Câmara Federal

Arthur Lira, que já criticou Bolsonaro, costurou aliança e tem hoje fidelidade elogiada

A aproximação de Lira com Bolsonaro teve início na tramitação da reforma da Previdência, em 2019

Candidato do governo à presidência da Câmara dos Deputados, Arthur Lira - Divulgação/PP

O candidato de Jair Bolsonaro (sem partido) à sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) é descrito por aliados e adversários como um político com senso de oportunidade.

Para sua candidatura ao comando da Câmara, o deputado Arthur Lira (PP-AL) fez uma jogada arriscada, mas que acabou lhe rendendo um dos postos de favorito para a disputa legislativa.

Após o governo Bolsonaro enfrentar derrotas em série no Legislativo, partiu do líder do centrão a iniciativa de, em março, começar a costurar um pacto com o chefe do Executivo para preencher o vazio deixado pela falta de uma base aliada.

Segundo aliados do alagoano, já naquela época o congressista tinha consciência de que dificilmente conseguiria se viabilizar como candidato de Maia e que, por isso, precisava contar com a força da máquina pública para conquistar o cargo.


O apoio valioso, no entanto, teve um custo alto. A aliança com o presidente empurrou os partidos de oposição, que correspondem a quase um quarto do total, para a candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP), o que fortaleceu o rival.

Lira, porém, não se convenceu do ônus político. Conhecido pela teimosia e persuasão, tem atuado para reverter votos, estimulando traições até mesmo em partidos de esquerda, como PT, PDT e PC do B.

Em outros, como o PSB, no qual já tem o apoio de parte da bancada, trabalha para manter os votos conquistados. Para isso, conta com arsenal de cargos e emendas do Executivo.

A aproximação de Lira com Bolsonaro teve início na tramitação da reforma da Previdência, em 2019. O deputado foi contatado pelo Planalto para ajudar a costurar acordos, tanto com o centro como com a esquerda, para aprovar a iniciativa.

No ano passado, ele voltou a ser requisitado, desta vez pelo ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, quando o presidente se deu conta de que precisava de uma base aliada. O chamado foi visto pelo congressista como uma oportunidade.

Inicialmente, o casamento com o centrão enfrentou resistências no Planalto, já que contradizia discurso de campanha de Bolsonaro. O receio de abertura de um processo de impeachment e a necessidade de viabilizar vitrines eleitorais, no entanto, venceram as barreiras do presidente.

A relação de Bolsonaro com Lira é ambígua. Apesar de o presidente já ter se queixado do apetite por cargos do aliado, ele o elogia por ser um deputado fiel, que cumpre com a palavra.

A característica é reconhecida até mesmo por desafetos políticos de Lira, para os quais ele é um respeitador de acordos.

A fidelidade do deputado, no entanto, é colocada à prova quando ameaça interesses do bloco. Sem acordo para a presidência da CMO (Comissão Mista de Orçamento), o bloco do centrão obstruiu a pauta de votações, deixando de apreciar medidas do governo.

Na votação da renovação do Fundeb (fundo da educação básica), o bloco liderado por Lira até ensaiou obstruir a iniciativa, mas recuou e deixou o governo sozinho após calcular o prejuízo político que a iniciativa poderia lhe causar.

Apesar de ser o candidato do governo, Lira já criticou, em caráter reservado, a postura ideológica da atual gestão e não é entusiasta da pauta de costumes. É por isso que o núcleo radical do Palácio do Planalto tentou fomentar uma candidatura governista que fosse alternativa à dele. Não teve êxito.

"O governo precisa entrar em sintonia com a real necessidade da população e deixar de lado a pauta de costumes e polêmicas que não contribuem e não apontam para a construção de um futuro melhor ao nosso país", escreveu Lira em 2019 nas redes sociais.

Além do apoio de Bolsonaro, as ações penais enfrentadas pelo candidato são um fator apontado por deputados de centro e de esquerda como um impedimento para uma adesão.

Conforme publicou o jornal Folha de S.Paulo na última sexta-feira (8), Lira foi alvo de ação apresentada por sua ex-mulher Jullyene Santos Lins, que o acusa de injúria e difamação e diz que "o medo a segue 24 horas por dia". O deputado afirma que, ao longo do tempo, as denúncias da ex-mulher "mostraram-se infundadas".

Se o acordo com o governo ajudou na candidatura de Lira, uma vitória na disputa legislativa também pode servir como um novo trampolim. Segundo aliados do deputado, ele não esconde o desejo de concorrer a governador de Alagoas em 2022.

Para isso, pode enfrentar novamente a oposição do MDB de Baleia, que é capitaneado no estado pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), pai do atual governador.

Raio-X
Arthur Lira, 51
Deputado federal por Alagoas, está no terceiro mandato. Foi vereador em Maceió por duas legislaturas e deputado estadual por três legislaturas. Filiado ao PP desde 2009, passou antes por PFL, PSDB, PTB e PMN. Endossada pelo presidente Jair Bolsonaro, sua candidatura afirma contar com votos de PP, PL, PSD, Republicanos, Solidariedade, Avante, PSC, PTB, PROS e Patriota.