Esportes

'Não tiraram minha história', dizem atletas negros após exclusão de lista da Fundação Palmares

Dos 27 nomes divulgados por Sérgio Camargo, presidente da entidade, seis são pessoas com uma rica trajetória no esporte do país

Janeth Arcain, ex-jogadora de basquete da seleção brasileira - Divulgação/CBB

Vitórias, pódios e medalhas renderam uma série de homenagens a atletas brasileiros ao longo da história. Uma delas, porém, foi anulada nesta quinta-feira (2), depois de uma medida da Fundação Palmares, que excluiu nomes da lista de "Personalidades Negras".

Dos 27 nomes divulgados por Sérgio Camargo, presidente da entidade, seis são pessoas com uma rica trajetória no esporte do país. Todos foram excluídos sob o mesmo argumento: a homenagem agora é póstuma.

Dessa forma, Ádria Santos, Janeth Arcain, Joaquim Cruz, Servílio de Oliveira, Terezinha Guilhermina e Vanderlei Cordeiro de Lima foram retirados da lista, assim como os cantores Milton Nascimento e Gilberto Gil, a ex-senadora Marina Silva (REDE), a ex-governadora Benedita da Silva (PT-RJ) e a atriz Zezé Mota, entre outros.

Os esportistas reagiram à decisão da Fundação Palmares, entidade ligada ao Ministério da Cultura, cuja presidência está nas mãos de Sérgio Camargo desde o início do mandato de Jair Bolsonaro (sem partido). A velocista paralímpica Terezinha Guilhermina, por exemplo, lamentou a decisão, mas ressaltou que as conquistas não podem ser esquecidas.

"Não deixo te ter feito as coisas que fiz. Com ou sem homenagem continuarei a ter a minha história, me tiraram da lista, mas não tiraram minha história. Tomara que eu volte para a lista, mas não vou poder presenciar. É desnecessário, dá para homenagear todo mundo. Caberia todo mundo", disse Terezinha, que é dona de oito medalhas paralímpicas, com dois ouros nos 200 metros rasos, em Pequim-2008 e Londres-2012.

Com 13 medalhas paralímpicas na carreira, incluindo três ouros nos 100 metros rasos, Ádria Santos também se mostrou incomodada com a situação. Para ela, a medida da Fundação Palmares atrapalha a busca de atletas negras por espaço no esporte.

"Fico triste, foi uma homenagem pelo meu feito no esporte. Excluir é uma palavra tão forte. Fiquei surpresa e ao mesmo tempo triste com isso. Acho que as pessoas estavam lá por mérito, como eu, por representar o país, por tudo que fiz", afirmou.

"A gente não deveria excluída, deveria ser incluída com homenagens. Fizemos tudo com dedicação, amor. É triste saber que abrimos mão de tantas coisas para colocar nosso país lá em cima. Sempre tive orgulho de usar as cores do país. É triste. A gente vem lutando para conseguir espaço e isso acontece. É complicado, é até difícil falar", completou Ádria.

Janeth, uma das referências do basquete nacional, também lamentou a atitude da Fundação Palmares. "Tudo isso só confirma que o nosso país não consegue valorizar o que nós atletas e outras pessoas fazem pelo Brasil. É triste, mas a gente respeita", frisou.

Em contato por telefone, Joaquim Cruz, que mora nos Estados Unidos, foi pego de surpresa pela exclusão. Ele também considerou anormal a medida da entidade. "Retiraram esses nomes por que nós não estamos fazendo mais nada? Não entendo. Precisa ter uma explicação melhor", ressaltou o campeão olímpico nos 800 metros rasos, em Los Angeles-1984 e prata em Seul-1988.

Já o ex-boxeador Servílio de Oliveira, que conquistou uma medalha de bronze nos Jogos de 1968, no México, disse acreditar que tal medida está ligada à polarização do país. Vanderlei Cordeiro de Lima, prata na maratona da Olimpíada de 2004, em Atenas, foi procurado para comentar a atitude da Fundação Palmares, mas não atendeu à ligação, tampouco retornou a mensagem enviada.