Governo

Teles saem em defesa de participação da Huawei no 5G e pedem para ser ouvidas pelo governo

As teles dizem que souberam das possibilidades de banimento aos equipamentos da Huawei pela imprensa, defendem o princípio constitucional da livre iniciativa

Gigante chinesa Huawei - Nicolas Asfouri / AFP

As operadoras de telefonia divulgaram, nesta sexta-feira (27), um comunicado em que defendem a participação da fabricante chinesa Huawei na construção das redes 5G e pedem que sejam ouvidas pelo governo sobre a nova tecnologia que elas terão de implantar no país assim que adquirirem as licenças no leilão previsto para junho do próximo ano.

No documento, assinado pela Conexis Brasil Digital (nova marca do SindiTelebrasil), a associação que representa as empresas do setor, as empresas pedem ao governo "transparência" nas discussões, afirmam que sabem como lidar com eventuais questões de segurança cibernética e, indiretamente, reclamam que até o momento não foram convidadas a participar dos debates.

As teles dizem que souberam das possibilidades de banimento aos equipamentos da Huawei pela imprensa, defendem o princípio constitucional da livre iniciativa e alertam que "eventuais restrições implicarão potenciais desequilíbrios de custos e atrasos ao processo, afetando diretamente a população".

A Conexis informa que os fornecedores globais de equipamentos de rede de telecomunicações já atuam no país nas tecnologias 4G, 3G e 2G. A associação considera que "uma eventual restrição a fornecedores do 5G pode atingir também a integração com a infraestrutura já em operação, com consequências diretas nos serviços oferecidos e custos associados, mais uma vez prejudicando os cidadãos brasileiros usuários".

Recentemente, o presidente da Huawei do Brasil, Sun Baocheng, em entrevista à Folha, disse que um eventual banimento da fabricante chinesa na implantação da rede 5G no Brasil levaria a um atraso de até 4 anos. Isso porque seria preciso que as empresas trocassem todos os equipamentos de tecnologias anteriores instalados pela Huawei porque eles não conversam com os aparelhos 5G de outros fabricantes.

As teles estimam que esse custo seria da ordem de R$ 100 bilhões e não há ainda uma posição do governo sobre essa situação.
Nos bastidores, as empresas reclamam da falta de interlocução sobre o tema com o ministro das Comunicações, Fábio Faria (PSD-RN) e auxiliares diretos do presidente Jair Bolsonaro. Até mesmo no Ministério da Economia o possível banimento da Huawei se tornou um "assunto proibido".

No comunicado, as empresas pedem que o debate seja amplo e técnico. "As principais operadoras do país possuem ampla expertise técnica e grande experiência nos mais elevados e críticos quesitos de privacidade e segurança de rede, e podem contribuir com soluções técnicas eficazes nas discussões que envolvem toda nossa cadeia de produtos e serviços, preservando a segurança do país", diz o documento.

No governo, os principais núcleos de resistência à Huawei são o GSI (Gabinete de Segurança Institucional), comandado pelo general Augusto Heleno, e o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Do ponto de vista do GSI, Heleno levanta suspeitas em relação a possíveis fragilidades dos equipamentos da Huawei que poderiam ser alvo de ataques de hackers ou promover o roubo ou extravio de dados para terceiros, especialmente para o governo da China.

Essa posição vem sendo difundida por representantes do governo dos EUA, país que trava uma disputa comercial com a China e usa o 5G como alvo para enfraquecer o adversário. Segundo as operadoras, a Huawei possui a melhor solução 5G por combinar equipamentos pequenos, com potência de tráfego de dados, e melhor preço.

Como a tecnologia irá habilitar a chamada "internet das coisas" e acelerar a automação das indústrias, o domínio nesse campo significará uma vantagem comercial gigantescas devido ao volume de dados sensíveis que trafegarão pelas redes. O alinhamento estratégico do governo de Jair Bolsonaro com o de Donald Trump fez o Brasil a assinar recentemente um documento em que se alia a um projeto capitaneado pelos EUA de promover um 5G "seguro".

Os EUA também sinalizam com a possibilidade de barrar parcerias em curso com o Brasil na área de defesa e anunciaram até mesmo fundos para financiar as operadoras que optarem por Nokia ou Ericsson na hora de comprar equipamentos para suas redes 5G. Nesta semana, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) saiu em defesa da parceria. No Twitter, ele disse que o programa Clean Network, ao qual o Brasil declarou apoio, pretende proteger seus participantes de invasões e violações a informações particulares. Segundo ele, a iniciativa afasta a tecnologia da China e evita espionagem do país asiático.

"Isso ocorre com repúdio a entidades classificadas como agressivas e inimigas da liberdade, a exemplo do Partido Comunista da China", completou o deputado, que depois apagou parte das publicações. Em resposta, a embaixada do país asiático disse que o deputado acusou a China de fazer espionagem cibernética e ressaltou que ele defendeu iniciativa que discrimina a tecnologia de 5G chinesa.