'Defendi Diego e defendo até hoje', diz jornalista que cobriu doping de Maradona
Craque argentino foi suspenso da Copa do Mundo de 1994 por ter caído no teste antidoping
No dia 21 de junho de 1994, Maradona anotou um golaço na vitória por 4x0 da Argentina sobre a Grécia pela Copa do Mundo. Na comemoração, correu até a região da tribuna de honra do estádio e gritou para uma câmera de TV. Aos 33 anos, Diego -que morreu nesta quarta (25) aos 60 anos- queria provar que poderia guiar sua seleção a mais uma conquista mundial, e que o tempo em que ficou suspenso do futebol por consumo de cocaína havia ficado para trás. No entanto, depois de mais uma vitória da Argentina, desta vez contra a Nigéria, o craque acabou suspenso daquele torneio por doping.
"Defendi o Diego, então, como defendo até hoje", diz o jornalista Silvio Lancellotti, que cobriu aquela Copa para a Folha de S.Paulo. "Dizia que ele tinha lá todos os seus defeitos, que inclusive caíra na cocaína mas que, na Copa dos Estados Unidos, não tinha jogado sobre o efeito de qualquer estimulante."
Ele se refere a um texto, publicado neste jornal em agosto de 1994, em que reconstruiu o episódio que levou à suspensão de Maradona. Na ocasião, foi detectada, na urina do jogador, uma substância proibida pela Fifa, a efedrina. Maradona, diz Lancellotti no texto, jurou que não havia tomado nada que não devia. Na relação dos medicamentos receitados ao jogador havia dois antigripais: Nastizol e Decidex, de venda livre na Argentina.
Para evitar maiores problemas à seleção sul-americana, numa reunião com a Fifa, a Associação Argentina de Futebol (AFA) decidiu retirar Maradona da Copa do Mundo. Lancellotti escreveu que "a ideia de um complô contra Maradona impediu [Marcos] Franchi [então representante do jogador] de enxergar a verdade -enfim clarificada, semanas depois, de volta a Buenos Aires."
"Dizia, e provava [a inocência de Maradona], inclusive com a citação de um produto idiota, que qualquer criança podia comprar", diz o jornalista. "Por engano, um tal de Daniel Cerrini, que se dizia dietólogo e que integrava à trupe de trinta pessoas inúteis que o Diego havia levado pra Boston, tinha comprado a versão do produto com a efedrina que apareceria no exame do xixi."
Em agosto, já depois da Copa, descobriu-se que Maradona ingeriu um produto emagrecedor diferente do que usava. Em vez do Ripped Fast, tomou o Ripped Fuel. Segundo a reportagem de Lancellotti, Cerrini, o médico designado pela AFA, era o responsável pela reposição do produto. Ele comprou o Fuel -que produz a efedrina na urina- depois de não ter encontrando o Fast. "Ele foi descuidado, mas eu também fui", Maradona disse meses depois.
Maradona acabou suspenso do futebol por 15 meses e encerrou sua história estrelada com a camisa alvi-celeste. Ele havia feito um esforço notável para emagrecer e chegar em condições de disputar aquela Copa. Diego chegou a jurar "pelas filhas" que não tinha feito nada de errado em 1994. "Cortaram as minhas pernas. Tenho a alma destroçada", disse na época.
Depois do episódio, sua carreira entrou em derrocada, ainda que ele tenha jogado pelo Boca Juniors até se aposentar, em 1997. "Nos cruzamos trocentas vezes. É muito duro, muito triste, pra mim, hoje, ser jornalista, e ter que falar sobre a sua morte", afirma Lancellotti.