'Um crime em comum': filme argentino aborda violência policial e desigualdade social
Longa-metragem do diretor Francisco Márquez chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira
O filme “Um crime em comum” - que entra em cartaz no Moviemax Rosa e Silva a partir desta quinta-feira (14) - é ambientado na Argentina, mas poderia muito bem se passar no Brasil. Dirigida por Francisco Márquez, a trama de suspense psicológico se desenvolve a partir do assassinato de um jovem de periferia por policiais, situação que infelizmente se repete no noticiário nacional.
O longa-metragem acompanha a professora de sociologia Cecília (Elisa Carricajo). Certa madrugada, ela acorda com batidas na porta e reconhece o filho de Nebe (Mecha Martínez), diarista que trabalha em sua casa. Assustada, ela não abre para o rapaz, que acaba sendo morto.
“Histórias como a do filme são muito comuns na Argentina e em outros lugares. A questão que a obra traz é como nós, artistas, intelectuais e acadêmicos, não nos vinculamos a essa realidade. Podemos até ter senso crítico sobre tudo o que acontece com as camadas mais populares, mas a pergunta é: o que fazemos para transformar isso?”, questiona o diretor, em entrevista à Folha de Pernambuco.
A desigualdade social, a violência policial e outras questões aparentes no longa são facilmente identificáveis pelo espectador brasileiro. Para o cineasta argentino, no entanto, essas semelhanças não dizem respeito apenas aos países da América do Sul.
“Penso que o que o filme trata tem a ver com a essência própria do sistema capitalista. Se ele se passasse em uma nação árabe ou na Europa também seria igual. Esse sistema, que está baseado na desigualdade econômica e social, só se sustenta com a violência do Estado de diferentes maneiras. E nós temos naturalizado viver dessa maneira, sem pensar no dia a dia como podemos trazer a mudança”, pontua.
Ao longo do filme, o público acompanha o tormento psicológico vivido por Cecília. Após descobrir que o corpo do filho de sua faxineira havia sido encontrado em um rio, ela passa a lidar com a culpa. Sem compartilhar o que aconteceu com ninguém, seu estado físico e mental vai se deteriorando aos poucos.
Para Francisco, a entrega de Elisa ao papel, além do constante diálogo entre diretor e atriz, foi fundamental para trazer vida à protagonista. “Mais do que a capacidade técnica, o que busco em um ator é o vínculo que ele pode ter com o personagem em termos intelectuais e emocionais. É por isso também que Neve e o filho dela não são feitos por atores profissionais, mas sim pessoas que vivem nesse mesmo universo social”, afirma.
Coprodução entre Argentina, Brasil e Suíça, “Um crime em comum” foi lançado mundialmente antes da pandemia de Covid-19, no Festival de Berlim, em fevereiro de 2020. O longa passou por outros eventos, como a Mostra de Cinema de São Paulo, e a partir do dia 28 de janeiro estará disponível também na Netflix.