Volante do Náutico, Bustamante conta já ter enfrentado desigualdade racial nos EUA
Durante entrevista de apresentação, o jogador de dupla nacionalidade se posicionou sobre os caminhos já traçados na luta antirracista, enfatizando ainda existir muito trabalho pela frente
George Floyd, Breonna Taylor, Jacob Blake, Amarildo, Miguel. Dos Estados Unidos ao Recife, não faltam exemplos de como o racismo pode se expressar nas suas variantes formas, desde um assassinato promovido pela brutalidade policial, à negligência com a vida de uma criança negra. Após a morte de Floyd, ocasionada por um policial branco que se ajoelhou sobre seu pescoço até o matar por asfixia enquanto ele dizia “eu não consigo respirar”, em maio deste ano, os protestos antirracistas ganharam ainda mais força, especialmente com o Movimento “Black Lives Matter” (Vidas Negras Importam), nas ruas e nas redes sociais, apoiado por astros como o norte-americano LeBron James e o inglês Lewis Hamilton.
No Brasil, no entanto, criou-se uma cultura esportiva que geralmente é dissociada da política e de problemas sociais historicamente enfrentados pela população negra, com raras exceções, claro. Há, também, uma dificuldade ainda latente no reconhecimento da identidade do brasileiro como parte do povo latino - além de outras circunstâncias, fruto de um histórico de exploração europeia, em vários aspectos, bastante danosa à constituição do Brasil enquanto nação.
Lembrando que a luta antirracista deve ser constante e que ainda há muito caminho a ser pavimentado, Bustamante, volante recém-chegado ao Náutico, mostrou integrar o quadro das exceções logo de cara, dentro de um assunto que não deve se restringir a hashtags ou frases de efeito. Em sua entrevista de apresentação, o jogador de nacionalidade estadunidense e boliviana, nascido no estado da Virgínia, relatou ter passado por situações de desigualdade racial quando residiu nos EUA com sua mãe, que é afro-americana.
"Eu sou metade afro-americano, minha mãe é afro-americana. Eu vivi com minha mãe nos meus primeiros anos de vida, e nós passamos por desigualdade racial, algumas situações que eu não quero me aprofundar agora. Mas, certamente, agora, no mundo, isso (a luta antirracista) é algo grande. Me orgulho de como me posicionei quando estava na universidade, é algo que afeta você em seu dia a dia. Existem certas coisas que as pessoas dizem que elas não estão muito cientes, no momento, que realmente afetam você, e é bom que todo mundo esteja dando um passo para reconhecer essa situação”, contou Bustamante, esperançoso por mudança no cenário mundial.
Mesmo assim, o cabeça de área alvirrubro, integrado ao elenco há quase duas semanas, destacou ainda existir muito trabalho a ser feito nos diversos setores da sociedade e no futebol, especialmente para coibir atos discriminatórios que ainda ecoam das arquibancadas. Ele citou como exemplo o atacante Mario Balotelli (atualmente sem clube), que diversas vezes serviu como alvo de insultos raciais vindo de torcedores europeus.
“Nos treinamentos, no campo, é bom que as pessoas estejam diminuindo os insultos raciais, mas eu acho que ainda tem muito mais trabalho a se fazer em relação aos torcedores. Na Europa, temos os exemplos de Balotelli e vários outros jogadores, de como isso os afeta. Espero que possamos fazer um trabalho melhor em cima disso", completou.
Formado nas categorias de base do DC United, e jogador da seleção da Bolívia, Antonio Bustamante teve o nome publicado no Boletim Informativo Diário (BID), da CBF, nessa segunda, e está apto a estrear com a camisa do Timbu já na próxima rodada contra o Operário-PR. O duelo acontece nesta sexta-feira (13), às 16h30, no Germano Kruger, pela 21ª rodada da Série B do Campeonato Brasileiro 2020.