Morre o poeta e ex-presidente da Fundarpe Jaci Bezerra
O poeta e editor pernambucano Jaci Bezerra morreu, nesta quinta-feira (10), em decorrência de uma parada cardiorrespiratória. Ex-presidente da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Jaci deixa memória em forma de poesia para quem quiser revisitá-lo.
Nascido em Jaboatão dos Guararapes, Jaci foi um dos expoentes da geração 65, grupo de poetas reconhecido nacionalmente. Durante sua carreira, sempre no setor da cultura, Jaci editou o suplemento literário do Diario de Pernambuco e ocupou o cargo de presidente da Fundarpe em 1987.
Leia uma de suas criações:
CANÇÃO
Vou plantar na varanda a minha mágoa,
e espero, assim, que a vida a mim esqueça.
Fluídico e sereno como as águas
deixem, vocês, que eu me desapareça.
Vou partir depois disso, prontos tenho
o passaporte e a blusa de emigrante.
Deixem vocês, eu parto como venho
para ser outra vez o que fui antes,
As lágrimas ardendo são estrelas
cintilando no fundo de outro poço.
Vocês não se debrucem para vê-las
que, nelas, acharão só meus destroços
(a canção que inventei de ouvido, inteira,
e as rosas florescendo nos meus ossos).
Não procurem saber dos meus intentos,
peço como um favor, ninguém me ouça,
pois rosário já vem tangendo os ventos
e apaziguando a minha carne moça,
vem molhada de luz, vem sem lamentos,
trazendo um lírio em suas mãos de louça.
Já é chegada a hora da partida,
No meu bolso soluça o coração,
por isso, não liguem muito à vida
que para olhar e ver, trago na mão.
Nem olhem, se ainda me veem, para a ferida
que expõe, aberta, a minha solidão.
Parto rendido e entregue aos meus afetos,
e amigos que não tenho, não terei.
Matei as sempre-vivas do deserto
recusando as canções que não criei.
E descobri, sentindo o amor tão perto,
que nada sou do sonho que inventei.
*Poema de Jaci Bezerra extraído de POETAS DA RUA DO IMPERADOR. Recife: Pool, 1986. Coletânea em homenagem ao Dr. F. Pessoa de Queiroz e ao jornalista Esmaragdo Marroquim.