'Vamos dançar com todo mundo', diz Guedes sobre eventual vitória de Biden
O ministro ressaltou que o Brasil tem uma dinâmica própria de crescimento
O ministro Paulo Guedes (Economia) afirmou nesta sexta-feira (6) que eventual vitória de Joe Biden nas eleições dos Estados Unidos não vai afetar a dinâmica de crescimento do Brasil. Segundo ele, o governo brasileiro vai "dançar com todo mundo".
Apuração parcial aponta vantagem do candidato democrata em relação ao presidente Donald Trump, que é aliado do presidente Jair Bolsonaro e tenta reeleição.
"A mudança nos Estados Unidos, eventualmente havendo a mudança, me parece, os dados indicam que está próximo de acontecer, não afetam a nossa dinâmica de crescimento de forma alguma", disse Guedes em evento virtual promovido pelo Itaú.
O ministro ressaltou que o Brasil tem uma dinâmica própria de crescimento, com menor grau de dependência de fatores externos. "Continuaremos trabalhando com todo mundo, nós vamos dançar com todo mundo, vamos seguir nosso relacionamento. Agora, também não vou superestimar o fator político quando ele não é para ser superestimado. A dinâmica de crescimento do Brasil depende de nós", afirmou.
Nesta sexta-feira, Bolsonaro voltou a dizer que tem preferência por Trump, mas ponderou que o presidente americano não é a pessoa mais importante do mundo.
No evento, Guedes também afirmou que o país vive uma alta setorial e transitória de preços. Para ele, o fim de programas emergenciais implementados na pandemia do novo coronavírus vai reverter a trajetória de crescimento da inflação.
Nesta sexta, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) informou que a inflação de outubro ficou em 0,86%, patamar mais alto para o mês desde 2002. O grupo com maior elevação foi o de alimentos e bebidas.
Na avaliação de Guedes, o sucesso do auxílio emergencial pago a informais aumentou fortemente o poder de compra das classes mais baixas, criando uma demanda vigorosa por alimentos e materiais de construção. "Esses gastos adicionais criaram uma alta transitória e setorial de preços. [...] Isso vai se diluindo à medida em que vão sendo faseadamente retirados esses incentivos ", disse, em evento virtual promovido pelo banco Itaú. "Estamos trabalhando para impedir que os efeitos sobre a inflação se perpetuem e para garantir que os efeitos sobre a atividade econômica se sustentem".
Guedes afirmou que a aprovação da autonomia formal do BC (Banco Central) é um passo importante para evitar que altas pontuais desse tipo se transformem em permanentes. O texto foi aprovado pelo Senado, mas ainda depende de análise da Câmara.
Para o ministro, será necessário aprovar reformas estruturantes para que seja mantido o fôlego observado na economia com o pagamento do auxílio. "A resposta para isso é investimento, melhora de ambiente de negócios e desbloqueio de marcos regulatórios", afirmou.
Guedes disse que não descarta a manutenção de alguns desses estímulos, mas não deixou claro sobre o que se referia.
Ele afirmou que deseja implementar o Renda Brasil e defendeu que a nova assistência seja fruto da unificação de programas sociais existentes hoje. A ideia, que incluiria a fusão do abono salarial, já foi vetada pelo presidente Jair Bolsonaro.
Participantes do evento sugeriram que o governo privatize estatais deficitárias e use a economia de recursos para bancar o novo programa de transferência de renda. "Podemos transformar estatais dependentes, podemos acelerar desinvestimentos e transformar em politicas sociais? É o nosso sonho", respondeu o ministro.
Na videoconferência, Guedes defendeu a abertura de capital da Caixa Econômica Federal. Para ele, a marca de 100 milhões de contas digitais atingida pelo banco público após o pagamento do auxílio emergencial e de outros programas se tornou um ativo para venda. "Isso também é um ativo novo passível de desestatização logo ali na frente, vamos para um IPO. Da mesma forma, a Caixa Seguridade. Tudo isso são ativos para serem desmobilizados para derrubar a relação dívida/PIB (Produto Interno Bruto)", afirmou.
O IPO da Caixa Seguridade já estava programado, mas acabou adiado.
Guedes voltou a dizer que "agora é juros mais baixo e câmbio mais em cima mesmo". Para ele, a manutenção do dólar em um patamar muito baixo em relação ao real demanda que o país tenha muitas reservas em moeda estrangeira.
"Uma coisa é você estar com uma moeda a R$ 1,80, R$ 2,00, R$ 2,80, claramente sobrevalorizada. Outra coisa é estar a R$ 5,50, aí não precisa de tanta reserva para defender uma moeda que não está mais sobrevalorizada. Possivelmente até já teve um 'overshooting', já bateu lá em cima e já avançou", disse.