EUA

Congresso dos EUA certifica vitória de Joe Biden e Trump reconhece que seu mandato terminou

Esse é o último passo antes da posse do democrata em 20 de janeiro

Joe Biden assume a presidência dos EUA em 20 de janeiro - Foto: Joshua Roberts/Getty Images North Ameri

Donald Trump reconheceu, nesta quinta-feira (7), que seu mandato está terminando e prometeu uma "transição em ordem", depois de o Congresso certificar a vitória eleitoral do democrata Joe Biden durante a madrugada e após os violentos confrontos registrados no Capitólio em Washington. Esse é o último passo antes da posse do democrata em 20 de janeiro.

"Embora esteja totalmente em desacordo com o resultado destas eleições - e os fatos me apoiam -, haverá uma transição em ordem em 20 de janeiro", declarou, em um comunicado. "Isso representa o fim de um dos melhores primeiros mandatos presidenciais e é apenas o início da nossa luta para devolver aos Estados Unidos sua grandeza", acrescentou. 

O vice-presidente americano, o republicano Mike Pence, certificou o voto de 306 grandes eleitores a favor do candidato democrata, contra os 232 obtidos por Donald Trump, depois que partidários do presidente em final de mandato invadiram o Capitólio e semearam o caos durante horas, com o objetivo de impedir a validação destes resultados.

Ao menos quatro pessoas morreram na região do Capitólio durante os enfrentamentos, entre as quais uma mulher baleada por um agente de segurança. Outros três óbitos foram registrados em decorrência de "emergências médicas", segundo a polícia de Washington.
 
Jornalistas foram trancados num porão, pessoas fantasiadas de vikings confrontaram assessores e testemunhas dizem ter sentido cheiro de fumaça dentro do prédio. Os manifestantes carregavam símbolos de extrema direita e bandeiras dos EUA, além de faixas da campanha presidencial de Trump.
 
De acordo com o chefe do departamento de polícia de Washington, Robert J. Contee, 52 pessoas foram presas, 47 delas por desrespeitar o toque de recolher em vigor desde as 18h locais (20h em Brasília).
 
Após as forças de segurança retirarem os invasores do local, em ações que também deixaram vários policiais feridos, de acordo com a imprensa americana, os congressistas puderam retomar os trabalhos.
 
A sessão seguiu durante a madrugada de quinta, pois aliados de Trump no Congresso apresentaram objeções em uma tentativa de invalidar o resultado das urnas no Arizona e na Pensilvânia.
 
Nas duas Casas, o placar das votações arruinou qualquer esperança de que as contestações resultassem em alguma mudança na vitória de Biden. O questionamento aos votos do Arizona foi rejeitado com placar de 303 a 121 na Câmara e 93 a 6 no Senado. A objeção aos delegados da Pensilvânia perdeu por 282 a 138 entre os deputados, e 92 a 7 entre os senadores.
 
A escalada da violência isolou Trump dentro de seu partido. Membros de seu governo, bem como congressistas da oposição e organizações empresariais, chegaram a discutir medidas para retirar Trump do poder antes dos 13 dias que faltam para o término de seu mandato.
 
Os democratas do Comitê Judiciário da Câmara enviaram uma carta ao vice-presidente Mike Pence argumentando que a conduta recente do presidente se enquadra na hipótese prevista na 25ª Emenda da Constituição dos EUA, que permite que um presidente seja removido caso seja considerado incapaz de seguir no cargo pelo vice-presidente e pela maioria de seu gabinete.
 
Para invocar o dispositivo constitucional, o vice deve comunicar por escrito ao comando do Congresso que o titular está incapacitado. Em seguida, ele assume imediatamente a Presidência de forma interina.
 
O titular do cargo, porém, pode, a qualquer momento, enviar uma carta ao comando do Congresso para questionar a decisão, o que dá quatro dias para o vice e o gabinete se posicionarem.
 
Se eles não se manifestarem nesse período, o presidente volta ao cargo normalmente. Mas, se o grupo novamente informar ao Legislativo que o presidente segue incapacitado, o caso terá que ser resolvido pelos deputados e senadores - seria necessária uma maioria de dois terços em cada Casa para que o presidente seja afastado.
 
Pouco antes da invasão, o próprio Pence, assim como o líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, romperam publicamente com Trump por rejeitarem sua tentativa de impedir a confirmação do resultado das eleições.
 
"Àqueles que criaram caos na nossa capital hoje: vocês não venceram. A violência nunca ganha", disse Pence ao retomar a sessão de certificação, referindo-se aos extremistas que invadiram o Capitólio.
 
Os três últimos antecessores de Trump na Casa Branca também condenaram o que se viu na capital americana nesta quarta. "Momento de grande desonra e vergonha ao nosso país", escreveu o democrata Barack Obama em um comunicado publicado no Twitter.


O republicano George W. Bush, referindo-se à invasão do Congresso, disse que "é assim que os resultados são disputados em uma república de bananas" e, sem mencionar Trump, afirmou estar "chocado com o comportamento imprudente de alguns líderes políticos desde as eleições" de 3 de novembro.
 
O ex-presidente democrata Bill Clinton também se manifestou sobre o ocorrido, chamando a invasão do Capitólio de um "ataque sem precedentes ao país". "O ataque foi incentivado por mais de quatro anos de política venenosa espalhando informações falsas, semeando desconfiança em nossos sistema e colocando americanos uns contra os outros", escreveu.
 
Após os incidentes desta quarta, ao menos três importantes funcionários da Casa Branca anunciaram suas demissões. De acordo com a CNN americana, Matthew Pottinger, vice-conselheiro de segurança nacional, Anna Cristina Niceta, responsável pelo cerimonial da Casa Branca, e Stephanie Grisham, chefe de gabinete da primeira dama Melania Trump e ex-porta-voz do governo, já deixaram seus cargos.
 
Chris Liddell, vice-chefe de gabinete de Trump, e Elaine Chao, secretária dos Transportes, também estariam considerando abandonar o governo, segundo diferentes veículos da imprensa americana.