Manoelzinho Salustiano é o novo Doutor Honoris Causa
Conselho universitário aprovou, por aclamação, a outorga do título como reconhecimento da contribuição para o Estado do representante do Maracatu de Baque Solto
O mestre popular Manoelzinho Salustiano tornou-se o primeiro doutor Honoris Causa do campus Mata Norte da Universidade de Pernambuco (UPE). Há uma semana, precisamente no dia 18, o conselho universitário aprovou, por aclamação, a outorga do título como reconhecimento da contribuição para o Estado do representante do Maracatu de Baque Solto, do bordado das golas dos caboclos de lança, e de diversas outras expressões culturais.
A homenagem foi recebida com surpresa pelo atual presidente da Associação de Maracatus de Baque Solto de Pernambuco. “Eu vou ser sincero, a ficha ainda não caiu, porque era uma coisa que eu nunca esperava. Quando se trabalha com cultura popular, nós fazemos porque amamos aquilo, então nunca imaginei ser homenageado nesse nível”, afirmou. A iniciativa partiu dos professores Carlos André Silva de Moura, Mário Ribeiro dos Santos e Sandra Simone Moraes de Araújo, do Curso de História, que apresentaram um dossiê sobre a vida, atividades culturais e contribuições do artista para Pernambuco e o Brasil.
“O título traz mais responsabilidade e é um incentivo para nós mestres da cultura popular, porque é uma cultura de resistência, é uma transmissão de saber oral nos terreiros”, afirmou o maracatuzeiro. O filho mais velho do mestre Salustiano foi iniciado nos brinquedos culturais por sua mãe, ainda na infância passou a conviver com maracatus, cavalos marinhos e caboclinhos e, desde então, dedicou sua vida à defesa dessas e outras expressões da cultura popular. “O meu povo do maracatu está todo feliz, se não estivéssemos nessa pandemia, com certeza estávamos todos sambando no terreiro para comemorar”, disse.
Para Pedro Falcão, reitor da Universidade de Pernambuco, o título coroa uma trajetória ligada às manifestações culturais. “É o reconhecimento de um representante da cultura popular na Mata Norte. Com ações fundamentais para a cultura, turismo e economia da região, especialmente, com o diálogo entre a academia e as práticas da sociedade daquele lugar”, explicou. “Buscamos sempre compreender os diálogos que os diferentes saberes podem desenvolver. Compreender que os dois polos tem muito a contribuir um com o outro. Reconhecemos assim as contribuições que estas bibliotecas vivas podem oferecer a produção acadêmica”, concluiu o reitor.
Manoelzinho se junta a outras figuras notáveis como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o escritor Ariano Suassuna e o cantor Geraldo Azevedo, também agraciados com o título.
Apesar de celebrar a homenagem, o artista popular alerta para as dificuldades que o período de pandemia impôs aos trabalhadores da cultura. “Nesse momento, o que eu peço é pra que se crie mecanismos novos para os mestres da cultura popular, porque essas pessoas têm dificuldade com edital, com as burocracias, e precisam desse suporte. É preciso esse trabalho de preservação do patrimônio”, clamou.
O pai de Manoelzinho, Mestre Salustiano, também já havia sido agraciado com o título doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “Ele sempre foi um defensor da cultura popular, então incentivou muito nós que somos filhos, por isso eu tenho certeza que ele tá muito feliz porque se hoje o filho mais velho dele consegue esse título é um claro sinal de que ele tomou o caminho certo”, assegurou o mestre.