Morre Tarcísio Pereira, fundador da Livro 7, por complicações da Covid-19
Notícia foi confirmada pela filha do livreiro
Faleceu na noite desta segunda-feira (25), por complicações da Covid-19, o livreiro Tarcício Pereira, grande representante do cenário literário do Recife e fundador da Livro 7. A notícia foi confirmada pela filha, a empresária Juliana Lins. O enterro será nesta terça-feira (26) no cemitério Morada da Paz. Pereira deixa a esposa, quatro filhos e cinco netos.
Grande entusiasta da cultura e leitura, atualmente, o jornalista e historiador, que estava com 73 anos, comandava a Superitendência de Marketing da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe).
Reconhecimento e gratidão a Tarcísio
O governador do Estado, Paulo Câmara, lamentou, em nota, a morte de Tarcísio. "Pernambuco perdeu hoje o editor Tarcísio Pereira, um potiguar que marcou época e influenciou gerações com a sua icônica Livraria Livro 7, na Boa Vista, Centro do Recife. A Livro 7 abriu as portas em 1970 num espaço de 20 metros quadrados e, graças ao amor de Tarcísio pela literatura, se transformou num complexo cultural registrado pelo Guiness Book como a maior livraria do Brasil. Quero expressar aqui meu pesar aos familiares e amigos de Tarcísio, nesse momento de dor".
O Prefeito da cidade do Recife, João Campos também lastimou a perda. "É com muita tristeza que recebi a notícia do falecimento de Tarcísio Pereira, jornalista e historiador que marcou a sua caminhada no Recife compartilhando o amor que tinha pela leitura. Fundou a Livro 7 em 1970, na Boa Vista, um espaço que virou um dos principais pontos de embarque da nossa cidade para os muitos mundos que a literatura proporciona. Minha solidariedade à sua família, a amigos e a todos aqueles que fizeram de sua livraria um espaço querido e cheio histórias."
O Secretário de Cultura do Recife, Ricardo Mello, expressou suas condolências, também, por nota. "Tarcísio Pereira escreveu seu nome na história do Recife, porque faz parte de muitas vidas, de gerações a quem abriu portas para a emoção da convivência. Convivência com as palavras, as pessoas, o conhecimento. E também o direito ao sonho. Tudo isso um espaço como a Livro 7 oferecia a todos nós. Essa página da cultura recifense, de quem acredita e faz da arte um ofício de vida, tão bem personificada por Tarcísio, não pode e não vai ser fechada. O legado é como uma inspiração, para quem vive e luta pela cultura efervescente da nossa cidade, hoje tão impactada por este momento difícil que o mundo atravessa. Hoje mais triste com a perda de alguém como Tarcísio Pereira da Livro 7. Obrigado, Tarcísio, que saibamos seguir este belo e inesquecível exemplo de amor à arte".
Diogo Guedes, editor da Cepe, também lamentou a morte de Tarcísio e ressaltou seu inestimável legado para a cultura e para o cenário literário pernambucano. "Tarcísio foi um visionário quando criou a Livro 7, uma livraria que antecipou em décadas o que se tornaria tendência de certo modo. Um livreiro que acreditava no livro, nas conversas, nos encontros como algo essencial para o desenvolvimento da leitura, da literatura. E Tarcísio continuou esse trabalho na Cepe coordenando nosso marketing, sempre com a mesma empolgação, mesmo envolvimento, com a ideia de tornar o livro algo acessível para as pessoas. É uma perda imensa para os pernambucanos. Uma tristeza".
Grande amigo de Tarcísio, o cartunista, chargista e músico Lailson de Holanda, foi mais um que se ressentiu com o falecimento do livreiro. “É uma perda enorme para as possibilidades futuras da cultura. Tarcísio é um ícone referencial para todo mundo que fez cultura a partir dos anos 70. É um mecenas e um incentivador. Agradeço a presença dele entre nós. Ele deu muito para a arte e a cultura. É uma lenda. Fico feliz de tê-lo conhecido pessoalmente”, declarou Lailson de Holanda.
Livro 7
A Livro 7 teve a sua origem em uma pequena loja, na Rua Sete de Setembro, no bairro da Boa Vista. Foi inaugurada no dia 27 de julho de 1970. Era um ponto de encontro para estudantes, artistas, intelectuais e amantes dos livros em geral, tornando-se um marco para as gerações literárias de Pernambuco.
Em 1978, mudou-se para um grande galpão, na mesma rua, com o objetivo de ser a maior livraria pernambucana. Com os seus cavaletes e estantes, ocupando um espaço de 1.200 m2. Segundo o Guiness Book, tornou-se, entre 1970 e 1980, por cinco anos seguidos, a maior livraria do Brasil, em número de títulos (60 mil) e extensão de prateleiras.
Após sua expansão, passou a ser, além de uma referência para a intelectualidade pernambucana, um ponto turístico da cidade. Muitas pessoas iam à livraria só para conhecê-la e serem fotografadas junto ao seu acervo.
A Livro 7 foi pioneira em conceitos e costumes atualmente utilizados por grande livrarias, como espaços amplos, cadeiras para leitura, além de diversos eventos culturais e noites de autógrafos. Também chegou a ter filiais nos estados da Paraíba, Alagoas e no Ceará.
Mesmo com todo o prestígio e reconhecimento do público e da mídia, por uma série de motivos, o empreendimento entrou em crise financeira e fechou suas portas em 1998.