Folclore brasileiro é repaginado em 'Cidade Invisível', série da Netflix
Thriller policial com elementos fantásticos, produção conta com Marco Pigossi e Alessandra Negrini no elenco
E se lendas como a Cuca, o Saci-Pererê e o Curupira existissem de verdade e vivessem entre nós? É esse o exercício de imaginação que levou o cineasta Carlos Saldanha a criar a trama de “Cidade Invisível”, nova série brasileira que estreia nesta sexta-feira (5) na Netflix, estrelada por nomes como Marco Pigossi e Alessandra Negrini.
Com uma primeira temporada de sete episódios, o seriado marca a estreia de Saldanha em um projeto em live-action e para o streaming. Diretor brasileiro com uma carreira internacional proeminente, o carioca é conhecido por animações de sucesso, como “Rio”, “A Era do Gelo” e “O Touro Ferdinando”.
Em busca de uma história que o fizesse voltar a trabalhar no seu país de origem, Saldanha acabou mergulhando no vasto universo do folclore nacional. “Mesmo morando nos Estados Unidos, a cultura brasileira está muito dentro de mim. Pensei em usar as lendas do Brasil, que são tão ricas e interessantes, mas trazendo uma linguagem contemporânea”, comenta o showrunner da série.
Nesta adaptação atualizada da nossa mitologia, criaturas sobrenaturais andam misturadas aos humanos, escondendo seus poderes e verdadeiras identidades. Eric, um policial ambiental interpretado por Marco Pigossi, se depara com o submundo dos mitos após a morte da esposa num incêndio na floresta. Mesmo sem o aval do seu superior, ele passa a investigar o ocorrido, que parece estar ligado ao surgimento misterioso de um boto-cor-de-rosa (animal de água doce) morto na praia.
“É realmente um thriller policial e os elementos fantásticos vão aparecendo, aos poucos, para conduzir a história. Foi muito interessante a ideia de unir esses dois mundos, porque acaba abrangendo um público maior”, afirma Pigossi, cujo personagem vive o desafio de lidar com o luto, criar sozinho a filha e, ao mesmo tempo, enfrentar seres com habilidades extraordinárias.
Quem assistir aos episódios encontrará figuras clássicas, já trabalhadas em outras obras audiovisuais, mas com roupagens diferentes. É o caso da Cuca, vivida por Alessandra Negrini. Com a divulgação do trailer da série, em janeiro, alguns espectadores estranharam a caracterização da personagem e reclamaram nas redes sociais.
“Eu já esperava que causaria esse burburinho todo. Na lenda original, a Cuca é uma bruxa que pode assumir várias formas. O Monteiro Lobato, no Sítio do Picapau Amarelo, escolheu um jacaré, mas o Carlos preferiu que ela se transformasse em uma borboleta, graças a Deus”, brincou a atriz.
Para viverem entre os mortais sem serem percebidos, os mitos adotam identidades comuns. A Cuca, por exemplo, utiliza o nome Inês e é dona de um bar. Já o Saci, interpretado por Wesley Guimarães, mora em uma ocupação sem-teto, usa prótese na perna e uma bandana vermelha no lugar do gorro. Embora causem alguns transtornos na vida de Eric, esses seres não são necessariamente vilões.
“Achei que eu tinha que trazer humanidade para eles. Se todo mundo tem um lado bom e um lado mau, porque com as entidades seria diferente? Temos um país gigante e multicultural. Cada lenda ganha uma roupagem diferente dependendo da região. Então, resolvi pegar cada uma delas e criar minha própria versão”, explica Saldanha.
A expectativa do produtor e do elenco é de que, com a série, as novas gerações possam se reconectar com o folclore. “Eu mesma tive pouquíssimo contato com esse tema depois que cresci e saí da escola. A série é também uma forma de levar para os mais jovens um pouco de conhecimentos sobre a própria cultura deles”, defende Jéssica Córes, que vive a encantadora sereia Iara.
Mas não é só o público nacional que Saldanha pretende alcançar com “Cidade Invisível”. Sabendo que com a Netflix o produto chegará a 190 países, o cineasta diz ter criado uma trama global. “Não é uma história regionalista. A base é um drama policial e familiar, temáticas que são universais. O meu intuito sempre foi criar o melhor material possível dentro do contexto de brasilidade, mas que o mundo inteiro possa consumir. Quero que o brasileiro tenha orgulho e os estrangeiros fiquem curiosos para ver”, aponta.