Cultura Popular

Arte do mamulengo em tempos de pandemia é tema de pesquisa

Convívio dos mamulengueiros tradicionais do interior de Pernambuco com as tecnologias sociais durante a quarentena são objetos de estudo

Alex Apolônico com Neide Lopes, Cida Lopes e Larissa Lopes e as personagens femininas do Mamulengo Teatro Riso de Glória do Goitá/PE - Filipe Santos

Você já parou para se perguntar como os mestres da cultura popular estão mantendo o seu ofício diante das dificuldades do cenário atual? Mestres do mamulengo, forma tradicional do teatro de bonecos do Nordeste brasileiro, passaram a se utilizar das tecnologias sociais para manter a arte viva durante a quarentena. 

Essa relação entre a tradição e o moderno chamou a atenção do ator, bonequeiro e dramaturgo, Alex Apolônio, que em sua pesquisa “Mamulengo em Tecnovívio” desenvolveu um estudo e quatro episódios de um podcast sobre essa realidade através do programa Cultura em Rede Sesc Pernambuco.

“Começou o confinamento e o setor cultural foi um dos primeiros a parar e a realidade dos brincantes de mamulengo parou junto também. É uma categoria que depende muito de evento, como a Feneart e o FIG (Festival de Inverno de Garanhuns), nisso eu comecei a notar os mestres em casa se relacionando com as redes sociais, alguns com mais habilidade e experiência e outros sendo assessorados por amigos, foi aí que eu atinei pra essa realidade”, revela Alex. 

A produção, de forma remota, busca se aprofundar sobre as alterações na dramaturgia e vida dos mestres e bonequeiros no contexto da pandemia do Covid-19 para compreender o que têm vivido os artistas desde suas casas na Zona da Mata até o universo virtual das redes sociais e plataformas digitais. Por meio de questionário, foram entrevistados cerca de 23 artistas para entender como a situação afeta os brincantes. Desses, quatro foram selecionados para participar do podcast: As Mulheres do Mamulengo Teatro Riso: A Cida Lopes, a Neide Lopes e Larissa Lopes; Mestre Miro de Carpina, Mestre Vitorino de Igarassu e Mestre Tonho de Pombos.

De acordo com Alex, a maior dificuldade dessa nova modalidade é a ausência de um retorno imediato. “O mamulengo é uma arte que encontra sentido no contato com quem tá assistindo, o desenvolvimento da peça depende muito do que as pessoas devolvem pros bonecos”, explicou. “O dramaturgo esclarece que, paulatinamente, os brincantes foram se adaptando. “Aos poucos, eles começaram a vender os bonecos pelo Instagram, criaram canais no Youtube com vídeos registrando a produção dos bonecos, falando da tradição do mamulengo, então eles foram se apropriando do que essas redes podem contribuir”, afirmou.

"Antes da pandemia, esses espaços eram vistos como lugar de divulgação, os brincantes iam lá colocar os cartazes e teasers das apresentações, não era visto como um espaço de encontro, mas um espaço para se divulgar esse encontro”, esclareceu o ator. “O saldo dessa pesquisa foi perceber isso. Como esses espaços não eram vistos e agora são encarados como lugares de apresentação, além de demonstrar a força da internet em diminuir distâncias e ampliar o alcance dessa arte”, explicou.

Para muitos mamulengueiros foi difícil compreender como fazer uma transmissão ao vivo, como engajar, então do dia pra noite, eles tiveram que se reinventar”.

Para o pesquisador, a capacidade de adaptação e reinvenção dessa arte é onde está sua força renovadora, afinal de contas, para o mamulengo o que é fundamental mesmo é se comunicar com o povo, não importa como, nem onde. “Os mamulengueiros vão pra internet pra entender o que as pessoas estão buscando e se conectarem a elas sem precisar mudar sua essência, porque tem a ver com o estado de espírito, o riso, a magia que os bonecos provocam e isso é possível também nas redes sociais”, concluiu.