Mamulengo Arteiro é canal no Youtube dedicado à tradicional expressão nordestina
Projeto de mestrado realiza registro documental do teatro mamulengo para dar mais visibilidade à brincadeira
Foi ao orientar um trabalho de conclusão de curso que a fotógrafa, produtora cultural e professora universitária Valéria Gomes 'pariu' a ideia do canal Mamulengo Arteiro.
Tudo aconteceu quando Valéria despertou para o esquecimento de uma expressão artística da cultura popular regional: o teatro de mamulengo, arte que não há muito tempo estava presente em todas as festas, do Carnaval ao Natal pernambucano, mas que, com o passar dos anos, foi perdendo protagonismo.
Resolveu, então, aproveitar sua entrada no Mestrado Profissional em Indústrias Criativas da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) para realizar um registro documental dessa arte e dar mais visibilidade à brincadeira.
“Comecei, inicialmente, a observar isso, por que eles estavam tão esquecidos? Por que eles não tinham mais essa relação aqui na Capital? Já que na Zona da Mata ainda continua muito forte”, disse. “Dei início ao mestrado em 2019 e percebi que nenhum dos mestres mamulengueiros tinham grande visibilidade nas redes sociais, que é onde o mundo atual gira em torno”, completou.
A criação do canal no Youtube, sem fins lucrativos, visa preencher essa lacuna e concentrar as informações dessa expressão popular no nosso Estado para resgatar essa brincadeira ao patamar de antes.
A pesquisa da produtora cultural se baseou em uma análise de conteúdo de oito canais da plataforma de vídeos que falam sobre o mamulengo. “Descobri que a grande maioria desses canais não é específice para essa cultura.
Eles usavam a metodologia do teatro mamulengo para fazer campanhas publicitárias, com todo o arcabouço lúdico do teatro para promover algumas ações”, relatou. A partir desse estudo, Valéria construiu uma linguagem própria para o mamulengo tradicional e moldou diversos conteúdos que formam o Mamulengo Arteiro.
“O Mamulengo Arteiro traz o diferencial de resgate dos mestres antigos, através de entrevistas e documentários”, constata a pesquisadora. No canal, ainda há a “Borogodó News”, espécie de jornal informativo na linguagem do mamulengo que relata o que está acontecendo dentro daquele universo. De acordo com Valéria, a grande maioria das pessoas que acessam o canal têm vivência nessa cultura, sejam mestres ou brincantes.
Valéria participa de todos os processos de produção do canal, da escolha do assunto ou entrevistado à filmagem, inclusive manipulando uma boneca de mamulengo, e conta com duas pessoas na equipe auxiliando seu trabalho: Silvio Francis e Marina Araújo.
“Os grandes mestres desse ofício estão morrendo e a minha preocupação é justamente salvaguardar essa memória para as novas gerações, porque se ninguém fizer isso, vai se perder essa história, e também para estimular dentro das famílias que os herdeiros entrem nessa cultura”, disse. A pesquisadora complementa explicando que a arte do Mamulengo é repassada oralmente, por convívio familiar ou de mestre para aprendiz.
Alexandre Figueirôa, orientador da pesquisa, atenta para outra característica importante do projeto. “Além do resgate dessa manifestação cultural riquíssima e ainda presente em nosso Estado, ela promove uma atualização muito importante dessa linguagem artística. Ao utilizar as novas ferramentas de produção e difusão audiovisual, ela demonstra que a tradição e a modernidade podem estabelecer um diálogo criativo e inovador e ser, inclusive, estendido a outros folguedos populares que precisam ser revitalizados e conhecidos pelas novas gerações”. A pesquisadora pretende unir todas as entrevistas para construir um documentário em longa-metragem.