EUA

Organizadores de ato que terminou com invasão do Capitólio trabalharam para campanha de Trump

No total, os organizadores do ato receberam US$ 2,7 milhões (R$ 14,8 milhões) da campanha de Trump

Invasão ao Capitólio - Foto: Alex Edelman/AFP

Parte dos responsáveis por organizar a manifestação a favor de Donald Trump em Washington no último dia 6 –e que culminou com a invasão do Congresso americano– tinha trabalhado anteriormente na campanha do republicano.

As informações fazem parte da prestação de contas da própria campanha e foram reveladas pelo Center for Responsive Politics, entidade que analisa o financiamento dos políticos nos Estados Unidos.

No total, os organizadores do ato receberam US$ 2,7 milhões (R$ 14,8 milhões) da campanha de Trump. As verbas foram pagas até 23 de novembro do ano passado, quando foi realizada a última atualização da prestação de contas da campanha.

Naquela data, o protesto em Washington ainda não tinha sido anunciado oficialmente. Assim, não é possível determinar se o dinheiro recebido pelo grupo tem ligação direta com a marcha na capital ou se a campanha de Trump estava apenas pagando por serviços já prestados e sem ligação com o ato.


A manifestação oficialmente tinha como objetivo protestar contra supostas irregularidades na eleição de 3 de novembro, que deu vitória ao democrata Joe Biden. Na prática, porém, a intenção era pressionar o Congresso americano a ignorar o resultado das urnas para permitir que Trump seguisse na Casa Branca por mais quatro anos.

Durante o evento, o próprio republicano insuflou os manifestantes a irem até o Capitólio (a sede do Congresso) para pressionar deputados e senadores –que estavam iniciando o processo para confirmar a vitória de Biden. A multidão não apenas foi até o prédio, mas invadiu a sede do Legislativo americano, interrompendo a sessão e obrigando os congressistas a se esconderem.

Exatamente por ter insuflado a multidão contra o Capitólio, Trump enfrenta um segundo processo de impeachment, que já foi autorizado pela Câmara e agora aguarda o julgamento no Senado. Apesar da invasão, a vitória de Biden foi confirmada na madrugada do dia 7, e o democrata tomou posse na última quarta (20).

A manifestação de 6 de janeiro aconteceu no National Mall, uma espécie de grande praça no centro da capital onde ficam os principais monumentos da cidade, incluindo o Capitólio. É semelhante, portanto, à Praça dos Três Poderes, em Brasília.
Por ser um terreno federal, a organização do protesto contra a eleição de Joe Biden precisou pedir permissão ao Serviço Nacional de Parques, que administra a área, para a realização do ato.

Nos documentos que pedem essa autorização aparecem oito pessoas que tinham recebido dinheiro da campanha de Trump nos meses anteriores, de acordo com o levantamento do Center for Responsive Politics –as informações foram confirmadas depois pela Bloomberg e pela agência de notícias Associated Press.

É o caso, por exemplo, de Maggie Mulvaney, que foi diretora de operações financeiras da campanha de Trump (ela recebeu US$ 138 mil pelo trabalho). No documento em que pediu autorização para o evento, ela é identificada como "VIP Lead" –o terno em geral é usado para nomear a pessoa responsável por cuidar dos convidados mais importantes do evento.

Ela também é sobrinha de Mick Mulvaney, um ex-deputado republicano que foi chefe de gabinete de Trump na Casa Branca e era o enviado especial dos EUA para a Irlanda do Norte até o dia 6 (ele renunciou ao cargo após a invasão do Capitólio).

Outra pessoa citada nos documentos é Megan Powers, que foi gerente de operações da manifestação em Washington e, antes disso, era a diretora de operações da campanha do republicano (serviço pelo qual ela recebeu US$ 290 mil).
Também aparece nas duas listas o nome de Caroline Wren, uma doadora tradicional do Partido Republicano. Ela recebeu US$ 170 mil para ser a consultora financeira da campanha de Trump e é citada como "VIP Advisor" nos documentos da organização da marcha em Washington.

Um dos responsáveis pela organização do protesto na capital, James Oaks recebeu US$ 126 mil para trabalhar na campanha do republicano. Já Ronald Holden recebeu US$ 72 mil da campanha por um trabalho como consultor no início de 2020 e depois ajudou nos bastidores da manifestação. William Wilson, outro citado nos documentos do ato, recebeu US$ 6.000 em novembro por um trabalho de consultoria para a campanha.

Também tiveram papel importante na realização da manifestação do dia 6 a dupla Justin Caporale (gerente de produção da marcha) e Tim Unes (gerente de palco). Eles receberam respectivamente US$ 144 mil e US$ 117 mil da campanha de Trump.

Além disso, a empresa dos quais os dois são sócios, Event Strategies Inc, recebeu pagamentos que totalizam US$ 1,7 milhão da campanha republicana. Segundo o Center for Responsive Politics, o envolvimento de pessoas ligadas a Trump na marcha pode ser ainda maior, já que muitos pagamentos não são feitos diretamente pela campanha e sim por outras entidades.

A principal organizadora do protestos, por exemplo, foi a organização sem fins lucrativos Women for America First, que por sua vez já recebeu doações da America First Policies, entidade criada pouco após a vitória de Trump na eleição de 2016 e que tem como objetivo declarado promover as ideias do republicano.