'É como se fosse uma luz no fim do túnel’, diz pernambucana vacinada contra Covid no Canadá
“Uma pernambucana tomando a vacina deixa os pernambucanos esperançosos”. É assim que a pernambucana Edlene Martins de Andrade, de 40 anos, descreve um pouco da sensação de ter sido imunizada contra a Covid-19. Ela vive há oito anos em Ottawa, capital federal do Canadá, terceiro país do mundo ocidental a começar a vacinar a sua população em massa contra a doença.
A personal support worker, profissão similar a de técnica de enfermagem no Brasil, foi uma das primeiras habitantes do Canadá e uma das 100 primeiras de Ottawa a receber a primeira dose da vacina contra o coronavírus Sars-CoV-2 esta semana, na terça-feira (15).
Edlene trabalha na linha de frente do combate à Covid-19, no Perley Rideau Veterans Health Center, um asilo para idosos veteranos de guerras, de onde é funcionária há três anos.
Em conversa por telefone com a Folha de Pernambuco, a pernambucana relatou o processo até receber a primeira dose do imunizante - a segunda será administrada no começo de janeiro - e compartilhou um pouco da esperança que ela deseja para os brasileiros, em especial para os pernambucanos e para os profissionais de saúde.
“É como se fosse uma luz no fim do túnel para todo mundo. Foi uma sensação de gratidão, de alegria, meu coração queria sair pela boca. Queria gritar na rua ‘estou imunizada’”, relatou, emocionada, a pernambucana, que foi para o Canadá com o marido, o biomédico Gabriel Lobo de Queiroz, de 39 anos, em busca de novas experiências e novos idiomas. Edlene inclusive conseguiu a cidadania canadense em 2018.
A pernambucana recebeu a primeira dose do imunizante um dia após o país começar a vacinar em massa. Primeiramente, foram disponibilizadas vagas para os profissionais de saúde que estão na linha de frente como ela.
“Como trabalho numa instituição de veteranos de guerra, recebemos algumas vagas para ter direito de receber a vacina logo. Passamos por situações de funcionários que pegaram o vírus, alguns idosos faleceram. Quem se cadastrou logo tinha direito a tomar a vacina. Como boa pernambucana, a gente não dormiu no ponto”, detalhou Edlene.
Após realizar o cadastro, a pernambucana recebeu um e-mail do governo com a confirmação do seu horário e local para a imunização. A primeira dose para Edlene seria administrada às 9h15 (horário local; 11h15 em Brasília) de terça-feira. Ela chegou cerca de uma hora antes ao centro médico e aguardou a sua vez dentro do carro.
“Fazia uma temperatura de -13ºC, um frio que não tem cuscuz no mundo que sustente. Fiquei esperando a hora do lado de fora. Tremia de frio, mas não saía. Na hora certinha, fui chamada, todo mundo me recebeu muito bem, com um sorriso no rosto, uma felicidade ímpar. Nunca fiquei tão feliz de tomar uma injeção”, relembra Edlene.
Depois de receber a primeira dose da vacina, Edlene compartilhou as imagens e vídeos feitos do momento em grupos de familiares e amigos em redes sociais. Ela trabalhava como nutricionista no Recife antes de ir para o Canadá e acha importante dar um pouco de esperança a quem segue trabalhando na linha de frente e enfrenta o cansaço trazido pelo árduo trabalho de combate ao vírus.
“No Recife, eu trabalhava no Oswaldo Cruz e no Imip, então divulguei o vídeo para o pessoal se acalmar porque vai chegar a vacina. É desgastante e cansativo, você vê os casos e mortes aumentando, mas quando divulga que tomou a vacina, que alguém que conhece você até de vista, tem uma esperança de que vai chegar”, disse a pernambucana.
Depois que a pandemia passar, Edlene espera voltar ao Recife para ver os pais, que moram no bairro de Cajueiro. "Quero ir para o Carnaval, com certeza, ir à praia, abraçar a família. Não paro de pensar nos meus pais, nos meus amigos e no pessoal que está trabalhando no hospital. A gente vai respirar fundo e conseguir mais um pouquinho", finalizou.
Edlene voltou a trabalhar após tomar a vacina e segue com todos os protocolos para conter o coronavírus, inclusive testes de swab, realizados semanalmente. Ela conta que ficou apenas com o braço um pouco dolorido após receber a dose, uma reação normal e leve.
Covid-19 no Canadá
O Canadá foi o terceiro país do mundo ocidental a distribuir as doses do imunizante produzido pela americana Pfizer, em parceria com a alemã BioNTech. Reino Unido e Estados Unidos também começaram a vacinar em massa suas populações. O primeiro na terça-feira da semana passada e o segundo também na segunda-feira, poucas horas antes do Canadá.
No Canadá, o coronavírus Sars-CoV-2 já infectou mais de 464 mil pessoas, além de matar mais de 13,4 mil. Todo o país deve receber 249 mil doses da vacina até o final de dezembro, segundo informou o primeiro-ministro Justin Trudeau.
O governo canadense assegurou a compra de até 76 milhões de doses de imunizantes, quantidade suficiente para proteger toda a população de quase 38 milhões de habitantes, uma vez que a vacina é aplicada em duas doses.
O foco da primeira fase de vacinação no país são os asilos. O governo justifica a alta taxa de mortalidade nestes lares de idosos como fator urgente para iniciar a imunização por eles. Mais de 60% das mortes aconteceram nesses estabelecimentos.