Literatura

'Tem toda uma literatura que precisa ser visibilizada', diz Cida Pedrosa, vencedora do Jabuti 2020

Cida é a primeira mulher pernambucana a levar a principal categoria da premiação mais importante da literatura nacional

Poeta Cida Pedrosa - Foto: Rick Rodrigs/Divulgação

O Recife sempre esteve presente na poesia de Cida Pedrosa. Mas no livro “Solo para Vialejo”, de 2019, a poeta faz uma viagem do mar ao Sertão, encontrando sua ancestralidade em Bodocó, cidade natal. As 128 páginas lançadas pela Cepe Editora foram vencedoras nas categorias “Livro do Ano” e “Poesia” do Prêmio Jabuti. Um acúmulo de conquistas para uma escritora que já havia publicado 10 livros, com questões sociais, de gênero, raça e que sempre faz um mergulho profundo em outras artes. Cida é a primeira mulher pernambucana a levar a principal categoria da premiação mais importante da literatura nacional, além de visibilizar a literatura fora dos grandes centros urbanos brasileiros. 

A conquista não é apenas simbólica. É o reconhecimento de um trabalho de uma das escritoras que têm aprofundado nas artes a cada verso publicado. Como ela disse, em entrevista à Folha de Pernambuco, “Nesse livro, é como se eu fosse fazendo os caminhos que os negros, negras e índios fizeram para o Sertão. É a história do meu povo, de Bodocó, uma cidade quem tem músicos incríveis. Vou contando desse som, dessas imagens”, conta Cida Pedrosa. 

Pedrosa nasceu em Bodocó, mas se mudou a Capital pernambucana ainda aos 14 anos, com a proposta de estudar. Aqui, no centro urbano, já moravam alguns dos seus irmãos mais velhos. Mas, engana-se quem pensa que as ligações com o Sertão pernambucano foram desfeitas. O livro começou a ser produzido em 2016, como um resgate de memórias afetivas da escritora com a sua ancestralidade. O principal caminho é a BR-232, o elo que liga o mar ao sertão, que corta Zona da Mata e Agreste, e traça uma linha em um estado cheio de histórias como Pernambuco. 

Sobre o prêmio, o primeiro da carreira, ela é enfática nas bandeiras que carrega na militância e na arte. “É muito importante porque a literatura tem um cânone muito masculino e muito branco. Esse Prêmio Jabuti teve uma característica muito interessante porque nas cinco finalistas de poesia a maioria era composta por mulheres. Eu considero importante porque foi o coroamento de uma vida dedicada à literatura”, explica Cida. 

Ela também enfatiza o fato de a valorização da literatura que está à margem. “Eu acho que tem toda uma literatura que precisa ser visibilizada. A gente tem grandes escritoras e escritoras fora desse eixo. De que descentralidade estamos falando? Quando a gente está falando em Pernambuco, o epicentro está no Rio de Janeiro e São Paulo. Mas quando você está no Interior, o epicentro é o Recife. Como podemos valorizar esse que está na margem?”, frisa.

Eleições 

O Jabuti não foi a única conquista da poeta. Nas eleições municipais, Cida se elegeu como vereadora do Recife pelo PCdoB, partido ao qual ela disse destinar parte dos recursos ganhos na premiação. Em setembro, ela foi alvo de um ataque hacker no lançamento do seu último livro, “Estesia”, na plataforma Google Meet. Na época, ela considerou como um “ataque à democracia”.