Vacinação

Conselho defende arquiteta vacinada contra Covid no Recife e é criticado em rede social

MPPE abriu investigação e SES-PE alega que profissional foi vacinada por 'atuar diretamente nos ambientes de UTI e enfermarias'

Hospital de Referência à Covid-19 Unidade Boa Viagem - Aluísio Moreira/SEI

O Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco (CAU/PE), entidade que representa a categoria profissional no Estado, emitiu nota pública para prestar apoio à arquiteta e urbanista vacinada contra a Covid-19 no Recife. Ela trabalha no Hospital de Referência Unidade Boa Viagem, localizado em Boa Viagem, na Zona Sul da capital pernambucana. A arquiteta foi vacinada na terça-feira (19).

A publicação feita no Instagram oficial do CAU/PE, na quarta-feira (20), recebeu diversas críticas, inclusive de usuários que se identificaram como arquitetos. No texto, o conselho ressalta motivos que justificariam a imunização da profissional, como o fato de ela trabalhar diretamente na unidade hospitalar e, por isso, estar "sujeita à contaminação". 

O caso da vacinação da arquiteta gerou polêmica esta semana e tornou-se alvo de investigação por parte do Ministério Público de Pernambuco (MPPE). O órgão prometeu fechar o cerco contra os "fura-filas" em todo o Estado e intensificar a fiscalização, além de solicitar esclarecimentos à Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE). 

Em nota, a pasta informou que a profissional foi diagnosticada com Covid-19 duas vezes desde que começou a a trabalhar na unidade de saúde.

“O CAU/PE [...] vem repudiar o tratamento dispensado na divulgação do fato e externar seu integral apoio à profissional. Atuando diariamente em unidade hospitalar, a profissional está sujeita à contaminação em escala compatível com todos os profissionais de saúde que trabalham nos espaços hospitalares destinados aos pacientes com Covid", disse o conselho na publicação.

"A justificativa do injustificável. Vocês não têm vergonha?", publicou um internauta no post da nota de apoio. "Existem diversos outros profissionais que trabalham em unidades de saúde e ainda não puderam ser vacinados. Não é uma justificativa plausível. Um absurdo o posicionamento do CAU", escreveu outra.

"Que vergonha esse posicionamento do conselho. Como arquiteta, NÃO concordo e compactuo com essa atitude", disse uma terceira. "Uma vergonha o CAU apoiar isso", postou outra seguidora.

"Cheio de médico, enfermeiro, técnico morrendo na linha de frente e vocês dando suporte a uma pessoa que no máximo fez uma planta baixa de biombo de UTI?", disparou um outro usuário.
 

Na nota, o CAU/PE acrescenta que a arquitetura e urbanismo, "por sua dimensão e pluralidade, possibilita aos profissionais, a ocupação de cargos e o desempenho de variadas funções, em ambientes e setores diversos, entre eles unidades de saúde".

O conselho segue o texto afirmando que "se solidariza" com a profissional. "A arquiteta e urbanista que, assim como outros profissionais que integram o sistema de saúde e, observando as normas de saúde e segurança no trabalho, devem tomar todos os cuidados preventivos para assegurar o bem estar coletivo", finaliza.

O que diz a Secretaria Estadual de Saúde
A Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco emitiu nota esclarecendo o motivo da vacinação da arquiteta e ressaltou o local de trabalho da profissional. 

Segundo a pasta, a profissional foi vacinada por "atuar diretamente nos ambientes de UTI e enfermarias da unidade de saúde".

"A arquiteta testou positivo para Covid-19 por duas vezes, desde que passou a integrar a equipe da unidade, em abril do ano passado. O Hospital de Referência à Covid-19 Unidade Boa Viagem reforça que a vacinação da arquiteta em nada interfere na disponibilidade da vacina aos profissionais das áreas de assistência direta do Hospital", acrescentou a SES-PE.

Ainda na nota, a secretaria esclareceu que, como a unidade atende exclusivamente pacientes com Covid-19, todos os profissionais de saúde e que atuam diretamente em ambientes com risco de infecção deverão ser imunizados.

A abrangência inclui todos aqueles que trabalham "na manutenção física do imóvel ou de maquinários como aparelhos de hemodiálise e demais funções em que haja contato, mesmo que indireto com pacientes".

Leia a íntegra da nota da SES-PE:

A direção do Hospital de Referência à Covid-19 Unidade Boa Viagem (antigo Alfa), que atende pacientes confirmados ou suspeitos do novo coronavírus, informa que a profissional faz parte da equipe do hospital e foi vacinada por atuar diretamente nos ambientes de UTI e enfermarias da unidade de saúde.

A arquiteta testou positivo para Covid-19 por duas vezes, desde que passou a integrar a equipe da unidade, em abril do ano passado. O Hospital de Referência à Covid-19 Unidade Boa Viagem reforça que a vacinação da arquiteta em nada interfere na disponibilidade da vacina aos profissionais das áreas de assistência direta do Hospital.

A unidade esclarece, ainda, que por atender exclusivamente pacientes com Covid-19, prevê a imunização de todos os profissionais que são da saúde, mas que também atuem diretamente em ambientes com risco de infecção, seja na manutenção física do imóvel ou de maquinários importantes, como aparelhos de hemodiálise e demais funções em que haja contato, mesmo que indireto com pacientes.

Importante lembrar que a unidade, que estava fechada desde 2018, foi requerida administrativamente pelo Governo do Estado com o objetivo de ampliar a assistência oferecida aos doentes infectados pelo novo coronavírus no Estado, passando por ampla reestruturação e reforma completa. A unidade continua com a realização de obras de manutenção e intervenção constantes das equipes das quais a arquiteta é uma das gestoras.

Leia a íntegra da nota do MPPE:
O Ministério Público de Pernambuco (MPPE), por meio da 34ª Promotoria de Defesa da Saúde da Capital, registrou denúncia e instaurou processo de investigação sobre o caso de possível violação dos critérios de vacinação estabelecidos pelo Plano Nacional Imunização no Hospital de Referência à Covid-19 Unidade Boa Viagem, na Zona Sul do Recife.

A promotora de Justiça Helena Capela, solicitou que a Secretaria Estadual de Saúde e a direção da unidade de saúde se pronunciem em 48 horas esclarecendo se a profissional cumpria os critérios de vacinação estabelecidos nacionalmente e nas normas estaduais de vacinação.