PF faz operação contra garimpo ilegal em terra yanomami
Polícia identificou ao menos 20 pistas de pouso clandestinas
Uma operação contra o garimpo ilegal em terras yanomami identificou ao menos 20 pistas de pouso clandestinas, informou a Polícia Federal, nesta sexta-feira (29), observando que os garimpeiros dessa região amazônica expõem milhares de indígenas ao novo coronavírus.
Os agentes cumpriram dez mandados de busca e apreensão, informou a PF em nota, sem especificar se houve algum detido.
A operação foi decidida com base em observações de satélite e material apreendido pelo Exército, o que permitiu identificar "ação de pilotos de aeronaves e helicópteros que seriam responsáveis pelo frete de pessoas e de insumos que viabilizariam a extração ilegal de minério".
A investigação detectou "ao menos 20 pistas de pouso ilegais no interior da Terra Indígena Yanomami, as quais viabilizariam a expansão da atividade mineradora irregular na região", situada entre os estados do Amazonas e Roraima, na fronteira com a Venezuela.
Segundo a PF, a expansão da mineração ilegal "contribuiria para a degradação ambiental de quase 6.000 hectares verificada entre os anos de 2018 e 2020 na reserva indígena", a maior do país, com 96 mil km² e cerca de 27 mil indígenas.
A PF "estima que haja cerca de 20 mil garimpeiros atuando no local, graças, também, à logística área ilegal de bens e pessoas".
Esse número foi levantado em junho do ano passado por ambientalistas de ONGs, embora o governo do presidente Jair Bolsonaro afirmasse que os garimpeiros não passavam de 3.500.
O comunicado policial alerta que a presença de garimpeiros ilegais na área pode causar "infecção e morte de milhares de Yanomami, no atual momento, em razão do coronavírus".
Na quinta-feira, organizações indígenas Yanomami relataram a morte de nove crianças com sintomas de coronavírus nas comunidades de Kataroa e Waphuta, onde estariam "outras 25 crianças com os mesmos sintomas e em estado grave".
O Ministério da Saúde indicou que estava verificando "a veracidade" dessas informações.
Ao menos 24 yanomami morreram da covid-19, de um total de 941 indígenas mortos pelo vírus em todo o Brasil, segundo o mais recente relatório da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
Bolsonaro está sob forte pressão nacional e internacional devido à sua política ambiental, favorável à expansão da mineração e da agricultura na floresta tropical.
O país registra mais de 221 mil mortes por coronavírus, saldo superado apenas pelos Estados Unidos. Entre os 27 estados brasileiros, o Amazonas é o mais afetado em termos relativos, com 185 óbitos a cada 100 mil habitantes, quase o dobro da média nacional (105/100 mil habitantes).