Saúde

Três milhões de mortes por ano são evitadas graças às vacinas

Em entrevista à Folha de Pernambuco, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Juarez Cunha, afirma que nada se compara às vacinas na erradicação de doenças

Presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Juarez Cunha - Divulgação/Magic-RM

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Juarez Cunha, o valor das vacinas é inquestionável. Estima-se que cerca de três milhões de mortes por ano são evitadas graças às vacinas, segundo Cunha. Ele afirma ainda que mesmo após comprovações científicas existem vários critérios estabelecidos pelas agências regulatórias para ratificar a segurança e eficácia dos produtos imunizantes antes de ser disponibilizado à população.

Qual a importância das vacinas no controle de doenças transmissíveis?

As vacinas são consideradas a principal estratégia de promoção e prevenção de saúde que existe. Não tem nenhuma outra estratégia, nenhuma outra ferramenta, nem antibiótico que se compara ao valor que as vacinas agregaram em erradicar, eliminar e controlar doenças. É inquestionável e inegável o valor das vacinas na vida de todo mundo. Calcula-se que sejam evitadas em torno de três milhões de mortes por ano graças às vacinas, sem falar na parte de hospitalizações, custos das doenças e sequelas. No Brasil as vacinas contribuíram com o aumento da longevidade, que chega a cerca de 30 anos a mais.

Quais devem ser os critérios levados em consideração pelo poder público para escolher e usar uma vacina na população?

O foco tem que ser sempre na segurança e na eficácia independentemente da origem da vacina. Isso é observado nas fases de pesquisa clínica. Todas as vacinas do nosso programa de imunização passaram por todas essas fases e se mostraram seguras e eficazes. Não há o que temer. Inclusive, mesmo depois de aprovada e aplicada na população esses produtos continuam sendo acompanhados pelos órgãos fiscalizadores. As vacinas comercializadas no mundo são pré-qualificadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS). 

Mesmo depois que uma vacina tem sua segurança e eficácia comprovadas ainda é necessária a aprovação de um órgão de fiscalização?

Existem vários critérios muito bem estabelecidos pelas agências regulatórias que no nosso caso é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Não tem nenhum produto utilizado no Brasil que fique livre desse controle. E não é somente vacina, qualquer tipo de remédio também, por exemplo. Só é liberada a utilização para população com autorização da Anvisa e ela tem critérios extremamente rigorosos e científicos para essa liberação.

O Brasil foi pioneiro na incorporação de diversas vacinas no calendário do SUS, mas nos últimos anos o brasileiro vem deixando de se vacinar. Quais seriam os motivos? 

É um fenômeno que se chama hesitação. Em 2019, houve um alerta da OMS dizendo que a hesitação era uma das dez ameaças para a saúde global. Há vários fatores que levam as pessoas a hesitarem se vacinar. O principal que é relatado por todos os especialistas é a falsa segurança de doenças que as pessoas não conhecem mais, nunca viram, e por isso acham que não precisam mais se vacinar ou vacinar seus filhos. A vivência com informações erradas, fake news e grupos antivacinas também alimentam a confiança nas vacinas. 

Qual o impacto das fake news na vacinação?

A saúde sempre foi uma área que teve muitas fake news. Cada vez mais elas acabam encontrando terreno fértil sobretudo nas mídias sociais. É uma desinformação que leva a consequências gravíssimas. Geralmente quem estava hesitante e tem acesso a uma informação falsa não procura fontes seguras para checar e acaba deixando de se vacinar, correndo o risco de ficar doente. Lembrando também que as vacinas não são pensadas somente para o indivíduo, trata-se de uma prevenção e promoção que se pensa no coletivo.

O que precisamos fazer para reverter esse fenômeno chamado de hesitação? 

O papel das sociedades cientificas é muito importante. Uma informação científica de qualidade tem que ser mais divulgada e para isso temos que aprender também a se comunicar melhor, inclusive as próprias instituições governamentais. Nas décadas de 1980 e 1990 tinha campanhas para incentivar a colocar as vacinas em dia, mas atualmente não há divulgações por parte de órgãos governamentais. As mídias sociais e tradicionais precisam ser melhor utilizadas para reverter essa hesitação cada dia mais presente na população.