A cada 3 brasileiros, 2 acham que desemprego vai aumentar
Pesquisa indica que pandemia aumentou o pessimismo do brasileiro em relação à economia do país
A pandemia aumentou o pessimismo do brasileiro em relação à economia do país e elevou o temor em relação ao mercado de trabalho. Hoje, 2 em cada 3 brasileiros têm expectativa de aumento do desemprego para os próximos meses.
Os dados são da pesquisa "Perspectivas 2020: Expectativa dos Brasileiros com o Cenário Político & Social", realizada pela Acrefi (Associação nacional das instituições de crédito, financiamento e investimento) e pela Kantar. Segundo o levantamento, 67% dos entrevistados afirmam temer uma alta do desemprego. Em outubro de 2019, esse percentual era de 55%.
A pesquisa ouviu 2.000 pessoas das classes A, B, C e D em todo o país entre os dias 2 e 16 de outubro pela internet. De acordo com o estudo, apenas 18% dos brasileiros afirmam estar tranquilos em relação ao atual emprego ou fonte de renda. Para 59%, o cenário é de atenção ou preocupação, enquanto 23% afirmam estar Segundo o IBGE, a taxa de desemprego chegou a 14,4% no trimestre encerrado em agosto. O IBGE só considera desempregados aqueles que procuraram emprego no período do levantamento. Se uma pessoa está sem trabalho, mas não procurou uma vaga por receio da Covid-19, por exemplo, não é computado como desempregado.
O resultado da Acrefi-Kantar está em linha com o que alguns analistas avaliam, considerando como desempregados também aqueles que não procuraram uma vaga, mas que gostariam de trabalhar.
O pessimismo com a economia também aumentou, segundo a pesquisa. O percentual de entrevistados que consideram a situação econômica do Brasil boa hoje caiu de 14%, em outubro de 2019, para 9%, enquanto a fatia dos que consideram a situação péssima aumentou de 15% para 19%. Outros 32% consideram a situação ruim (contra 31% no ano passado), e 37%, regular (contra 38%). O percentual dos que dizem que a situação é ótima caiu de 3% para 2%.
Para um terço dos entrevistados, o crescimento do país vai piorar, contra 32% que acham que vai melhorar. É a primeira vez desde 2017 que há mais pessimistas que otimistas nesse critério. Eram 30% e 43% há um ano, respectivamente.
Mudança de hábitos A incerteza em relação ao emprego e o cenário predominantemente pessimista em relação à economia têm levado brasileiros a reverem hábitos de consumo. A despesa com turismo foi a mais impactada. O percentual de pessoas que relataram ter gasto com viagens nos últimos seis meses caiu de 33% para 13% em um ano.
Os gastos com lazer caíram 81% entre 2019 e 2020, segundo o levantamento, e os com transporte, 67%. Os gastos com vestuário também despencaram na comparação com a pesquisa anterior (queda de 63%).
Na outra ponta, a pesquisa identificou que cresceram os gastos com alimentação (47%) e saúde (29%). A redução no consumo também foi registrada na compra de itens como smartphones, eletrodomésticos e móveis, apesar do auxílio emergencial e programas de concessão de crédito para empresas promovidos pelo governo. Só o percentual de entrevistados que afirmam ter comprado smartphones caiu de 57% para 40%.
A despesa com educação se manteve estável.
A busca por material de construção durante a pandemia -muitas famílias aproveitaram para reformar a casa ou mesmo comprar uma nova residência, além da procura de investidores por negócios imobiliários- fez com que a consultoria passasse a acompanhar a categoria, até então fora do levantamento.
Segundo o estudo, 27% dos entrevistados relataram ter comprado esse tipo de produto nos últimos seis meses.
Entre os que estão dispostos a se endividar, 41% dizem pretender financiar imóveis. No entanto, 37% acreditam que a capacidade de adquirir um imóvel irá piorar -aumento de 7 pontos percentuais em relação à pesquisa anterior.
Apesar do interesse por imóveis, na média geral o brasileiro também está menos disposto a assumir novas dívidas. Segundo a pesquisa, o percentual de entrevistados que pretendem fazer um financiamento em 2021 caiu de 45% para 37% em um ano.
O interesse em financiamento de automóveis, que costuma ser mais alto do que o em imóveis, caiu de 56% para 43%.
"Historicamente, o carro sempre teve 50% ou mais de interesse, agora o carro se iguala a imóveis", afirma Silvia Quintanilha, vice-presidente de atendimento e insights da Kantar.
A pesquisa mostra que, em 2019, 38% dos entrevistados acreditavam que a oferta de crédito para a população iria melhorar no ano seguinte, e 24%, piorar. Os números praticamente se inverteram. Agora, 37% acreditam que a oferta irá piorar, e 29% acham que vai melhorar.
A pesquisa perguntou de que forma o entrevistado irá se comportar com a vida financeira daqui para frente. Dois terços (66%) responderam que irão poupar mais, e 40% afirmam que buscarão novas alternativas de investimentos para economias pessoais.
A maioria dos entrevistados (58%) afirmou que não tem contas em atraso, percentual praticamente estável ao do ano passado. Para Luís Eduardo da Costa Carvalho, presidente da Acrefi, o dado surpreende, porque havia no mercado a perspectiva de retomada mais demorada.
"Todos acreditavam que o cenário de retomada se alongaria, mas começou a acontecer um movimento de reversão, de tração. Isso até surpreendeu, positivamente, o mercado financeiro", afirma Carvalho.
BENEFÍCIOS
A pesquisa questionou ainda quem recebeu benefícios governamentais durante a pandemia. Segundo o levantamento, 48% disseram ter sido beneficiados por algum repasse. Desses, 87% afirmam ter recebido auxílio emergencial.
Com a pandemia, os brasileiros passaram a priorizar mais a saúde. Para 28% dos entrevistados, essa deve ser a prioridade do presidente da República, maior valor da série histórica.
Empatados em segundo lugar na lista de prioridades vêm os gastos com educação e oferta de emprego/reforma trabalhista (ambos com 14%). Houve queda na comparação com a pesquisa feita em 2019, quando esses temas eram prioritários para 19% e 17%, respectivamente.
Houve queda também no percentual de brasileiros que consideram segurança prioridade, de 9% para 3%. Reforma da Previdência, feita em novembro do ano passado, também caiu, de 6% para 1%.