No primeiro ano de Bolsonaro, IDH avança lentamente, e Brasil perde posições
Crescimento é lento e reflete especialmente desigualdades de gênero e de renda
O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) no Brasil em 2019, o primeiro ano do governo Jair Bolsonaro (sem partido), teve um leve aumento. Porém, o resultado é insuficiente para promover um avanço do país no ranking global.
Pelo contrário: o Brasil perdeu cinco posições em um ano, saindo de 79ª colocação para 84ª entre 189 nações avaliadas.
Compõem o índice a expectativa de vida ao nascer, a escolaridade e a renda. O IDH do Brasil ficou em 0,765 em 2019, ante 0,762 em 2018, um acréscimo de 0,39%. No ano anterior, o índice foi de 0,761.
O crescimento é lento e reflete especialmente desigualdades de gênero e de renda, como apontam outros indicadores formulados pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). O ritmo vem derrubando o país no ranking global, de forma continuada.
Em relação a 2014, ano citado no relatório divulgado pelo PNUD para efeito de comparação, o Brasil perdeu duas posições. Os indicadores vão piorar em 2020, em razão dos efeitos da pandemia do novo coronavírus.
O PNUD projeta uma queda generalizada do IDH global neste ano, em proporções muito superiores, por exemplo, ao verificado na crise financeira de 2008.
O valor exato do impacto da pandemia da Covid-19 no desenvolvimento humano em cada país só será conhecido em 2021.
Quanto mais próximo de 1, melhor o IDH de um país. A Noruega, que lidera o ranking do desenvolvimento humano, tem um IDH de 0,957.
A posição intermediária do Brasil ainda o coloca no grupo de países com alto desenvolvimento humano. Estão nesse grupo nações com IDH entre 0,7 e 0,799.
Na América Latina, o Brasil tem IDH inferior a Chile, Argentina, Uruguai, Cuba, México, Peru e Colômbia. O país está à frente de Equador, Paraguai, Bolívia e Venezuela.
A análise da composição do IDH revela um país com alta expectativa de vida ao nascer: 75,9 anos em 2019. O incremento foi de 0,2 em relação a 2018. Em 1990, essa expectativa era de 66,3 anos.
Já os anos previstos de escolaridade estão estagnados desde 2016, em 15,4. A média dos anos de escolaridade teve um leve aumento, de 7,8 para 8.
O país patina na renda per capita da população, sem conseguir equiparar os ganhos alcançados em 2010. Naquele ano, a renda per capita anual alcançou US$ 14.409. Caiu em 2016, e não mais se recuperou aos níveis alcançados. Em 2019, ficou em US$ 14.263, um aumento de 0,5% em relação a 2018.
O PNUD tem instrumentos para calcular perdas de desenvolvimento humano em razão de desigualdades em um país. Para isso, criou um indicador chamado IDH-D, que faz ajustes no IDH a partir de fatores de desigualdade.
A desigualdade derruba o IDH do Brasil, de 0,765 para 0,570. O Brasil é bem mais desigual do que outros países.
No IDH-D, a posição no ranking global cai de 84ª colocação para 104ª. A perda é mais expressiva do que a verificada na Colômbia, no México e na América Latina como um todo.
Um movimento semelhante ocorre quando se analisa o recorte de desigualdade de gênero. Somente por este recorte, o país ocupa a 95ª posição. São levados em conta fatores como mortalidade materna, gravidez na adolescência e cadeiras ocupadas por mulheres no Legislativo.
Pela primeira, o PNUD calculou o impacto do desenvolvimento humano no meio ambiente. Foi uma forma de tentar aferir o custo ambiental do incremento na qualidade de vida das pessoas.
Para isso, levou em conta emissões de CO² (toneladas per capita) e o uso de recursos materiais por uma população (também em toneladas per capita).
A aplicação desse critério faz o IDH brasileiro cair para 0,710. A queda, porém, não ocorre no mesmo ritmo de outros países, o que significa que o desenvolvimento humano tem um menor custo ambiental no Brasil do que em outras nações.
Levando-se em conta esse recorte, o Brasil subiria dez posições na tabela. A China, por exemplo, cairia 16 posições. Seu IDH é fortemente reduzido, de 0,761 para 0,671.
No relatório do PNUD, o Brasil é citado diversas vezes em relação à questão ambiental. O documento cita os incêndios no Pantanal neste ano e o desmatamento da Amazônia.
Vegetação nativa se perdeu para a exploração da madeira e para novos usos da terra, conforme destaca o relatório do PNUD. O documento faz uma ressalva: a biodiversidade é preservada em terras indígenas brasileiras, em razão do modo de ocupação desses espaços pelos indígenas.