Maia e Alcolumbre rompem, e sucessão no Congresso também gera atrito no DEM
De acordo com pessoas próximas aos dois, os correligionários não se falam desde o último dia 6
A decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de proibir a reeleição da atual cúpula do Congresso gerou uma crise dentro do DEM e teve como consequência um rompimento entre os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
De acordo com pessoas próximas aos dois, os correligionários não se falam desde o último dia 6, quando o STF barrou a possibilidade de ambos tentarem uma recondução aos cargos. A desavença corre o risco de se agravar, caso Maia escolha um nome para disputar a sucessão ao comando da Câmara contra o candidato do governo, o deputado federal Arthur Lira (PP-AL), líder do bloco do centrão, que possa atrapalhar a ofensiva de Alcolumbre de fazer seu sucessor no Senado.
A iniciativa de interromper o diálogo partiu de Alcolumbre, que atribui a Maia parte da culpa por ter sido derrotado no STF. O diagnóstico feito pelo presidente do Senado tem respaldo de outros integrantes do DEM, para quem o comandante da Câmara foi pouco habilidoso ao lidar com a perspectiva de permanecer na presidência.
A possibilidade de o deputado tentar uma recondução, apesar de ele ter reiterado mais de uma vez que não disputaria, enfrentava forte resistência tanto no Legislativo como no Judiciário. O deputado está no seu terceiro mandato consecutivo à frente da Câmara. Ele assumiu a cadeira pela primeira vez em julho de 2016, em um mandato-tampão, após a renúncia do ex-presidente da Casa Eduardo Cunha (MDB-RJ), e não largou mais
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Depois disso, na mesma legislatura, Maia conseguiu parecer técnico favorável a que participasse de nova disputa, em 2017. Já no início de 2019, em uma nova legislatura, o que é permitido pela Constituição, disputou novamente e venceu.
Antes da decisão do Supremo, Alcolumbre e aliados dele pediram a Maia que dissesse publicamente que não iria se candidatar à reeleição, na tentativa de reduzir na corte a rejeição a uma decisão favorável à recondução. Em algumas entrevistas, o deputado afirmou que não pretendia tentar um novo mandato, mas a avaliação era a de que suas declarações eram pouco assertivas e que poderiam ser mais enfáticas para não deixar dúvidas.
Na véspera do veredito, no entanto, Maia fez afirmação considerada a gota d'água para Alcolumbre. Em entrevista ao jornal O Globo, ele relativizou a perspectiva de entrar na disputa pelo comando da Câmara. "No meio de um processo como esse, eu preciso me resguardar, não digo uma coisa nem outra", disse Maia, questionado sobre se tentaria a reeleição.
O objetivo do parlamentar era dar uma declaração no dia seguinte à decisão do Supremo rechaçando a hipótese de continuar no cargo e, assim, se fortalecer no processo de escolha de seu sucessor. Nem todos, porém, acreditavam em Maia.
Ainda na véspera da decisão, aliados de Alcolumbre buscaram de novo o presidente da Câmara para que ele se manifestasse de forma mais clara, sem deixar a possibilidade em aberto, pois temiam que o julgamento no STF terminasse com um revés para o senador.
O deputado, no entanto, optou pelo silêncio, e a decisão do STF representou um balde de água fria para o senador, que há um ano se preparava para buscar a reeleição. Ainda no domingo, após o Supremo ter dado seu veredito, Maia telefonou e mandou mensagens para Alcolumbre. Irritado, no entanto, o senador não respondeu ao correligionário.
Nos dias seguintes, o parlamentar buscou contato mais algumas vezes com Alcolumbre, mas foi ignorado pelo colega parlamentar, com quem mantinha um bom relacionamento até então. A avaliação, feita inclusive no DEM, é a de que a possibilidade de que Maia se mantivesse no cargo e presidisse a Câmara pela terceira vez foi o que provocou forte reação na sociedade, o que, por fim, teria pressionado ministros do STF a mudarem de voto.
Os ministros Luís Roberto Barroso e Luiz Fux, presidente do STF, por exemplo, haviam sinalizado a colegas da corte que votariam pela inconstitucionalidade da regra vigente e liberariam caminho para que Alcolumbre tentasse a recondução. O resultado surpreendeu o senador e atrapalhou os seus planos. Para amenizar a derrota, o presidente Jair Bolsonaro sondou Alcolumbre para assumir ao menos três ministérios.
Entre eles, a Secretaria de Governo, responsável pela articulação política. Em conversas reservadas, no entanto, Alcolumbre descartou assumir qualquer cargo no primeiro escalão antes da eleição no Senado, no início de fevereiro.
O parlamentar busca junto a Bolsonaro o apoio do governo ao nome do senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), seu correligionário, sugerido por ele para o comando do Senado. A escolha é justamente o que tem potencial de conflagrar um novo desentendimento entre Alcolumbre e Maia. O presidente da Câmara tem preferência por lançar a candidatura de Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). Parte da cúpula do DEM, especialmente os senadores da sigla, no entanto, prefere o nome de Baleia Rossi (MDB-SP).
A aposta é de que o apoio de Maia a Baleia enfraqueceria a insistência do MDB no Senado de lançar candidatura própria para a sucessão de Alcolumbre, o que favoreceria um eventual apoio da legenda a Pacheco. Os integrantes do MDB no Senado, no entanto, têm afirmado que não vão ceder ao nome de Pacheco. Mesmo que mantenham a posição, a avaliação na Casa é de que, ainda assim, um apoio a Baleia seria benéfico ao DEM.
Isso porque, acreditam eles, seria possível arregimentar apoios em outras siglas com o argumento de que, ao lançar candidato na Câmara, o MDB corre o risco de se tornar um partido hegemônico caso vença no Senado. A expectativa é a de que Maia anuncie seu candidato até o início da próxima semana. Nos últimos dias, senadores do DEM procuraram o deputado para tentar demovê-lo de um apoio a Aguinaldo.
Caso Maia insista no nome do PP e o lance, dizem integrantes do DEM, ele terá de lidar com as consequências de ter mais um desgaste interno.