Variante encontrada em Manaus é supostamente mais transmissível e pode já circular pelo Brasil
Com a confirmação da presença da nova variante do coronavírus em Manaus, no Amazonas, o Brasil entra em estado de alerta para o risco que representa essa cepa, a B.1.1.28 (K417N / E484K / N501Y).
Estima-se que a nova cepa tenha um potencial de transmissão superior ao das demais. E não há como prever que tenha sido isolada no estado amazonense.
“Se chegou ao Japão, pode estar circulando em outro lugar do Brasil”, alerta o pesquisador Felipe Naveca, integrante do Instituto Leônidas e Maria Deane, que atua junto à Fundação Fiocruz, e está envolvido nos estudos sobre mutações de vírus no estado do Amazonas.
"A variante de Manaus, ao que tudo indica, é nova e surgiu no Brasil. É diferente da variante encontrada em São Paulo, que é exatamente igual à de Londres. Ela tem uma mutação que foi encontrada na variante achada na África do Sul e uma igual à encontrada no Reino Unido, que dá maior chance de transmissão. Tem sido estimado entre 50% a 70% mais transmissível”, diz o médico infectologista pernambucano Bruno Ishigami.
O infectologista alerta para o problema da alta transmissão: “Quanto mais gente transmitindo, mais pacientes terão formas graves e mais sobrecarga será vista no sistema de saúde.”
Inicialmente detectada no Japão, em pessoas com histórico de passagem por Manaus, essa variante tem origem na Amazônia brasileira. Naveca indica que a nova cepa pode já estar presente em outras partes do Brasil e não descarta que seja a predominante no Amazonas, onde a pandemia está causando estragos.
Há dias com o sistema de saúde colapsado, o estado viu, nesta quinta-feira (14), acabar o estoque de oxigênio para dar suporte às centenas de pacientes internados.
"Não posso garantir que seja o caso (de ser mais transmissível), mas existe essa possibilidade devido às mutações que apresentou na posição E484K e N501Y (da proteína Spike), que já estavam associadas a este maior potencial de transmissão. Por isso, é muito provável que sim (é mais contagiosa)”, diz o pesquisador.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), por sua vez, a descreveu como uma "variante preocupante", que poderia impactar a resposta imunológica.
"O vírus, ao se multiplicar, pode sofrer alguma alteração do material genético. Isso significa que pode alterar os componentes que vão surgir a partir desse material genético. Uma das questões em relação a essa variante é a possibilidade de ela conseguir escapar de alguma forma da nossa resposta imune. Aí fica uma preocupação se vai prejudicar a vacina, se a pessoa pode se reinfectar mais vezes. Mas tudo isso são só hipóteses, nada ainda foi confirmado”, explicou Ishigami.
"Comparamos as amostras e vimos que as amostras amazonenses eram ancestrais da variante encontrada no Japão, mas com uma grande distância genética, o que chamou muito a atenção. Apesar de ser descendente das linhagens que circulam no Amazonas, ela acumulou muitas mutações nesse período de novembro até início de janeiro. Participei de uma reunião da OMS e, até o momento, não há evidências de que essa linhagem prejudique a resposta à vacina”, detalha Naveca, que agora pesquisa se essa variante é predominante no momento no estado do Amazonas.
"Esse percentual (da presença da variante nos novos casos) só saberemos quando concluirmos o sequenciamento de dezembro, (mas sua ancestral) é responsável por mais de 50% dos casos de Covid na Amazônia. Com os números de dezembro, vamos atualizá-lo e provavelmente vai aumentar”, diz ele, acrescentando que a situação de Manaus não se deve apenas a uma variante.
“Temos um aumento de casos já previstos por conta das festividades de final de ano e porque estamos no período de transmissão de vírus [respiratórios]. Tudo isso somado levou a esta situação. Precisamos do apoio urgente da população para reduzir a transmissão e interromper a evolução do vírus."
Cuidados
Um vírus mais transmissível significa que, supostamente, ele apresenta propriedades que podem facilitar a ligação ao organismo humano e, consequentemente, a infecção ou ainda que consiga ter uma replicação viral mais rápida, fazendo com que um infectado transmita mais.
Como se proteger dessa variante? “A máscara continua a proteger de todas as variantes. Isso é uma coisa que não muda e não vai mudar”, diz o infectologista Bruno Ishigami. O distanciamento social e a lavagem frequente das mãos também seguem na cartilha de recomendações.