EUA

Em um EUA dividido, Trump e Biden homenageiam separadamente aos veteranos da guerra

Ao contrário da tradição, Trump - que deve entregar o governo em 20 de janeiro - se recusou a aceitar a vitória de Biden, projetada pela mídia dos EUA com base em resultados oficiais

Homenagem aos veteranos da guerra nos EUA - Michael M. Santiago / GETTY IMAGES NORTH AMER

Em um EUA dividido, o presidente Donald Trump e o presidente eleito Joe Biden homenagearam os soldados americanos separadamente nesta quarta-feira (11), um tradicional momento de unidade nacional afetado pela recusa do líder republicano em admitir a derrota perante seu rival democrata.

Em sua primeira aparição oficial pós-eleitoral, Trump compareceu antes do meio-dia ao Cemitério Nacional de Arlington, no estado da Virgínia, em cerimônia que marca o aniversário do fim da Primeira Guerra Mundial, ocorrida debaixo de chuva, onde optou por não fazer nenhuma declaração à imprensa. 

Trump depositou flores no túmulo de um soldado desconhecido, onde permaneceu por alguns minutos em silêncio, em gesto de respeito. 

Em comunicado divulgado previamente pela Casa Branca, declarou: "Como comandante-chefe, lutei incansavelmente para apoiar os veteranos americanos".

"Desfrutamos dos privilégios de paz, prosperidade e liberdade graças aos nossos veteranos, e estaremos sempre em dívida com eles de forma incalculável", acrescentou no comunicado. 

Quase ao mesmo tempo, o democrata Joe Biden marcou presença no memorial da Guerra da Coreia localizado na Filadélfia, Pensilvânia, onde também depositou flores em homenagem aos veteranos. 

Também por meio de um comunicado, o líder democrata recordou a dívida do povo americano com suas forças armadas.

A "única obrigação verdadeiramente sagrada" da nação, afirmou o presidente eleito, é "preparar e equipar as tropas que enviamos para o perigo e cuidar delas e de suas famílias quando voltarem para casa", ressaltou Biden.

Posteriormente, o democrata eleito tuitou: "Serei um comandante-chefe que respeitará os seus sacrifícios, compreenderá seus serviços e nunca trairá os valores pelos quais lutou tão bravamente". 

Trump foi amplamente criticado por chamar os soldados americanos mortos na Primeira Guerra Mundial de "perdedores" quando cancelou uma visita a um cemitério militar perto de Paris em 2018, afirmação negada de forma enfática por ele. 

Ao contrário da tradição, Trump - que deve entregar o governo em 20 de janeiro - se recusou a aceitar a vitória de Biden, projetada pela mídia dos EUA com base em resultados oficiais. 

Enclausurado na Casa Branca, o republicano dedicou seu tempo a denunciar supostas irregularidades eleitorais em seu twitter, apesar do consenso de observadores internacionais, líderes mundiais, autoridades estatais e da mídia de que tudo ocorreu de forma transparente e sem graves incidentes. 

Trump disse que uma pesquisa "possivelmente ilegal" pouco antes do dia da eleição o mostrava 17 pontos atrás de Biden em Wisconsin, quando, segundo ele, a corrida estava empatada e, agora, ele estava no caminho da vitória.

"Muitos desses casos 'deploráveis'!", ressaltou no Twitter. 

Biden foi declarado o vencedor em Wisconsin. 

Ele também pediu para acreditar na "versão original" de um oficial dos correios da Pensilvânia, que admitiu perante os investigadores federais ter mentido quanto as suas alegações de fraude.

 "Morda o lábio" 

"É constrangedor, sinceramente", disse Biden na terça-feira, quando questionado sobre o que pensava a respeito da negativa de Trump em assumir ter perdido. 

O fracasso de Trump em reconhecer o presidente eleito não tem força legal em si, embora especialistas ressaltem que isso prejudica o processo democrático e dificulta a transferência do poder. 

Até agora, a Administração de Serviços Gerais, liderada por um funcionário nomeado por Trump, recusou-se a aprovar os fundos e mecanismos previstos por lei para a transição. 

Alheio a isso, Biden já está trabalhando para estar pronto para assumir o cargo. 

Desde que anunciou sua vitória, Biden se dirigiu à nação, criou um comitê de ação contra o coronavírus em meio a um aumento nos casos, assunto sobre o qual Trump nada disse. 

Além disso, ele conversou com líderes mundiais (incluindo aliados de Trump), comentou sobre o plano de saúde que Trump pediu à Suprema Corte para encerrar e começou a estudar a composição do seu governo. 

Ainda que algumas das figuras mais poderosas do Partido Republicano, incluindo o secretário de Estado, Mike Pompeo, e o líder do Senado, Mitch McConnell, pareçam estar apoiando Trump em sua tentativa de minar a vitória de Biden, algumas outras figuras do partido pedem para que ele assuma sua derrota. 

Entre eles, está o secretário de Estado republicano de Montana, Corey Stapleton, que destacou as "coisas incríveis" que Trump realizou durante seu governo.

"Mas esse tempo acabou. Tire o chapéu, morda o lábio e parabenize @JoeBiden", tuitou. 

A contagem de votos mostra que a vantagem de Biden em vários estados que tiveram votação apertada é intransponível e não parece mudar mesmo com os processos movidos por Trump ou com a recontagem planejada na Geórgia, um reduto republicano. 

Em relação à corrida presidencial, o presidente Trump conseguiu os três votos eleitorais do Alasca, segundo a mídia americana nesta quarta-feira, mas essa vitória não muda nada no que diz respeito ao resultado geral das eleições. 

Até agora, Biden tem ao menos 279 votos dos 538 votos eleitorais e precisava de 270 para chegar à Casa Branca. 

Trump conseguiu 217, enquanto espera-se o resultado final na Geórgia, Carolina do Norte, além do Arizona, onde alguns meios de comunicação já dão a vitória ao democrata.