Ações do Carrefour caem mais de 5% após assassinato de homem negro
Beto Freitas foi morto por seguranças em unidade da varejista, que perdeu R$ 2 bi em valor de mercado
O Carrefour Brasil perdeu R$ 2,16 bilhões em valor de mercado nesta segunda-feira (23), após o assassinato de João Alberto Silveira Freitas, homem negro de 40 anos. Ele foi espancado e morto na noite de quinta (19) por dois seguranças de uma unidade do supermercado Carrefour em Porto Alegre (RS), gerando protestos pelo Brasil no Dia da Consciência Negra (20), com depredações a lojas da varejista.
As ações do Carrefour Brasil, que subiram 0,5% na sexta, caíram 5,35% nesta segunda, a R$ 19,30, a maior queda do Ibovespa, principal índice acionário do Brasil, no pregão. A empresa passou de R$ 40,5 bilhões para R$ 38,2 bilhões em valor de mercado.
Já as ações do Grupo Carrefour, na Bolsa de Valores de Paris, cederam 2,2%, após queda semelhante no pregão de sexta.
"As ações do Carrefour caem por conta do ocorrido, com risco de imagem associado a preocupações de impacto financeiro, mas podemos somar também à correção do setor, já que na sexta o Pão de Açúcar se destacou e hoje temos uma realização de lucros", diz Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos.
As ações do GPA (Grupo Pão de Açúcar) subiram 4,55% na sexta e cederam 3,97% neste pregão, a segunda maior queda do Ibovespa após o Carrefour. Na quarta (18), a varejista, que detém as redes Pão de Açúcar, Assaí e Extra, divulgou que vai aumentar os investimentos na área digital e que começará a oferecer serviços logísticos para os vendedores de seu marketplace no primeiro trimestre de 2021, além de lançar a sua carteira digital.
Segundo Chinchila, os movimentos de ações na Bolsa normalmente são ordenados por setor porque fundos costumam investir em setores como um todo. Então, se compram mais GPA, compram Carrefour, por exemplo. Se vendem uma empresa, o inverso ocorre.
Já o Ibovespa subiu 1,26% nesta segunda, a 107.378 pontos, maior patamar desde 21 de fevereiro, antes da OMS (Organização Mundial da Saúde) declarar pandemia de Covid-19. Na sexta, fechou em queda de 0,6%.
O CAC 40, principal índice francês que monitora o desempenho das 40 maiores empresas listadas na Bolsa de Paris, fechou em leve queda de 0,07% nesta segunda e subiu 0,4% na sexta.
A Terra trocou as ações do Carrefour pelas ações da Gerdau em sua seleção de cinco empresas recomendadas e adotou recomendação neutra para a varejista.
"O evento pode gerar pressão sobre o estoque no curto prazo devido a riscos à sua imagem, embora não deva afetar a operação no longo prazo", afirmou a Genial Institucional em comentários a clientes nesta segunda.
Já os relatórios diários para investidores da XP Investimentos e da Guide não traziam menção ao ocorrido ou ao Carrefour.
Nesta sessão, investidores repercutiram o sucesso da vacina da Universidade de Oxford em parceria com a AstraZeneca, que tem em torno de 90% de eficácia com dose menor e sem efeito colateral grave.
Em Wall Street, o índice S&P 500 subiu 0,57%. Dow Jones teve alta de 1,12% e Nasdaq de 0,22%.
O dólar, por sua vez, fechou em alta ante o real, com a retomada da força global da divisa americana após dados robustos de atividade nos Estados Unidos, enquanto o desconforto doméstico sobre a situação fiscal do Brasil seguiu fazendo preço.
O dólar subiu 0,89%, a R$ 5,4360, após saltar 1,39% na sexat. O turismo está a R$ 5,593.
Nesta segunda, a moeda operou em queda pela manhã, mas tomou fôlego após dados de atividade empresarial nos EUA terem vindo bem acima do esperado, com a expansão mais rápida em mais de cinco anos em novembro, liderada pela aceleração mais forte da indústria desde setembro de 2014, segundo a pesquisa PMI (Índice de Gerentes de Compras, na sigla em inglês).
Números fortes nos EUA sugerem que o país segue mais atrativo para investimentos, o que pode direcionar para a maior economia do mundo fluxo de investidores que cogitariam aplicar em ativos mais arriscados, como os de emergentes.
Além do exterior, constantes ruídos sobre o futuro das contas públicas deixaram o real mais frágil, depois de um fim de semana de novas especulações sobre extensão de gastos emergenciais. O ministro da Economia, Paulo Guedes, admitiu haver pressão política para tal, mas tentou passar mensagem de que mais reformas virão e, se houver segunda onda de Covid-19 no país, o governo saberá como agir.
O ministro afirmou ainda que está relativamente satisfeito com as despesas já controladas e disse acreditar que o dólar já fez seu "overshooting". Na literatura econômica, um "overshooting" ocorre quando o preço de um ativo sobe além do que o sugerido pelos fundamentos.
"Você precisa criar uma dinâmica que permita a estabilização da dívida, que seja em 90%, 95% do PIB, mas que ela estabilize, isso é o importante agora", disse Flávio Serrano, economista-chefe do banco Haitong.
"Mas o ambiente desde os últimos governos não tem contribuído para isso. Nossa expectativa é que o cenário para emergentes no curto prazo fique positivo, mas a queda do dólar aqui vai ser limitada pela questão fiscal", completou.