Novo caso de reinfecção de Covid-19 é relatado na Coreia do Sul
Não é possível saber o quanto essas descobertas podem impactar o desenvolvimento das vacinas
Um novo caso de reinfecção por Sars-CoV-2 foi relatado em Seul, capital da Coreia do Sul. Dessa vez, uma mulher de 21 anos teve dois episódios de Covid-19 distintos em um intervalo de 26 dias. O caso soma-se a outros cinco já confirmados no mundo: em Nevada (EUA), Hong Kong, Bélgica, Holanda e Equador.
O estudo de caso foi publicado no último sábado (21) na revista científica Clinical Infectious Disease. Pesquisadores do Centro Médico Nacional, do Centro Médico de Seoul e do Centro Médico Dongsan, da Universidade Keimyung, investigaram seis pacientes com suspeita de reinfecção.
Os pacientes testaram positivo após recuperação de Covid-19 e foram dispensados (com dois exames RT-PCR seguidos com resultado negativo). Após alta, eles voltaram para os respectivos centros médicos e fizeram um novo exame RT-PCR.
Os pesquisadores então colheram essas amostras - a amostra inicial, do momento em que foram admitidos nos hospitais, as duas amostras negativas feitas durante a internação e a amostra da possível reinfecção - e fizeram uma análise filogenética (isto é, por meio da sequência genética dos vírus buscaram construir uma árvore de parentesco).
Porém, na amostra da reinfecção de cinco dos seis pacientes haviam apenas fragmentos virais, não sendo possível sequenciar o material. A sexta paciente, cujo material genético no momento do retorno estava intacto, pode ser analisada. A reinfecção foi confirmada após análise comprovar que as duas amostras virais, a do início dos sintomas e da readmissão hospitalar, se tratavam de cepas distintas do vírus.
A paciente, uma mulher saudável de 21 anos, apresentou sintomas gripais compatíveis com a doença - dor de garganta e tosse - no dia 5 de março, com a duração dos sintomas por uma semana. No dia 11 de março ela foi até o centro hospitalar, onde realizou exames de sangue e uma tomografia do pulmão, além do exame RT-PCR, que confirmou a infecção.
Após receber medicamento para tratar os sintomas, quatro dias depois já estava assintomática e, com dois exames RT-PCR negativos consecutivos, nos dias 26 e 27 de março, ela recebeu alta, no dia 30 de março.
A paciente voltou a apresentar sintomas seis dias depois, no dia 5 de abril, com tosse agravada e catarro. No dia seguinte, procurou assistência médica, e foi colhida uma nova amostra para exame RT-PCR. Dessa vez, a carga viral encontrada foi maior do que a identificada no momento do primeiro diagnóstico.
Assim como na primeira, a segunda infecção foi moderada. Dois exames RT-PCR, nos dias 17 e 19 de abril, confirmaram que o vírus supostamente não estava mais presente no organismo. A paciente seguiu, novamente, para casa, mas retornou cinco dias depois, no dia 30 de abril, para novo exame RT-PCR. Esse último teste não tinha RNA viral completo, e ele não foi avaliado.
O sangue da paciente foi colhido nas três visitas ao hospital para exame sorológico. Foi detectada, cerca de dez dias após a segunda infecção, a presença de anticorpos IgG e anticorpos neutralizantes específicos contra o Sars-CoV-2, e a taxa de anticorpos permaneceu elevada por três semanas após o episódio de reinfecção.
Com as amostras de swab em mãos, os pesquisadores sequenciaram o material genético do vírus e viram se tratar de duas linhagens distintas. O primeiro clado, chamado "V", corresponde à quase totalidade de vírus isolados na Ásia e principalmente na Coreia do Sul, no início de março.
Já o segundo clado, chamado "G", caracterizado por duas mutações distintas na proteína E (do envelope viral), era mais frequentemente encontrado na Europa e foi também encontrado na Coreia do Sul no final de março e início de abril, tornando compatível a hipótese de infecção por duas cepas distintas.
Os autores não excluem, no entanto, a possibilidade de uma co-infecção dos dois vírus. Como não foi possível entrar em contato com a paciente durante o intervalo entre a primeira alta hospitalar e a segunda admissão ao hospital, no início de abril, traçar a origem do vírus, isto é, as possíveis pessoas com quem a paciente tenha entrado em contato, tornou-se limitado.
Além disso, como o nível de anticorpos no sangue da paciente começou a subir no momento da segunda entrada no hospital, atingindo seu pico dez dias após a reinfecção, não é possível afirmar se os anticorpos foram produzidos inicialmente, após o primeiro caso, ou depois, como consequência à segunda infecção.
No entanto, os autores sugerem, com as evidências em mãos, que uma proteção contra uma cepa viral não garante, necessariamente, defesa contra outra cepa. "Recentemente, foi observado que, nos pacientes com quadro moderado de Covid-19, os anticorpos neutralizantes e IgG são detectados após duas semanas do início dos sintomas, e podem cair 30 dias após. Nesse sentido, a dinâmica dos anticorpos da paciente pode ser um indicativo evidenciando a reinfecção por Sars-CoV-2", escreveram os autores.
Os pesquisadores concluem, no entanto, que o estudo apenas evidencia um caso de reinfecção, comprovado pela análise genética distinta, dentro de um universo de mais de 58 milhões de casos em todo o mundo. Não é possível saber até o momento o quanto essas descobertas podem impactar o desenvolvimento e proteção das vacinas contra a Covid-19.