Palmeiras é recebido com festa e aglomeração após título da Libertadores
A aglomeração na recepção ao elenco dá continuidade a uma série de desrespeitos às medidas de controle da pandemia que envolvem a decisão da Libertadores
Com mais de 13 mil novos casos de Covid-19 e 200 óbitos registrados nas últimas 24 horas no estado de São Paulo, o Palmeiras foi recebido com aglomeração na chegada ao Centro de Treinamento (CT) da equipe, na Barra Funda (zona oeste da capital), após o título da Libertadores conquistado neste sábado (30) no Rio de Janeiro.
Mais de mil torcedores -a maioria jovens (inclusive crianças), sem máscara e sem respeitar qualquer distanciamento social- se reuniram no local. Por isso, foi montado um cordão com grades de ferro, o clube mobilizou uma equipe de seguranças e parte da avenida Marquês de São Vicente foi interditada.
Os presentes tiveram de aguardar até a madrugada, depois das 2h, para verem a chegada dos jogadores. Em um ônibus, eles passaram por uma fila de sinalizadores, fogos de artifício e bandeiras até entrarem na casa alviverde.
Inicialmente, o clube havia previsto um trio elétrico para a festa, mas cancelou os planos. Do lado de fora, foi possível ver
um canhão de luz aceso dentro do CT e uma chuva de fogos nas cores do clube.
Depois, o elenco levou a taça da Libertadores até os portões e foi recebidos pelos fãs. A festa, que começou ainda antes da partida, por volta da hora do almoço, nos arredores do estádio, continuou madrugada adentro.
Também houve aglomeração no aeroporto de Guarulhos, onde o time desembarcou.
Donos da empresa Crefisa, principal patrocinadora do Palmeiras, Leila Pereira e o marido, José Roberto Lamacchia, chegaram ao centro de treinamento por volta de 23h30. Ela, que é conselheira do clube e cotada como candidata à presidência, foi aplaudida pelos torcedores no local. Eles gritaram "tia Leila" e Leila eu te amo", em referência aos investimentos da Crefisa na agremiação.
A reunião de torcedores do Palmeiras ocorreu mesmo com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo prevendo aglomerações para o evento e em tese ter criado estratégias para evitá-las.
Antes da partida, a Polícia Militar de São Paulo se reuniu com as torcidas do clubes e divulgou a chamada "Operação Final da Libertadores". Segundo informou a secretaria, os esforços estavam focados nos arredores do estádio palmeirense, com atenção para a rua Palestra Itália.
A decisão foi de não isolar a área antes, durante ou depois da partida. A PM também não informou quantos policiais seriam deslocados para a operação.
O aeroporto de Guarulhos, onde o elenco palmeirense desembarcou após a conquista, por meio da sua assessoria de imprensa, afirmou que faria o desembarque do campeão pela pista, e não pelo saguão.
O capitão Matheus, da PM, disse que a força designou três pelotões para a operação da noite deste sábado, dois no CT (onde um trecho da via foi fechado) e um no aeroporto.
"A nossa missão é garantir a segurança das pessoas e da delegação. Toda vez que tem situação de aglomeração, o máximo que nós fazemos é dar ciência para a secretaria de vigilância sanitária para ver se eles tomam as providências necessárias", afirmou.
Renato Trevellin, comerciante de 44 anos, chegou com a esposa, um filho e uma filha por volta das 22h nos arredores do centro de treinamento. Disse que escolheu o local por ser mais sossegado que o estádio, mas que evitaria se aproximar dos focos de aglomeração.
"Acho difícil evitar de vir, porque é um título que faz 20 anos que a torcida espera e já era de se esperar [que tivesse festa]. Eu tenho consciência e não vou lá no meio [da aglomeração], mas as pessoas, infelizmente, muitas nem usam máscara", comentou.
"Eu tomo os cuidados, tenho meu álcool em gel, aqui entre nós [ele e dois amigos] fico mais à vontade, mas quando fica um contingente maior, eu ponho a máscara", afirmou o bancário Edmar Zanatta, 48.
Guilherme, estudante de 17 anos, foi com a mãe para a festa após assistirem à partida em casa, com a família. "Nessas horas, não passa pela cabeça. O título é superior à Covid", disse.
A aglomeração na recepção ao elenco dá continuidade a uma série de desrespeitos às medidas de controle da pandemia que envolvem a decisão da Libertadores. Segundo a CET (Companhia Estadual de Trânsito), também houve aglomeração na avenida Marquês de São Vicente, que ficou interditada no sentido Barra Funda/Lapa, após o apito final.
Os arredores do estádio Allianz Parque também estavam tomados por torcedores para ver o jogo e depois comemorando o título alviverde, sem distanciamento social e muitos sem máscara. No embarque do time para o Rio de Janeiro, houve presença de torcida para apoiar o elenco nos arredores do aeroporto de Guarulhos.
Antes da partida deste sábado, a vigilância sanitária do Rio de Janeiro atuou em bares e restaurantes que vendiam bebida e alimentos para pessoas em pé, ao redor do estádio do Maracanã. Também dentro do palco da final houve aglomeração nas arquibancadas.
Não houve venda de ingressos para o jogo, mas a Conmebol (confederação sul-americana) aguardava até 5.000 pessoas no Maracanã, entre torcedores e familiares convidados pelos clubes, representantes de patrocinadores da entidade, jornalistas e funcionários, com a promessa de que medidas preventivas contra a Covid-19 seriam adotadas.
Tudo isso acontece quando o país inteiro enfrenta um dos momentos de maior perigo da pandemia, tendo registrado até aqui mais de 223 mil mortes e 9,1 milhões de casos. Aos finais de semana, a cidade de São Paulo, assim como todo o estado, ficam na fase vermelha da quarentena para tentar controlar a pandemia.
Isso significa que apenas serviços essenciais, como supermercados e farmácias, podem estar abertos. Restaurantes e bares não podem atender o público, apenas podem funcionar para entrega e retirada.
Também para tentar conter a pandemia, tanto o governo do estado, quanto a prefeitura municipal de São Paulo cancelaram o ponto facultativo durante o Carnaval, em fevereiro.
Neste sábado (30), o Brasil bateu recorde na média móvel de novos casos de coronavírus nos últimos seis meses.