Cresce pressão pela renúncia do novo presidente do Peru
Lideranças do Congresso peruano iniciaram uma reunião de emergência, neste domingo (15), para buscar uma saída para a crise política que eles próprios desencadearam ao afastarem o então presidente Martín Vizcarra há seis dias
As lideranças do Congresso peruano iniciaram uma reunião de emergência, neste domingo (15), para buscar uma saída para a crise política que eles próprios desencadearam ao afastarem o então presidente Martín Vizcarra há seis dias, colocando em seu lugar o líder da Casa, Manuel Merino.
A portas fechadas, a reunião dos chefes das nove bancadas parlamentares, que começou antes das 9h locais (11h em Brasília), de acordo com fontes legislativas, foi convocada pelo novo presidente do Congresso, Luis Valdez.
Segundo ele, a situação política no Peru é "insustentável", depois da violenta repressão às manifestações em massa contra Merino, que deixaram pelo menos dois mortos e 112 feridos.
Há divergência nos números: enquanto a polícia fala em dois mortos, a Coordenadoria Nacional de Direitos Humanos investiga se foram, na verdade, quatro.
Na noite de sábado, Valdez pediu a "renúncia imediata" de Merino, conforme reivindicado nas ruas por milhares de manifestantes desde terça-feira. Agora, aparentemente, a demanda conta com o apoio de várias bancadas parlamentares, cuja imagem ficou muito deteriorada após o julgamento relâmpago de Vizcarra, um presidente muito popular.
"O Congresso deve pedir desculpas ao país por uma decisão tão irresponsável (de remover Vizcarra)", disse a legisladora Mirtha Vásquez, da Frente Amplio, uma das 19 integrantes do Parlamento que votaram contra a remoção, ao chegar neste domingo à reunião das bancadas.
A imprensa peruana especula que as lideranças estão discutindo maneiras de retirar Merino constitucionalmente do comando e nomear, em seu lugar, um dos 19 que votaram contra a saída de Vizcarra.
Dez dos 18 ministros do gabinete de Merino renunciaram na noite de sábado, após a violenta repressão dos multitudinários protestos contra o atual governo em Lima e em outras cidades do país.
A ação policial tem sido duramente questionada pela ONU e por organizações de direitos humanos, como a Anistia Internacional, desde que começaram os protestos na terça-feira. Foi nesse dia que Merino assumiu o cargo.
Até alguns jogadores da seleção peruana de futebol, concentrados para enfrentar a Argentina em Lima na próxima terça pelas eliminatórias para a Copa do Mundo Qatar-2022, publicaram nas redes sociais pedidos para que Merino recue.
"Chega", escreveu o meia Renato Tapia.
O prefeito de Lima, Jorge Muñoz, do Partido Ação Popular, o mesmo de Merino, também exigiu sua saída.
Merino, um político provinciano de 59 anos, quase desconhecido dos peruanos até assumir o cargo, não comentou as críticas à violenta repressão policial no sábado, nem os apelos por sua renúncia.