Música

Fagner resgata serenatas em álbum tomado por delicadezas

"Serenata", em formato físico e digital, reforça virtuosidade do cantor e compositor cearense, com pérolas da Era do Rádio e dueto com Nelson Gonçalves

Fagner, cantor e compositor - Jorge Bispo

É para poucos o bel prazer de fazer o que se quer com a música e suas infindáveis possibilidades. Mexer em clássicos e permear os idos da Era do Rádio, por exemplo, é missão nem sempre bem cumprida por quem se atreve a fazê-la.

Não é o caso do cantor e compositor cearense Raimundo Fagner, cujo status de peso da Música Popular Brasileira (MPB) já é algo sabido e incontestável mas que com o recente “Serenata” reforça a sua inteireza de voz, repertório e arranjos, uma tríade resgatada em letras sofríveis de uma época musicada por delicadeza poética, característica do cancioneiro seresteiro de nomes como Orlando Silva, Sílvio Caldas e Vicente Celestino.

 

 Do “encontro virtual” com Nelson Gonçalves na primeira faixa, homônima ao álbum, até “Mucuripe”, música derradeira do trabalho composta por Fagner junto a Belchior (1946-2017) no início da década de 1970, o disco – lançado no formato físico e digital e que marca também a estreia dele na gravadora Biscoito Fino –  foi apresentado ao público por meio de singles.

O primeiro deles, “Lábios que Beijei”, de  J.Cascata Leonel Azevedo e sucesso na voz de Orlando Silva, foi lançado em outubro e causou a envolvente primeira impressão de que o segundo single “Serenata”, composto por Orestes Barbosa e Sílvio Caldas, viria com a mesma robustez, fato confirmado pelo êxtase de um dueto tecnológico travado por ele e pela voz do Rei da Boemia, aproveitada da gravação original feita em 1991.

 

Capa do disco "Serenata", lançado pelo cantor e compositor Fagner.   Crédito: Divulgação/Biscoito Fino

Com produção de José Milton, sanfonas de Adelson Viana e Cristovão Bastos e violões de Rogério Caetano, João Lyra e João Camarero, o álbum segue seu cancioneiro regado predominantemente pelos redutos musicais (e seresteiros) dos anos de 1930 com  “Malandrinha” (Freire Júnior), “As Rosas não Falam” (Cartola), “Maringá” (Joubert de Carvalho) e “Noite Cheia de Estrelas” (Cândido das Neves).

“Esta foi talvez a parte mais difícil”, diria Fagner, em texto de divulgação do disco, sobre a escolha do repertório compilado nas doze canções que compõem “Serenata”. 

Vinicius de Moraes em “Serenata do Adeus”, “Rosa”, de Pixinguinha e “Valsinha”, de Chico e novamente Vinicius ratificam a maestria de um dos discos mais harmoniosos recentemente lançados pela MPB.

“Deusa da Minha Rua”(Newton Teixeira) e “Chão de Estrelas”( Sílvio Caldas e Orestes Barbosa) completam o álbum, lapidado por Fagner com virtuosismo, sem margem para desagrados.