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Exército vê menos conflitos no governo e mesmos projetos de defesa com eventual vitória de Biden

O democrata segue à frente do presidente Donald Trump na contagem dos votos

Joe Biden em discurso durante a apuração - Roberto Schmidt / AFP

Integrantes do Alto Comando do Exército veem como positiva uma eventual vitória do democrata Joe Biden na disputa pela Presidência nos EUA, na medida em que uma mudança do eixo de poder americano pode provocar diminuição de conflitos no governo Jair Bolsonaro.

A cúpula do Exército também enxerga pouca ou nenhuma mudança nos assuntos internos de defesa; na relação com a Venezuela do ditador Nicolás Maduro e na visão sobre o fracasso do regime; e nas parcerias com os militares americanos já previstas para 2021, caso se confirme o favoritismo de Biden.

O democrata segue à frente do presidente Donald Trump na contagem dos votos.

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Integrantes da cúpula do Exército ouvidos pela reportagem, sob a condição de anonimato, dizem que a eleição de Biden, se confirmada, pode ter um efeito de reduzir os conflitos públicos travados entre auxiliares de Bolsonaro alinhados à ideologia trumpista e ministros militares.

Para além do radicalismo da militância virtual, os principais vetores desse conflito, hoje, são o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente), e o filho 03 do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

O parlamentar é presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara e chegou a fazer postagens corroborando acusações infundadas de fraudes na eleição nos EUA.

Já o principal vocal do trumpismo no governo, depois do próprio presidente da República, é o ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores).

Em 18 de setembro, com Trump em campanha pela reeleição, Ernesto ciceroneou o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, em visita a Roraima, na fronteira com a Venezuela.

As informações trocadas sobre a visita, registradas antes e depois em comunicações dos postos diplomáticos, ficarão em segredo até 2035, por determinação do Itamaraty, como revelou o jornal Folha de S.Paulo no dia 30 de outubro.

No momento da visita, o Brasil simulava na Amazônia uma operação de guerra sem precedentes, em que "azuis" promoveram a retirada de "vermelhos" na região.

Somente em combustível, horas de voo, transporte e munição, o Exército gastou R$ 8,9 milhões. Participaram da ação 3.600 militares, das mais distintas regiões.

Para generais que fazem parte do Alto Comando do Exército, uma passagem de poder de Trump para Biden não mudará o cenário em relação à Venezuela. Isso porque, segundo eles, nem um nem outro concorda com o regime de Maduro no país.

Os militares brasileiros já precisaram, mais de uma vez, passar mensagens de que não embarcariam em um conflito armado na Venezuela protagonizado pelos EUA de Trump. O alinhamento automático de Bolsonaro e de seu chanceler ao presidente americano sempre alimentou esse temor.

Os próprios documentos oficiais que embasam as diretrizes das Forças Armadas passaram a prever cenários de conflitos na região, mas sem especificar países e situações.

A revisão da Política Nacional de Defesa e da Estratégia Nacional de Defesa, encaminhada ao Congresso, prevê "tensões e crises" no entorno do Brasil.

A confirmação do favoritismo de Biden também não impactará as parcerias militares entre os Exércitos brasileiro e americano, segundo os generais ouvidos pela reportagem. Eles citam duas operações previstas para 2021, consideradas como parcerias consolidadas.

Uma é a Operação Panamax, organizada pelo Departamento de Defesa dos EUA, com a participação de 18 países. O exercício simula combates que se destinariam a ações reais de segurança no Canal do Panamá.

A outra é a Operação Culminating, que faz parte de um acordo entre os Exércitos brasileiro e americano desde 2015. Militares costumam ir aos EUA para treinamentos.

Já na esfera política, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirma que as tentativas de Trump de atribuir ilegitimidade ao processo eleitoral devem despertar a atenção para o que pode ocorrer no Brasil em 2022.

Bolsonaro se coloca sempre como candidato à reeleição e, a exemplo de Trump, aponta fraudes, sem qualquer prova, no sistema eletrônico de votação.

"Eu acho que, em relação a 2022, a gente tem que esperar os próximos seis meses", afirmou Maia, a respeito da intenção do governo de encaminhar reformas, respeitar o teto de gastos -regra constitucional que limita o aumento de despesas à inflação do ano anterior- e cortar despesas.

"Nós vamos ter que entender qual vai ser a decisão do governo. Os próximos seis meses do governo Bolsonaro serão decisivos para seu fortalecimento ou para seu enfraquecimento", afirmou.

Somado a isso, o presidente da Câmara defendeu que se acompanhe a situação nos EUA.

"O exemplo que a gente está vendo dos EUA, como é que esses movimentos mais radicais trabalham processos eleitorais e, principalmente, o processo de apuração", disse, em uma videoconferência do Itaú.

"Acho que isso pode ser um espelho para o Brasil. Não quer dizer que vá acontecer, mas pode ser", afirmou.