Brasil está virando uma grande fazenda, diz governador da Bahia, ao lamentar saída da Ford
A previsão dos executivos da Ford é que apenas em 2023 a demanda voltará a crescer e que mais indústrias do setor automotivo deverão anunciar a saída do Brasil nos próximos meses
O fechamento da fábrica da Ford em Camaçari (BA) expõe um problema de fundo, segundo o governador da Bahia, Rui Costa (PT). A seu ver, o Brasil abandonou planos para estimular uma produção mais elaborada, dedicando-se basicamente à produção de commodities agrícolas.
Os riscos da política, somados ao baixo crescimento (que minou as vendas), completaram um cenário que está levando o país a se tornar uma grande fazenda.
"Não há planejamento. O que pensamos nos últimos cinco anos para aumentar o investimento em tecnologia e a industrialização? Nada. Estamos satisfeitos em nos tornarmos uma grande fazenda", afirma.
Nos últimos meses, ele disse ter acompanhado a redução de margens da Ford, mas foi apenas nesta segunda (11) à tarde que foi informado do fechamento da unidade no estado. Ele tenta atrair chineses para assumir a produção local, um terreno com 50 milhões de metros quadrados e um porto.
"Não dá para imaginar que o Brasil já teve uma indústria relevante, que viu florescer a indústria do petróleo, que teve grandes construtores disputando contratos para obras internacionais ter entrado nesse vazio", afirma. "Há cinco anos, o Brasil vive uma crise institucional forte, que paralisou as reformas e os investimentos. O capital é avesso a risco e o Brasil se tornou um país de alto risco".
Costa diz que os executivos da Ford lhe apontaram um cenário devastador. A previsão deles é a de que apenas em 2023 a demanda voltará a crescer e que mais indústrias do setor automotivo deverão anunciar a saída do Brasil nos próximos meses.
"O câmbio foi a R$ 5, R$ 6. Quem vai bancar uma diferença de custos dessa? No ano passado, o setor industrial teve um aumento de 30% para produzir no Brasil", diz.
Parte do problema se deve à política equivocada do governo Jair Bolsonaro em acionar políticas anticíclicas, para mitigar os efeitos da crise.
A discussão posta em 2020, lembra ele, era conceder um auxílio emergencial de R$ 300, mas por uma briga política Bolsonaro resolveu pagar o dobro, sem qualquer cuidado com o cadastro dos beneficiados.
"Isso gerou uma explosão do consumo, faltou cimento, material de construção. Gerou uma inflação interna e agora acabou o dinheiro. Mais racional teria sido pagar R$ 300 por mais tempo. Evitaria o pico na demanda e ajudaria as pessoas neste ano ou a pandemia acabou?", diz.
O governador afirma que, após dois anos, Bolsonaro não tem nada a mostrar e que isso cobrará um preço eleitoral, pois prevê que a paralisia seguirá em 2021.
"Eu pergunto qual é o plano deles para a educação? E para a saúde? Na semana passada, ele falou que a mão de obra no Brasil não tem qualificação. O que ele está fazendo para melhorar isso? Qual é o plano deles para melhorar nossa infraestrutura logística? Não tem. Tudo o que estão entregando foi iniciado em 2012, 2013", afirma o governador, referindo-se ao governo de Dilma Rousseff (PT).
Pelo andar da carruagem, Rui Costa prevê que Bolsonaro vive um processo de desgaste crescente e que, em algum momento, os recém-aliados do centrão vão pular do barco.
"Essa aventura retórica não se sustenta por muito tempo", diz. "Os aliados dele aqui na Bahia, por exemplo, os que têm cargos no governo, os políticos do DEM, nem eles dizem que estão com Bolsonaro".
Apesar da aliança de seu partido com o DEM no Senado e com o MDB na Câmara, Costa diz que não se pode extrapolar esses acordos para 2022.