cinema

Diretor de documentário sobre rainha Elizabeth 2ª diz que temeu concorrência de 'The Crown'

'Elizabeth 2ª: Segredos da Monarquia Britânica' estreia neste sábado (14)

Documentário - Divulgação

Ocupando o trono há quase 70 anos, a rainha Elizabeth 2ª esteve praticamente toda a vida sob os holofotes. Aos 94 anos, ela está à frente de uma família que desperta a curiosidade dos plebeus não só onde reina, mas em todo o mundo.

Tanto que além de ser personagem quase obrigatória nos jornais britânicos diariamente, ela já foi tema de diversas biografias (não autorizadas). Mais recentemente, a série "The Crown", da Netflix, se tornou um sucesso mundial explorando de forma ficcionalizada trechos de sua vida.

Neste sábado (14), o canal pago National Geographic estreia, a partir das 23h, o documentário "Elizabeth 2ª: Segredos da Monarquia Britânica", que mostra boa parte dessa história, só que com mais apego factual. O diretor e produtor executivo, Tom Jennings, conta em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo que teve medo de competir com a série.

 



"Estamos falando de um reinado de quase 70 anos e uma vida de 90 anos, que foi fartamente documentada mesmo antes de ela se tornar rainha", avalia. "Eu falei: 'Sabe aquela série 'The Crown'? Então, dá para fazer umas dez horas de material sobre a rainha só com o que aconteceu de fato'. Eles falaram que eu não teria dez horas, mas que tinha que encontrar um jeito novo de contar a história dela."

Para fazer isso, o diretor fez uma extensa pesquisa de seis meses, na qual foi coletado o material. No filme, o público tem acesso a entrevistas inéditas com amigos, empregados e políticos próximos à rainha, áudios e vídeos nunca divulgados, além de outros materiais pouco conhecidos até agora.

O ponto alto é que não há um narrador, são os próprios confidentes de Elizabeth 2ª que vão desvelando os fatos. O recurso só foi possível porque Jennings teve a ideia de contatar diversos biógrafos da rainha, que tinham amplo material gravado e inédito.

Vencedor de diversos prêmios Emmy e indicado ao Pullitzer, o jornalista já tinha feito algo parecido no filme "Lady Di: Suas Últimas Palavras" (2017). Na época, ele descobriu que o autor Andrew Morton tinha fitas gravadas com os depoimentos da eterna princesa de Gales para a biografia autorizada que escreveu dela (publicada em 1992).

"Quando liguei e perguntei se ele liberaria as fitas, ele disse para entrar na fila e que diversas pessoas já haviam pedido isso antes, basicamente ele disse que iria ser enterrado sem nunca liberar esse material", conta. "Mas eu falei que seria algo diferente, sem narração e sem entrevistas, de modo que seria como se a própria Diana estivesse narrando a história do ponto de vista dela. Ele fez uma pausa longa e depois disse que ninguém nunca tinha proposto isso."

A principal diferença para o documentário sobre Elizabeth 2ª é que, em vez da voz dela, são as pessoas próximas que, juntas, formam um mosaico com diversos pontos de vista sobre a rainha. "Encontramos histórias ótimas, e sempre que eles citavam algum evento específico, nós íamos atrás das imagens para casá-las e, de repente, a mágica acontecia", comemora.



Para Jennings, que nasceu na cidade de Cleveland (Ohio), nos Estados Unidos, o interesse que a família real desperta se dá pela construção do imaginário nas pessoas desde a infância, com os contos de fadas. "Todas essas histórias sobre reis, rainhas, príncipes e princesas estão encravadas em nossos corações", afirma. "O fascínio ocorre porque não queremos que o conto de fadas acabe."

Além disso, no caso da família real britânica, a mais popular do mundo, a imprensa local tem uma boa parcela de culpa. "As realezas de outros países talvez consigam manter-se um pouco mais discretas", avalia. "No Reino Unido, especificamente, a imprensa enfia o pé no acelerador na cobertura da família real. E, claro, isso se perpetua com membros mais jovens, como o príncipe Harry e Meghan Markle, por razões diferentes."

O filme deixa claro os diversos altos e baixos sofridos pela monarca ao longo dos anos. A herdeira de George 6º virou rainha muito cedo, aos 25 anos, após a morte precoce do pai. Que, aliás, só se tornou rei porque o irmão, Eduardo 8º, abdicou do trono para se casar com uma americana divorciada, Wallis Simpson.

"Acredito que ela entende o papel que foi imposto a ela pela vida, que genuinamente tem os melhores interesses para o povo britânico e que cabe a ela fazer o melhor trabalho que puder", diz o diretor. "Gosto muito dela, ainda mais agora que eu certamente sei muito mais da história dela."

Ele finaliza narrando o que ela respondeu quando perguntada sobre o que diria ao próprio pai se pudesse encontrá-lo novamente. "Olha, papai, eu consegui, fiz o que você me ensinou e espero que você esteja orgulhoso de mim", diz num raríssimo registro de áudio a própria Elizabeth 2ª.