Crítica

'Pieces of a woman' mergulha na irreparável dor de perder um filho

Prestes a estrear na Netflix, filme traz atuação impecável da britânica Vanessa Kirby

"Pieces of a Woman" traz longa cena de parto - Benjamin Loeb/Netflix/Divulgação

“Pieces of a woman”, que estreia na Netflix nesta quinta-feira (7), tem a difícil tarefa de levar para as telas uma das piores perdas que alguém pode enfrentar. Primeiro filme em inglês dirigido pelo cineasta húngaro Kornél Mundruczó, a obra mergulha na irreparável e imensurável dor trazida pela morte precoce de um filho.

Sentimentos contrastantes tomam conta da primeira parte do longa-metragem. A alegria e a expectativa de Martha e Sean com a chegada da primeira filha são sucedidas por uma tristeza profunda. A menina acaba morrendo logo depois de nascer, sem que os pais consigam fazer qualquer coisa para salvá-la. 

Estopim da tragédia que abala as vidas dos personagens, o parto feito em casa é mostrado ao público com um plano-sequência de quase 30 minutos. A câmera transita pelos cômodos da residência, registrando de forma muito envolvente a ansiedade, a alegria de ter a filha no colo e, por fim, o desespero. Logo em seguida, o espectador passa a acompanhar o sofrimento sem fim dessa mãe. 

Em protuguês, o título do longa pode ser traduzido como “pedaços de uma mulher”. Com passagens de tempo constantes, a trama revela uma mulher destroçada tentando juntar seus próprios “cacos” e aprendendo a lidar com o luto. Conhecida por viver a princesa Margaret nas duas primeiras temporadas da série “The Crown", a atriz britânica Vanessa Kirby cumpre com maestria a tarefa de dar vida a emoções tão intensas. Não é nenhuma surpresa, portanto, que seu nome esteja entre os mais cotados para receber uma indicação ao Oscar 2021.

Mas não é apenas Vanessa que brilha na tela. A veterana Ellen Burstyn interpreta a mãe controladora da protagonista, que não aprova o silêncio da filha diante da morte de sua neta. Essa difícil relação entre as duas é um dos principais obstáculos para Martha conseguir seguir em frente. 

Enquanto isso, seu parceiro - também tomado pela dor - afunda em um estado mental autodestrutivo, minando pouco a pouco a estabilidade do relacionamento. Esse é um caso em que arte e vida real se misturam. Recentemente acusado de violência psicológica e sexual pela ex-esposa, o ator Shia LaBeouf já afirmou publicamente que vem lutando contra o alcoolismo, problema que também é vivenciado por seu personagem no drama. 

A atitude de Martha em relação à fatalidade é de tentar compreender o vazio que agora a atormenta. Ela não quer achar culpados para a sua dor, ao contrário dos seus familiares, que tentam responsabilizar a parteira pelo ocorrido. Ao encontrar seu próprio jeito de vivenciar o trauma é que a personagem traça um caminho de reconstrução.