Alerta ambiental

Invasor e risco à biodiversidade, peixe-leão é capturado pela primeira vez em Noronha

Com 18 espinhos espalhados pelo corpo, os exemplares desta espécie são exuberantes, mas temidos e perigosos

Amostras genéticas do peixe serão analisadas - Cortesia/Sea Paradise Fernando de Noronha

Mergulhadores encontraram um peixe-leão, provavelmente da espécie Pterois volitans, no arquipélago de Fernando de Noronha, em Pernambuco. 

A espécie é considerada invasora, porque é nativa dos ecossistemas de recifes do Indo-Pacífico, região que compreende as costas dos oceanos Índico e Pacífico. Foi o primeiro registro feito de forma oficial na ilha.

Com 18 espinhos espalhados pelo corpo, os exemplares desta espécie são exuberantes, mas temidos e perigosos. Isso porque, apesar da beleza, esse peixe, que pode pesar até 200 gramas, carrega um enorme potencial de prejuízo ao ecossistema marinho e à biodiversidade.

O espécime foi achado na praia da Conceição, a cerca de 28 metros de profundidade, no último domingo (20), e foi encaminhado à sede do instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), onde foi congelado. A captura ocorreu no dia seguinte, a segunda-feira (21).

O peixe será encaminhado para análise genética na Universidade Federal Fluminense (UFF). Na instituição, deverá ser determinada a origem do bicho. 

A operação de captura do peixe-leão foi conduzida pelo instrutor de mergulho Fernando Rodrigues. “Precisamos conversar com os biólogos [após encontrar o animal]. O professor Carlos Eduardo [da UFF] orientou tudo como tinha que ser, a metodologia de captura. Uma aluna acompanhou toda a operação”, explicou Fernando. 

“É um grande mistério, achávamos que não ia chegar porque geograficamente temos uma barreira no Amazonas que não deixaria vir do Caribe, e, por cima, recebemos a correnteza sul-equatorial, que vem muito pobre em nutrientes”, disse Fernando Rodrigues. O peixe-leão foi achado em um local cheio de peixes de outras espécies.

Segundo o instrutor de mergulho, o alerta foi instaurado em Noronha e é preciso redobrar a atenção para não deixar a espécie se alastrar na ilha. “Essa aparição vai ser um caso de estudo pesado para desvendar esse mistério. Saber se foi solto na ilha, se veio em correnteza ou em em água de lastro”, completou.

De acordo com o coordenador do Projeto Conservação Recifal (PCR) de Fernando de Noronha, Pedro Henrique Pereira, o peixe-leão pode causar problemas até mesmo na economia da região, uma vez que prejudica o turismo local. 

“É um peixe exótico que não pertence à biodiversidade brasileira. Ao chegar, causa muitos prejuízos e mata espécies nativas. Os prejuízos são ecológicos e sociais, porque, em alguns locais, diminui a pesca e até mesmo afeta a quantidade de peixes”, explicou.

Ainda segundo o coordenador do PCR, houve, em 2018 e em 2019, monitoramento da possível chegada do peixe-leão a Noronha. 

“A gente tinha essa expectativa porque ele vem descendo pela costa do Caribe. Achamos que viria mais cedo ou mais tarde”, lembrou Pedro Henrique, acrescentando que é preciso ser feito o monitoramento de possíveis novos exemplares da espécie na ilha.

“A ideia é que se somem os esforços para combater algo que pode prejudicar todo mundo”, finalizou Pedro Henrique. 

Venenosos, os peixes-leões podem inocular o seu veneno através dos espinhos localizados nas regiões dorsal, pélvica e anal. 

Em humanos, podem provocar dor intensa localizada seguida de edema local, náuseas, tontura, fraqueza muscular, respiração ofegante e dor de cabeça.
 

(Arte: Divulgação/Projeto Conservação Recifal)

Origem do peixe-leão
Alguns peixes-leões foram levados aos Estados Unidos para serem criados em aquários, mas escaparam para a natureza e, desde então, representam ameaça e alerta, já que não têm predadores naturais, são excelentes predadores e podem causar danos irreversíveis ao ecossistema marinho das regiões onde invadem.

Peixes da espécie já foram achados no Oceano Atlântico Norte, no Caribe e, no Brasil, antes de aparecer em Fernando de Noronha, houve registros na região Norte e em Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro.

Os espécimes costumam viver cerca de 15 anos e a até 300 metros de profundidade. De hábito noturno, esses peixes costumam se alimentar de pequenos peixes e, normalmente, os comem vivos, mas, em cativeiro, podem comer camarões congelados.