando uma das frases que Trump tem vociferado em letras maiúsculas em suas redes sociais.

Na Pensilvânia, estado que pode decidir quem será o vencedor da eleição deste ano, grupos pró-Biden e pró-Trump se manifestaram em frente a um centro de apuração na Filadélfia.

Vestidos de vermelho -cor que, nos EUA, representa os republicanos-, alguns apoiadores do atual presidente portavam bandeiras e cartazes em que se lia "a votação acaba no dia da eleição" e "desculpe, as urnas estão fechadas".

Assim como Trump, eles são contra a contagem dos votos que ainda virão pelo correio, já que uma decisão judicial no estado permitiu que sejam consideradas as cédulas que chegarem até esta sexta-feira (6), desde que tenham sido enviadas antes da última terça (3).

Em Washington, capital dos EUA e sede da Presidência, uma procissão de carros e bicicletas circulou lentamente pelas ruas em protesto contra o "ataque ao processo democrático" orquestrado por Trump.

Mais de 100 eventos estão programados no país até o próximo sábado (7), de acordo com a organização Protect the Results (proteja os resultados, em tradução livre), que reúne mais de 165 grupos de ativistas.

A coalizão vinha se preparando desde antes da eleição para ir às ruas como forma de tentar impedir possíveis interferências de Trump no processo eleitoral. Seus líderes têm dito que não recorrerão à violência e respeitarão os resultados se o republicano for reeleito -o que, a esta altura, parece pouco provável.

Os grupos, entretanto, mantêm o alerta de que não se pode presumir que o presidente respeitará uma transição pacífica de poder se a vitória de Biden se confirmar.

Nesta quinta-feira (5), Trump voltou a defender a paralisação da apuração. "Parem a contagem!", escreveu ele, em sua conta no Twitter, minutos depois de seu adversário democrata publicar um 
vídeo defendendo exatamente o contrário.

Na lógica do presidente e de seus apoiadores, um dos sinais de fraude é o fato de que a apuração preliminar chegou a sugerir sua vitória em diversos estados, até que os votos por correio começaram a ser contados.

Republicanos tendem a votar presencialmente, enquanto democratas recorrem ao correio. Não há nada de irregular ou de inesperado nessas mudanças em pontos percentuais -mas Trump diz que é um roubo.