Livro se debruça sobre o clássico 'África Brasil', de Jorge Ben
O mítico trabalho é o tema do livro “África Brasil: Um dia Jorge Ben voou para toda a gente ver”, da jornalista Kamille Viola, publicado pelo selo Sesc
Em meio à ditadura militar e uma construção secular do mito da democracia racial, Jorge Ben fez uma trajetória artística que mudou, definitivamente, a imagem do negro no País. Um dos álbuns que contribuíram para esse marco foi o disco “África Brasil”, lançado em 1976, trazendo clássicos como “Umbabarauma", "Camisa 10 da Gávea", "A História de Jorge" e "Xica da Silva”. O mítico trabalho é o tema do livro “África Brasil: Um dia Jorge Ben voou para toda a gente ver”, da jornalista Kamille Viola, publicado pelo selo Sesc.
O livro faz parte de uma coleção de Sesc em torno de clássicos da Música Popular Brasileira. Kamille, que pesquisa sobre o artista há dez anos, foi convidada para escrever sobre o álbum. “Eu não escolhi escrever sobre o 'África Brasil', eu acho que a África no Brasil que me escolheu, eu te explico, é meu livro. Parte de uma coleção chamada Discos da Música Brasileira, das edições Sesc. Essa coleção tem como o organizador o jornalista e crítico musical Lauro Lisboa. É o terceiro número. Apesar dele ser um livro curto, porque é uma proposta também da editora, eu não me atenho só ao álbum, eu achei que eu precisava contextualizar um pouco. Quem era Jorge Ben, de como ele chegou até o 'África Brasil' em 1976”, explica Viola.
Para construir o livro, a escritora fez uma imersão na vida de Jorge Ben até 1986. Também conseguiu entrevistá-lo, acontecimento raro nos últimos anos, para entender como a vida de Ben está entrelaçada ao disco. “Também falo um pouco de influências em gerações posteriores. Eu entrevistei o Mano Brown, Bnegão, Marcelo D2, Jorge do Peixe e Lúcio Maia, artistas que são fãs do Jorge e que contaram sua relação com a música dele e especificamente com a 'África Brasil'”, conta Viola.
DISCO
No "África Brasil", Jorge Ben definitivamente mudou a forma como se enxerga o negro no País. “Acontece que o Jorge, desde o primeiro disco dele, tem influências da música afro-brasileira. Então, eu acho que a fonte em que o Jorge bebeu foi a que tinha de africano na nossa cultura mesmo. É a música de terreiro, maracatu, o jongo, que ele mesmo fala isso ao longo da vida em entrevistas. E nesse disco, o Jorge, que já tinha influência do blues e do jazz, tem uma influência grande do som e do funk norte-americanos”, frisou a jornalista.
No momento do disco, as manifestações antirracistas nos Estados Unidos estavam florescendo, assim como outro o próprio pan-africanismo e o afrobeat na África. Para o Brasil, Jorge conseguiu valorizar figuras negras brasileiras e inserir o orgulho negro rádios e emissoras de TV. “Jorge faz isso desde o primeiro momento, ele exalta a cultura negra, ele exalta figuras negras. Em alguns momentos, ele é mais politicamente explícito - como em 'Zumbi' - mas ele sempre teve esse papel importante na construção de um imaginário.”