Separadas por Trump, famílias do Oriente Médio contam os dias para era Biden
Biden se comprometeu a revogar decreto presidencial que proíbe a entrada no território dos EUA de cidadãos de vários países predominantemente muçulmanos
A síria Dahuk Idriss aguarda ansiosamente a chegada de Joe Biden à Casa Branca: ela finalmente poderá visitar seu filho, a quem não vê há quatro anos, devido a um polêmico decreto de imigração do presidente Donald Trump.
Biden se comprometeu a revogar este decreto presidencial de 2017 que proíbe a entrada no território dos Estados Unidos de cidadãos de vários países predominantemente muçulmanos, incluindo a Síria, um país em guerra.
"Conto os dias para conseguir meu próximo visto", diz esta mãe síria, em sua sala de estar em Damasco, cercada por fotos de família.
Desde que seu filho foi estudar nos Estados Unidos em 2011, Dahuk Idriss, uma professora de química aposentada, viajou para Washington em 2015 e depois no final de 2016.
A mulher de 60 anos é uma das dezenas de milhares de pessoas afetadas por este decreto - chamado "Muslim ban" por seus detratores - adotado por Trump uma semana após sua posse em janeiro de 2017.
Depois de múltiplas versões e recursos, o texto fechou as fronteiras do país para cidadãos de Síria, Irã, Iêmen, Líbia e Somália, entre outros.
"É uma vergonha", diz Idriss. "Milhares de mães em todo mundo, como eu, têm apenas um desejo: ver o filho novamente".
E a decisão de Biden de abolir esse decreto "mais uma vez trará alegria para essas milhares de mães", acrescenta.
"Morrer sozinha"
Viajar da Síria para o exterior, em guerra desde 2011, é muito complicado, pois vários países romperam relações diplomáticas com Damasco.
Para obter o visto, alguns precisam fazer isso em um país vizinho, um processo ainda mais complicado, devido à pandemia do coronavírus.
Como Dahuk Idriss, Lamees Jadeed espera que as promessas de Biden sejam cumpridas.
"Talvez eu esteja mais impaciente do que o próprio Biden para que ele se torne presidente", diz a mulher com um sorriso.
Sua filha Nawwar, de 38 anos, está nos Estados Unidos desde 2015 graças a uma bolsa de estudos. Solicitou asilo e, enquanto aguarda uma resposta, não pode deixar os Estados Unidos.
A senhora Jadeed viajou ao Líbano em 2018 para solicitar um visto, que foi rejeitado. Não vê sua filha há mais de quatro anos.
"Tenho medo de morrer sozinha, sem vê-la novamente", diz esta senhora de 79 anos.
Um medo compartilhados por outras pessoas em Trípoli, ou em Teerã.
Para se verem novamente, algumas famílias fazem viagens complexas.
Mariam e Abdelhadi Reda, um casal de septuagenários líbios, organizaram reuniões familiares na Turquia, apesar do custo das passagens aéreas e hotéis.
Eles sonham em visitar seus netos em Detroit (norte dos Estados Unidos), onde mora sua filha Elham, uma enfermeira de 49 anos.
"Essa proibição (de Trump) é injusta e totalmente injustificada", lamenta Mariam, uma professora de inglês aposentada. "Sinto falta da América", acrescenta.
Ela e o marido estudaram nos Estados Unidos, onde nasceu a filha, de nacionalidade americana.
Em Teerã, Mahnaz lamenta não poder estar com sua filha Neda quando esta deu à luz em Los Angeles em 10 de setembro de 2018.
"Meu primeiro neto. Eu estava pronta para viver aquele momento magnífico com minha filha. Sonhei e planejei!", relata esta mulher de 62 anos.
Na ausência de uma embaixada dos EUA em Teerã - os dois países romperam suas relações em 1979 -, Mahnaz viajou para a Armênia para obter um visto. Tudo em vão.
E ela só pôde encontrar seu neto Kian nove meses depois, quando sua filha foi visitá-la no Irã.
"Espero que Biden acabe com essa lei", diz Mahnaz.
"Quem ordenou tudo isso não é uma pessoa normal e não liga para as consequências humanas de suas decisões", afirma.