Coronavírus

À espera de vacina, sistemas de saúde enfrentam enormes desafios

A sede da empresa alemã Biontech em Mainz, oeste da Alemanha - Daniel Roland / AFP

No aguardo de uma vacina, na Europa como nos Estados Unidos, a pandemia está aumentando a demanda e pressionando os sistemas de saúde, que enfrentam enormes desafios desde o início do ano. 

O anúncio feito na segunda-feira pelos laboratórios americano Pfizer e alemão BioNTech de uma vacina "90% eficaz" contra a covid-19, de acordo com os resultados preliminares de um ensaio em curso, levantou uma onda de esperança, em um momento em que as estatísticas disparam, com o número de casos e mortes aumentando no Velho e no Novo continentes. 

Isso levou a diretora do Centro Europeu de Controle de Doenças (ECDC), Andrea Ammon, a evocar na quarta-feira um "cenário otimista" em que as primeiras vacinações poderiam ocorrer na Europa no primeiro trimestre de 2021.

Entretanto, ela sublinhou que a situação no Velho Continente é "muito, muito preocupante" e que "todos os nossos indicadores vão na direção errada".

O diretor-gerente da federação internacional de grupos farmacêuticos, Thomas Cueni, disse à AFP que os dados sobre a eficácia e a segurança de outras quatro vacinas desenvolvidas pelos laboratórios Moderna, AstraZeneca, Novavax e Johnson & Johnson devem ser publicados em breve.

"Todos eles devem ser divulgados no final do ano, ou em janeiro-fevereiro do próximo ano", disse ele, chamando a publicação dos dados preliminares da Pfizer e da BioNTech de "a melhor notícia científica do ano".

- "Período longo e trágico"

Nos Estados Unidos, onde a vacinação de pessoas vulneráveis pode começar antes do final do ano, o rápido aumento no número de casos em muitos estados (em média, mais de 100.000 novas infecções por dia) está colocando hospitais em várias regiões sob pressão.

Mais de 65.000 pessoas doentes com covid-19 estão atualmente hospitalizadas em solo americano, de acordo com o Covid Tracking Project, um número nunca alcançado.

"A rapidez do aumento nas hospitalizações por covid (...) sugere um longo e trágico período de aumento de mortes", disse o ex-chefe da Agência de Medicamentos Scott Gottlieb.

"Os casos aumentam primeiro, seguidos cerca de duas semanas depois por hospitalizações, então cerca de duas semanas depois por mortes", apontou o médico de Nova York e professor da Universidade de Columbia Craig Spencer.

"Todos os dados estão indo na direção errada e rápido", alertou.

A primeira onda nunca terminou nos Estados Unidos, mas a curva de contaminação experimentou um total de três aumentos notáveis: um primeiro na primavera, com Nova York como epicentro; uma retomada durante o verão, particularmente no sul do país; e um novo pico desde meados de outubro, em níveis nunca antes alcançados.

Diante desse surto, em um país sem uma estratégia nacional decretada em Washington, os estados estão tomando medidas restritivas de ordem dispersa, às vezes contestadas em nível local por razões políticas, ou econômicas.

Assim, no estado de Nova York e em Minnesota, os estabelecimentos com licença para vender bebidas alcoólicas (incluindo restaurantes) terão de fechar às 22h. Em Utah, o uso de máscara em público se tornou obrigatório.

O governador da Dakota do Norte autorizou que os profissionais de saúde com resultado positivo continuem trabalhando em unidades dedicadas ao vírus, para fazer frente à "enorme pressão" sobre o sistema de saúde.

Na Europa, onde as restrições estão aumentando na tentativa de conter a segunda onda da pandemia, um sinal de esperança veio nesta quinta-feira da Alemanha, onde o Instituto de Vigilância Sanitária Robert Koch falou dos "primeiros sinais" de melhora da curva de infecção.

"A curva está se achatando", declarou o diretor do Instituto, Lothar Wieler, especificando, no entanto, que as medidas restritivas, como distanciamento social ou uso de máscaras, "vão nos acompanhar por muito tempo".

"Devemos evitar que a situação se agrave (...) Nosso objetivo é reduzir as infecções a um nível que nosso sistema de saúde possa suportar", acrescentou.

- Balanços disparam

Depois de França, Inglaterra e vários outros, a Hungria impôs desde quarta-feira um confinamento parcial que deve durar pelo menos 30 dias: reuniões estão proibidas; restaurantes, fechados; eventos culturais e de lazer, cancelados; e o toque de recolher, estendido.

"Faremos excursões ou coisas desse tipo em vez de ir ao pub", comentou o estudante Lorinc Fritz, em um bistrô de Budapeste poucas horas antes de um longo fechamento. 

Já confinada desde sábado, a Grécia decretou toque de recolher (de 9h a 17h) a partir de sexta-feira, após um aumento significativo das contaminações diárias que estão pressionando o sistema de saúde.

E os balanços estão subindo inexoravelmente: o Reino Unido, o país mais atingido na Europa, ultrapassou a marca de 50.000 mortos na quarta-feira; a Espanha, de 40.000 mortos; e a Itália ultrapassou um milhão de casos de covid-19.

A pandemia já matou mais de 1.285.160 pessoas em todo mundo desde que o escritório da Organização Mundial da Saúde (OMS) na China relatou o aparecimento da doença no final de dezembro, de acordo com um relatório estabelecido nesta quinta-feira pela AFP.

Nos Estados Unidos, de longe o país mais enlutado com mais 240.000 mortos, quase 202.000 novos casos foram contabilizados em 24 horas, de acordo com a Universidade Johns Hopkins na terça-feira.

O presidente eleito, o democrata Joe Biden, delineou no início desta semana seu plano de combate à epidemia, que ele tornou prioridade número de seu futuro mandato.